Este é um blog saudoso, NÃO SAUDOSISTA, e partiu da ideia de partilhar com todos aqueles que nasceram e viveram em MOÇAMEDES (Angola), hoje NAMIBE, e que se encontram dispersos pelo mundo, um conjunto de imagens e descrições, que os faça recuar no espaço e no tempo e os leve a reviver lugares, acontecimentos e gentes de um outro tempo vividos numa bela e singular cidade, nascida entre o deserto e o mar...
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24 julho 2008
Pescarias de Moçâmedes: «Industrial Canjeque
A zona pesqueira do Canjeque, a 4m a sul de Moçâmedes. e o peixe secando nas eiras (tarimbas) da pescaria de João Viegas Ilha em sociedade com António Vicente («Industrial Canjeque») . Foto de Pedro Ilha
Arte de Pesca em Moçâmedes: Pescarias do Canjeque

No
Canjeque, a caminho do rapa (pequena traineira) «Nidia Maria»,
propriedade de Virgilio Nunes de Almeida. Margareth, Nidia e um
empregado da pescaria.

Nesta
foto, é visível a pescaria da Sociedade da Ponta Negra. Ld., de que
eram sócios, Virgilio Nunes de Almeida, António Bernardino e ? Matos.
Mais tarde as instalações desta pescaria foi vendida à «Projeque»

Canjeque

Canjeque
Pescarias de Canjeque sul a serem fustigadas por uma grande calema (1955)
Pescarias de Canjeque sul a serem fustigadas por uma grande calema (1955)
Pescarias de Canjeque sul a serem fustigadas por uma grande calema (1955)
Sacada em plena faina
Pescarias de Canjeque sul a serem fustigadas por uma grande calema (1955)
Pescarias de Canjeque sul a serem fustigadas por uma grande calema (1955)
Sacada em plena faina
Pequena traineira (rapa)
Foi no Canjeque, entre a Praia Amélia e a Ponta do Pau do Sul, que em finais dos anos 1940, inícios de 1950 surgiu a 1ª pescaria, pertença da Sociedade Industrial da Ponta Negra Lda., cujos sócios eram Virgilio Nunes de Almeida, António Bernardino e Matos. Em seguida, com o desmantelamento das primitivas pescarias na Torre do Tombo, em plena baía de Moçâmedes, e a deslocalização das mesmas, transferiram-se para ali algumas delas , como foi o caso da pescaria de Eduardo (Aníbal) Nunes de Almeida, mais tarde vendida à sociedade Manuel Vicente e Joâo Viegas Ilha.
As instalações da Sociedade Industrial da Ponta Negra Lda, mais tarde desfeita, deu lugar à «Projeque», Sociedade Anónima por Acções, de que faziam parte um grupo de industriais cujas pescarias haviam sido desmanteladas por força da construção da avenida marginal e do porto de cais.
Numa primeira fase, a Projeque esteve voltada para a indústria de peixe seco, tendo porém evoluido para a industrialização de farinhas e óleos de peixe, para o que teria contribuido a entrada de novos associados, entre os quais António Gonçalves de Matos, José Cicorel, Lourenço, e outros que a memória não permite recordar.
A «Projeque», tendo à sua frente os administradores Carlos Manuel Guedes Lisboa e João Viegas Ilha, viria a ser um dos empreendimentos que obteve maior sucesso em Moçâmedes, reportando-me, é claro, às condições com que esta Sociedade fora criada, ou seja, por pequenos industriais deslocalizados e sem qualquer ajuda do Estado, e tendo em conta que outros tantos deslocalizados que desta sociedade não quizeram fazer parte, acabariam por sucumbir ou por se dedicar, até ao fim dos seus dias, à pesca à linha e venda de peixe fresco destinado às peixarias.
Moçâmedes possuia várias industrias de pesca de sucesso , entre as quais seria de salientar a de Joâo Duarte e a Venâncio Guimarães, ambas na Praia Amélia e as de Torres e Irmão e de Patrício Lda. , ambas no Saco do Giraúl, para além das muitas mais que existiam em todo o distrito que englobava Baía dos Tigres, Porto Alexandre (Tombwa), Pinda, Cabo Negro, Baia das Pipas, Mucuio, Mariquita, Chapéu Armado, Baba, São Nicolau (Bentiaba), Vissonga, Lucira.
Sobre pesca em Moçâmedes: clicar AQUI
Fotos (4ª, 5ª e 6ª) gentilmente cedidas por Pedro Ilha.
As instalações da Sociedade Industrial da Ponta Negra Lda, mais tarde desfeita, deu lugar à «Projeque», Sociedade Anónima por Acções, de que faziam parte um grupo de industriais cujas pescarias haviam sido desmanteladas por força da construção da avenida marginal e do porto de cais.
Numa primeira fase, a Projeque esteve voltada para a indústria de peixe seco, tendo porém evoluido para a industrialização de farinhas e óleos de peixe, para o que teria contribuido a entrada de novos associados, entre os quais António Gonçalves de Matos, José Cicorel, Lourenço, e outros que a memória não permite recordar.
A «Projeque», tendo à sua frente os administradores Carlos Manuel Guedes Lisboa e João Viegas Ilha, viria a ser um dos empreendimentos que obteve maior sucesso em Moçâmedes, reportando-me, é claro, às condições com que esta Sociedade fora criada, ou seja, por pequenos industriais deslocalizados e sem qualquer ajuda do Estado, e tendo em conta que outros tantos deslocalizados que desta sociedade não quizeram fazer parte, acabariam por sucumbir ou por se dedicar, até ao fim dos seus dias, à pesca à linha e venda de peixe fresco destinado às peixarias.
Moçâmedes possuia várias industrias de pesca de sucesso , entre as quais seria de salientar a de Joâo Duarte e a Venâncio Guimarães, ambas na Praia Amélia e as de Torres e Irmão e de Patrício Lda. , ambas no Saco do Giraúl, para além das muitas mais que existiam em todo o distrito que englobava Baía dos Tigres, Porto Alexandre (Tombwa), Pinda, Cabo Negro, Baia das Pipas, Mucuio, Mariquita, Chapéu Armado, Baba, São Nicolau (Bentiaba), Vissonga, Lucira.
Sobre pesca em Moçâmedes: clicar AQUI
Fotos (4ª, 5ª e 6ª) gentilmente cedidas por Pedro Ilha.
Arte de Pesca em Moçâmedes; Traineira Carlos Lisboa

