

Fotos cedidas por Artur Trindade.
Nestas fotos encontram-se os seguintes hoquistas; José Adriano Borges (Zé Adriano), João Luis Maló de Abreu (Nico), Arménio Jardim, Rui Figueiredo (Rabiga), Rui Mangericão, Nono Bauleth, Artur Trindade...
Foi tardio o surgimento da modalidade de hóquei em patins no distrito de Moçâmedes.
Nascida no Condado de Kent em Inglaterra entre 1908/1910, e dinamizada em Portugal com a Fundação da Federação Portuguesa de Patinagem em 1933, Angola já contava com a modalidade desde 1947, nas cidades de Luanda, Lobito, Benguela e Nova Lisboa, e, no período pós guerra, já a selecção portuguesa havia sido nos anos de 1947-1948-1949-1950 tetra-campeã do mundial de hóquei em patins, enquanto que Moçâmedes se deixara se atrasar por razões sobretudo de ordem económica. Os clubes em permanente crise financeira, e sem apoios das instituições oficiais, não possuiam fundos suficientes para avançar mais cedo para a construção de rinks, nem para a aquisição dos respectivos equipamentos cujos preços eram incomportáveis para as suas posses, restando a carolice de alguns adeptos e o esforço e dedicação dos seus atletas, aos quais se ficou a dever surgimento e o imparável desenvolvimento a modalidade, no início da década de 50.
Em Moçâmedes, em 1947, num «boletim desportivo» editado pelo Sport Lisboa e Moçâmedes (posteriormente Sport Moçâmedes e Benfica), comemorativo do seu 11º aniversário, José da Cruz Almeida, ex-cabo do exército e carola do Benfica, denunciava a presumível falta de criatividade dos dirigentes desportivos pondo em causa a inexistência de uma equipa de hóquei em patins. Também a cidade de Sá da Bandeira era englobada nesta crítica. Na verdade Moçâmedes, que desde 1919 avançara em modalidades como o futebol, ténis, ciclismo, remo, vela, etc, e parecia alheada em relação à modalidade do hóquei em patins e tanto mais quanto a selecção portuguesa foi a primeira a ganhar o campeonato europeu e o campeonato do mundo, simultaneamente, mantendo-se por muito tempo como grande potência na roda deste desporto.
O surgimento da modalidade de hóquei em patins de Moçâmedes aconteceu em 1951 através do Atlético Clube de Moçâmedes, e ficou a dever-se, fundamentalmente, a três grandes individualidades personalizadas por José Adriano Borges, Raúl Radich Júnior (despachante oficial) e José Patrício Correia (industrial de pesca). Para além, é claro, da habilidade e do esforço de um grupo de miúdos com cerca de 12/13 anos de idade que andavam a patinar por tudo quanto que eram passeios da baixa da cidade de Moçâmedes, e nos campos do Atlético e do Casino, com vulgares patins winchester (patins de rodas finas, sem botas, ajustados aos sapatos com engates e com uma correia sobre o peito do pé, e sticks feitos com galhos de madeira , paus, etc.), e que tinham por ídolos oa hóquistas portugueses Jesus Correia e Correia dos Santos (primos), da selecção nacional, que na altura ganhara vários campeonatos do mundo seguidos, cujos relatos difundidos pela emissora nacional seguiam atentamente. Eram o Nico Maló de Abreu (mais tarde guarda-redes de futebol da Académica de Coimbra), Arménio Jardim, Rui Mangericão, Artur Trindade, Leston Martins, Tolentino Ganho, Chiquinho Ganho, Rui Frota, Pierino e mais alguns já esquecidos pela voragem do tempo, tendo por treinador /jogador ele próprio, José Adriano Borges. Deste grupo nasceu aquela que na verdade foi a equipa pioneira de hóquei em patins da cidade de Moçâmedes e do Distrito, a equipa da classe de juniores do Atlético que passou a usar os patins e o equipamento da fugaz equipa pioneira de seniores que haviam sido oferecidos, bem como todo o equipamento por Raúl Radich Jr. (despachante oficial).
