O Padre Guilhermino Galhano,
em dia de comunhão solene. 1946
O Padre Guilhermino Galhano, integrando o corpo docente da
Escola de Pesca e Comércio de Moçâmedes. 1951
O Padre Guilhermino Galhano, no time de futebol
do Ginásio Clube da Torre do Tombo
O Padre Guilhermino Galhano ministrando no velho campo de futebol de terra batida, a missa campal, por ocasião da passagem da imagem de Nossa Senhora de Fátima, em peregrinação por terras de Angola. 1948.
- Ó Pai Galhano -
O Padre Galhano, ao que creio, chegou a Moçâmedes na 2ª metade dos anos 40. Com uma visão diferente do "munus" de pároco relativamente aos seus
percursores ,cedo se mostrou mais próximo dos seus paroquianos, em
particular das classes mais simples e das crianças. Na sua postura, o
Padre Galhano marcava um certa distância dos " importantes da "vila".
Era frequente ver-se o Padre Galhano, com as suas barbas negras e boina
preta, de batina branca arregaçada até aos joelhos, a participar com os
mais jovens nas "peladas" que se realizavam no descampado entre a Igreja
e o Palácio do Governador. Habilmente passava do futebol ao catecismo.
Adepto do desporto, aos domingos lá estava o Padre Galhano no campo de
futebol misturado com a claque do Ginásio da Torre do Tombo, a incitar
os seus jogadores. Não poucas vezes vimo-lo a acompanhar o Ginásio, até
mesmo nos jogos realizados na vizinha Porto Alexandre, contra o
Independente.
Belenenses de alma e coração, ao chegar a
Moçâmedes, logo aderiu ao Ginásio da Torre do Tombo, sua delegação, e
tornou-se seu fervoroso adepto.Ali o dragão era a sua " cruz de Cristo",
com o mesmo fundo azul. Mau grado algumas tentativas falhadas de levar
os pescadores a assistir à missa dominical, tal não o impedia de estar
com eles, ao fim do dia, na sede do Ginásio, jogando às cartas, às damas
ou ao dominó.
Nunca se vira em Moçâmedes um Padre com tal
espírito " democrático ". Sabia como poucos lidar com a gente mais
humilde, sem cobrar a ida à missa dominical.
O Padre Galhano
deixou a sua marca na Paróquia de Santo Adrião. Em certa medida, e com
as devidas proporções, o Padre Galhano parecia antecipar no tempo o
espírito do actual Papa Francisco.
Repórter ASA
- Os nossos enfermeiros -
Ao tempo, a Torre do Tombo conheceu dois enfermeiros. Primeiro, o Coelho e mais tarde, o Franco.
O Coelho era " o terror" das crianças. Desde miúdo que nos habituamos a
temer a sua presença. O paludismo era atacado com as dolorosas injecções
de quinino aplicadas pelo Coelho, nem sempre da forma mais
correcta.Muitas crianças ficavam para sempre marcadas com as injecções
agravadas nos seus rabinhos. A "marca do Zorro" como se dizia. Nunca
mais dele se esqueceriam.
Ao que constava o Coelho era muito
amigo da aguardente. Nem sempre estaria nas melhores condições e as
consequências ficavam à vista. No caso do autor, ficamos para sempre com
problemas na perna esquerda, o que viria a condicionar a nossa
actividade desportiva futura .Na época,teve de ir a Luanda fazer
choques eléctricos para poder recuperar a força na perna esquerda.
Minha mãe dizia que quando entrava em casa sentia o meu pé a arrastar-se
pelo corredor. E tanto quanto sei,à época o Coelho nunca foi chamado à
responsabilidade.
Mais tarde, surgiu um novo enfermeiro - o
Franco, negro. Trabalhava no Grémio da Pesca e vivia numa casa na Torre
do Tombo, com a mulher e duas filhas.Dedicado profissional, rapidamente
granjeou simpatias e foi substituindo o nefasto Coelho.
Era o
Franco que tratava dos nosso furúnculos e das feridas que sofríamos nas
nossas brincadeiras e jogos de futebol. Infelizmente, vieram ambos a
sofrer idêntico percalço.
Na época, a bicicleta era o meio de
transporte mais usado.Surgiram entretanto as motorizadas e naturalmente
os dois enfermeiros aderiram à moda e adquiriram motorizadas para
facilitar as suas deslocações em serviço.Por razões que desconhecemos, a
não ser a velocidade na condução das motorizadas, ambos tiverem
acidentes idênticos, resultantes de choques com automóveis em
cruzamentos. Acidentes esses que lhes afectou a vida profissional. Ambos
tiveram de passar a usar próteses nas pernas para toda vida, o que o enfermeiro Franco de todo não o merecia.
Repórter ASA
Repórter ASA
O dia da despedida do Dr Borges ( o 3º ao fundo à dt, a contar da esq para a dt.)