Inauguração da Traineira da Projeque, a "Carlos Lisboa" , em Agosto de 1968. Foto gentilmente cedida por Pedro Ilha.
A arte de pesca em Moçâmedes: Traineiras de João Duarte


1ª foto : A traineira de João Duarte, «Maria Margarida» passando junto a um navio de passageiros, ancorado ao largo, na baía de Moçâmedes.
Desconheço a data desta foto, onde traineira e navio se encontram embandeirados, mas tudo indica que tenha sido tirada no decurso da visita do Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo, quando a inauguração do 1º troço do cais do porto de Moçâmedes, em 24.05.1957, cujas obras haviam sido iniciadas no dia 24.06.1954, por ocasião da visita do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes.
Para ver fotos sobre esta visita clicar AQUI
Para ver fotos sobre a visita a Moçâmedes do General Craveiro Lopes , clicar AQUI.
Esta foto encontrei In Mazungue
2ª foto: Outra traineira do mesmo proprietário, a «São João de Deus».
Moçâmedes era o distrito de Angola onde a população branca era em maioria. Isto acontecia porque ao chegarem ali os portugueses apenas encontraram duas pequenas tribos vivendo junto das várzeas dos rios Bero e Giraúl, dos sobas Mossungo e Giraul respectivamente, os restantes povos do Distrito viviam em regime nómade, seminómade camcurreando o Deserto do Namibe, na busca de pastos para os seus bois. Eram todos eles avessos à integração, havendo desde sempre grande dificuldade no recrutamento de trabalhadores para ajudarem na agricultura e na arte da pesca.
De início eram escravos recrutados no centro e norte de Angola, junto dos sobas, e chegaram a ser distribuidos por Moçâmedes escravos libertados de navios de tráfico negreiro para o Brasil e Américas que operavam na clandestinidade e iam sendo apresados clandestino após a entrada em vigôr do Decreto de abolição de Sá da Bandeira. Por esta altura, o recurso era o contrato a tempo certo, geralmente por 2 anos, e o recrutamento era efectuado através de angariadores e da autoridade administrativa da zona em conjunto com o «soba», ou seja, a autoridade tradicional de cada região. Numa primeira fase o salário estipulado era-lhes pago no final de cada mês, a partir de determinada altura, parte do salário passou a ser depositado mensalmente pelo patronato na Administração do Concelho, para lhes ser entregue no final do contrato.
O contrato incluía alojamento, roupa de trabalho, cobertores, e uma base de ingredientes para a alimentação da sua preferência (tomate, farinha de milho, óleo de palma, peixe seco ou fresco (preferiam o seco), feijão, carne, limão, batata doce. Os trabalhadores contratados podiam contar também com assistência médica e medicamentosa que era fornecida pelo médico e enfermeiros do Sindicato da Pesca do Distrito de Moçâmedes, ao qual os seus «patrões» estavam associados. Alguns desses trabalhadores no final do contrato e após terem regressado às suas terras, voltavam por sua conta para as pescarias, já sem qualquer contrato, e ali ficavam como capatazes, motoristas, etc, mas eram raros os que o faziam porque a maioria regressava aos seus «kimbos» de origem, no interior, onde se dedicavam à agricultura, criação de gado, pastorícia, etc. O gado era a sua maior riqueza e muitas muitas vezes acontecia chegarem às pescarias para trabalhar em regime de contrato, indivíduos cujos pais possuíam em gado uma pequena fortuna.
Os salários bem como o preço do pescado eram os estipulados pelos orgãos estatais, e, escusado será dizer que eram irrisórios, em consequência do regime de então que organizava e detinha o leme da sociedade, e porque a rentabilidade por vezes não dava para muito mais. Para além de que muitos dos «patrões» iam sobrevivendo sempre dependentes das crises cíclicas do pescado e do baixo preço a que o mesmo era colocado nos mercados.
«Quimbares», chamava-se assim, o povo de origem africana desde há muito enraizado em Moçâmedes, urbanizado e aportuguesado, que vivia na periferia da cidade, mas não totalmente integrado, porque na sua maioria eram iletrados, viviam na base da subsistência e nada preocupados em mandar os filhos à escola das missões que embora não cobrissem o território, já estavam bastante dissiminadas e abertas aos não «assimilados».