José Adriano Borges, o popular Zé Adriano, figura inigualável, amante do desporto -que ele próprio praticou nas modalidades de futebol, ciclismo, atletismo, caça submarina e hóquei em patins - levou o «bichinho» do hóquei, do Lobito para Moçâmedes, quando foi transferido dos Caminhos de Ferro daquela cidade para os Caminhos de Ferro de Moçâmedes. Zé Adriano não perdeu tempo. Habituado que estava às lides desportivas, e envolvido que se encontrava naquela modalidade, de imediato resolveu criar em Moçâmedes uma equipa de hóquei em patins. A escolha recaiu no Atlético, talvez por ser na altura o único clube da cidade a possuir um campo de jogos disponível, ainda que vocacionado para a praticava o basquetebol masculino, ou talvez por inclinação pessoal do Zé. E para incentivar a malta e a população em geral resolve realizar um primeiro jogo de hóquei em patins em Moçâmedes convidando as equipas de hóquei em patins do Lobito Sport Clube (a antiga equipa do Zé) e a equipa da Mocidade Portuguesa de Sá da Bandeira por ocasião das festas da cidade, em Agosto de 1951. Na altura, o campo de jogos do Atlético não estava vocacionado para o hóquei em patins, mas apenas para o basquetebol masculino, e para que esse primeiro jogo pudesse ser realizado tiveram que ser improvisadas tabelas com blocos de cimento de construção civil, colocados à volta do campo. Este primeiro jogo realizou-se no dia 5 de Agosto de 1951, e o entusiasmo foi tal, que havia gente a assistir até em cima dos telhados e dos postes de electricidade.
Raul Radich Júnior foi na verdade o mecenas, aquele que não só contribuiu monetariamente com a totalidade do custo do equipamento (balizas, patins, sticks, caneleiras, joelheiras, bolas, camisolas, calções e meias) para que o Atlético tivesse uma secção de hóquei em patins, como deste modo contribuiu para o surgimento da modalidade na cidade de Moçâmedes. Dado o seu prematuro e inesperado falecimento, Raul Radich Júnior não viria, infelizmente, a gozar os frutos da sua dádiva, ou seja, as alegrias proporcionadas pelo hóquei do Atlético Clube de Moçâmedes como veremos mais adiante, com a conquista de nada menos do que 7 campeonatos de Angola, 3 na classe de júniores e 4 na de seniores, os primeiros 3, nos anos 1962, 1963 e 1964, e os restantes 4, nos anos 1965, 1967, 1969 e 1971. Uma verdadeira proeza, com realce para o facto de o campeonato de Angola de 1965 ter sido ganho pela extraordinária «Equipa Maravilha» precisamente no ano da sua estreia na classe de séniores.
José Patrício Correia, industrial de pesca e conserveiro, que foi o patrono da edificação da sede daquele clube com o seu apoio material e moral, sobretudo material, graças ao qual a tornou possível, com a colaboração do seu gerente Cantos de Araújo, e do seu guarda-livros, Eduardo Brazão. José Patrício Correia, agraciado com uma condecoração de Mérito Industrial pelo Presidente da República, Craveiro Lopes, foi, pois, entre os anos trinta e cinquenta o patrono da edificação da sede do Atlético Clube de Moçâmedes com o seu apoio material e moral, sobretudo material, graças ao qual a tornou possível. Assim rezava uma imponente placa em mármore descerrada à entrada da sede deste Clube, e que, por motivos meramente histórico-políticos, em tempo de exaltações, acabou por ser retirada.
E foi assim que novos valores começaram a emergir no hóquei em patins moçamedense.
Mas houve um pouco antes uma primeira experiência, por demasiado breve para ser expressiva, na modalidade de hóquei em patins do Atlético, com a criação de uma equipa (senior), que integrou, para além de José Adriano, o treinador e organizador, os seguintes elementos: Zico Cristão, Faquica Guerra, Henrique Minas, James, José Manuel Frota e António Minas (Tonico). Foi sol de pouca dura e logo a seguir se esboroou, por falta de competição. E o mesmo será dizer: "Zé Adriano partiu para outra...!"
Estas foram as fotos mais antigas que conseguimos. Ainda que em péssimo estado, são preciosas, porque elas representam o momento do arranque da modalidade do hóquei em patins em Moçâmedes.
Não possuímos em nosso poder nenhuma foto das primitiva equipas, já constituídas e a operar no terreno, quer de hóquei em patins sénior, quer júnior, do Atlético Clube de Moçâmedes, o clube pioneiro da modalidade. Apenas estas de treinos... Os nossos três grandes álbuns dedicados a esta modalidade, em 1975, ficaram em Moçâmedes.
HINO DO ATLÉTICO CLUBE DE MOÇÂMEDES
Salvé Atlético, salvé Moçâmedes, águias salvé
As suas cores defenderemos
Com alma e fé,
E fé.
Vive em nós todos e em nós palpita
O desejo nobre das vitórias
Astro refulgente de luz bendita
Reclamado de prestígio e de glória
De glória
Sua bandeira simboliza a esperança
E a paz bendita
A paz que vive em nossos corações
Graça infinita
Avante, pois oh mocidade
Saudaremos todos o paladino desta cidade,
Mocidade, mocidade.
P'lo futebol, atletismo e natação
Todos os desportos nele se praticam com correcção
Com correcção.
Vive em nós todos e em nós palpita...
Texto escrito e dactilografado por MariaNJardim