O Padre Guilhermino Galhano, integrando o corpo docente da
Escola de Pesca e Comércio de Moçâmedes. 1948
- Os meus professores do Curso Comercial -
Os jovens da nossa geração estudaram na "velha" Escola Prática de Pesca
e Comércio de Moçâmedes. Designação enganadora pois ali apenas se
ministrava o Curso Comercial.Também lá fomos aluno desde Abril de l948 ,
concluindo o Curso Comercial em Dezembro de l952 , com aproveitamento
de "Bom".
Recordamos os nosso professores de então:
O Dr.
Borges, que era o Director da Escola e leccionava a aula de Comércio,
Contabilidade e Direito Comercial.Coxeava numa das pernas com um
aparelho" que trazia no bolso.Como não pertencia ao grupo dos melhores
desportistas,nem era um fã da Mocidade Portuguesa, deveu-se a ele
concerteza a minha escolha para integrar um grupo de 50 estudantes das
várias escolas secundárias de Angola que em Março de 1953 visitou a
Metrópole. Bom professor, fazia assim justiça ao nosso trabalho.
O
Dr. Rodrigues, "O Calhau" como era conhecido, Professor de Matemática.
Os seus métodos de ensino não conseguiam motivar os alunos para tão
difícil disciplina. O nosso aproveitamento não ultrapassava o 10.
Seguiu-se-lhe o Tenente Faustino, militar que veio prestar serviço na
Fortaleza de São Fernando. Bom professor e bom pescador de garoupas e
meros nos barcos do meu pai. Muito exigente, fez de mim um bom estudante
de Matemática. Tornou-me a Matemática uma disciplina apetecível.
A Dra. Emilia, professora de Português, Francês e Inglês. As suas aulas
eram muito "chatas". Na sua incapacidade para nos ensinar duas línguas
"vivas"´, enchia-nos os cadernos de regras e mais regras de gramática.
Tornou-se enfadonha e festejamos a sua saída.
Sucedeu-lhe a Dra.
Brigitte, esposa do Capitão do Porto. Mulher simpática e bonita, com
métodos pedagógicos inovadores . Nas aulas de francês e inglês passamos a
privilegiar as traduções e retroversões e iniciamos alguma
conversação.A gramática era um mero auxiliar.Os progressos da turma
foram evidentes. Habituamo-nos a pouco e pouco a escrever e falar em
francês e inglês. Quanto ao português ,a Dra. Brigitte privilegiava as
composições redigidas pelos seus alunos.Torna-mo-nos então a atracção das
aulas com as redacções em que apelávamos a uma grande imaginação.Eram
lidas "com suspense" no final das aulas.
Recordamos uma delas,
pela sua originalidade - a génese da palavra "Moçâmedes"...Na minha
imaginação de jovem adolescente via um barco que zarpava a Angra do
Negro, nome então dado à bela baía de Moçâmedes, onde fundeou. Os barcos
iam ali abastecer-se de água e alimentos frescos para as suas
tripulações.Os tripulantes vieram a terra para festejar o acontecimento
numa taberna junto ao mar.Uma solicita jovem fazia as honras da casa e
distribuía canecas de vinho pelas mesas. Já muito animados, os
tripulantes do barco entoavam em coro:" moça mede, moça mede,."
pedindo-lhe para que enchesse os copos de vinho. Assim terá nascido a
génese da designação de Moçâmedes... sem barão.
Escusado será
dizer que o autor foi muito cumprimentado pelos colegas do curso.Mais
tarde, o Zé Coco , no seu semanário, divulgou a expressão "Namibe", do
nosso deserto.
Continuando, o Prof. Carrilho ministrava as aulas
de Caligrafia, Dactilografia e Estenografia.Era um calígrafo muito
talentoso.Na horas vagas fazia as "escritas" de várias firmas da terra.
O Prof. Cecilio Moreira coordenava as aulas de educação física e desport.
Repórter ASA
Repórter ASA

As instalações da Escola de Pesca e Comércio de Moçâmedes.
- A criação da Secção Preparatória para os Institutos Comerciais -
Mais tarde, já a trabalhar no Grémio da Pesca, resolvemos retomar os
estudos. Na época, havia uma grande discriminação entre alunos da Escola
Comercial e dos Liceus. Eram compartimentos estanques.Os alunos do Curso
Comercial eram os patinhos"feios" e os do Liceu do Lubango os meninos
"bonitos". Não se permitia que se transitasse de um curso - o comercial-
para o outro - o liceal-.. O que significava que apenas era possível
prossseguir os estudos na área de Economia e Finanças e em Lisboa.
Assim, tornou-se imperioso lançar um forte movimento para a criação da
Secção Preparatória para os Institutos Comerciais na nossa escola,
requerendo ao" poder colonial de Lisboa " a sua instalação. A
iniciativa , com grande apoio dos diplomados da Escola, teve sucesso e
veio a começar a funcionar pela primeira vez no ano lectivo de 1955, em
regime de horário post-laboral.
Tivemos a honra de ser o primeiro
aluno da Escola a frequentar o Instituto Comercial de Lisboa,que
funcionava no palacete da Rua das Chagas.
Repórter ASA