Desconheço a data desta foto, onde traineira e navio se encontram embandeirados, mas tudo indica que tenha sido tirada no decurso da visita do Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo, quando a inauguração do 1º troço do cais do porto de Moçâmedes, em 24.05.1957, cujas obras haviam sido iniciadas no dia 24.06.1954, por ocasião da visita do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes.
Para ver fotos sobre esta visita clicar AQUI
Para ver fotos sobre a visita a Moçâmedes do General Craveiro Lopes , clicar AQUI.
Esta foto encontrei In Mazungue
2ª foto: Outra traineira do mesmo proprietário, a «São João de Deus».
Moçâmedes era o distrito de Angola onde a população branca era em maioria. Isto acontecia porque ao chegarem ali os portugueses apenas encontraram duas pequenas tribos vivendo junto das várzeas dos rios Bero e Giraúl, dos sobas Mossungo e Giraul respectivamente, os restantes povos do Distrito viviam em regime nómade, seminómade camcurreando o Deserto do Namibe, na busca de pastos para os seus bois. Eram todos eles avessos à integração, havendo desde sempre grande dificuldade no recrutamento de trabalhadores para ajudarem na agricultura e na arte da pesca.
De início eram escravos recrutados no centro e norte de Angola, junto dos sobas, e chegaram a ser distribuidos por Moçâmedes escravos libertados de navios de tráfico negreiro para o Brasil e Américas que operavam na clandestinidade e iam sendo apresados clandestino após a entrada em vigôr do Decreto de abolição de Sá da Bandeira. Por esta altura, o recurso era o contrato a tempo certo, geralmente por 2 anos, e o recrutamento era efectuado através de angariadores e da autoridade administrativa da zona em conjunto com o «soba», ou seja, a autoridade tradicional de cada região. Numa primeira fase o salário estipulado era-lhes pago no final de cada mês, a partir de determinada altura, parte do salário passou a ser depositado mensalmente pelo patronato na Administração do Concelho, para lhes ser entregue no final do contrato.
O contrato incluía alojamento, roupa de trabalho, cobertores, e uma base de ingredientes para a alimentação da sua preferência (tomate, farinha de milho, óleo de palma, peixe seco ou fresco (preferiam o seco), feijão, carne, limão, batata doce. Os trabalhadores contratados podiam contar também com assistência médica e medicamentosa que era fornecida pelo médico e enfermeiros do Sindicato da Pesca do Distrito de Moçâmedes, ao qual os seus «patrões» estavam associados. Alguns desses trabalhadores no final do contrato e após terem regressado às suas terras, voltavam por sua conta para as pescarias, já sem qualquer contrato, e ali ficavam como capatazes, motoristas, etc, mas eram raros os que o faziam porque a maioria regressava aos seus «kimbos» de origem, no interior, onde se dedicavam à agricultura, criação de gado, pastorícia, etc. O gado era a sua maior riqueza e muitas muitas vezes acontecia chegarem às pescarias para trabalhar em regime de contrato, indivíduos cujos pais possuíam em gado uma pequena fortuna.
Os salários bem como o preço do pescado eram os estipulados pelos orgãos estatais, e, escusado será dizer que eram irrisórios, em consequência do regime de então que organizava e detinha o leme da sociedade, e porque a rentabilidade por vezes não dava para muito mais. Para além de que muitos dos «patrões» iam sobrevivendo sempre dependentes das crises cíclicas do pescado e do baixo preço a que o mesmo era colocado nos mercados.
«Quimbares», chamava-se assim, o povo de origem africana desde há muito enraizado em Moçâmedes, urbanizado e aportuguesado, que vivia na periferia da cidade, mas não totalmente integrado, porque na sua maioria eram iletrados, viviam na base da subsistência e nada preocupados em mandar os filhos à escola das missões que embora não cobrissem o território, já estavam bastante dissiminadas e abertas aos não «assimilados».