Texto coberto pelas leis de Copyright. Partilha impõe o respeito por essas leis , identificando o nome e proveniência do autor, sendo considerado PLÁGIO quem não as respeitar. MariaNJardim

24 julho 2017

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18 julho 2017

Famílias antigas de Moçâmedes: a família de João Thomás da Fonseca e a pescaria do Mucuio

João Thomás da Fonseca

 
Foto: João Thomás da Fonseca junto da esposa, D. Celeste Sena Fonseca, e a filha de ambos, a pequena Celeste (Celeste Fonseca Robalo), por volta de 1914


Foto: Quem conheceu João Thomás da Fonseca (pai), o fundador da pescaria do Mucuio não esquece a sua postura, com bigode de ponta retorcida, casaco de bom talhe, paletó, corrente de relógio suiço no bolso, indumentaria em conformidade com sua posição de industrial de pesca  bem sucedido.  Na foto, rodeado de amigos, entre os quais Manuel Vaz Pereira (vestido de branco). Data provável: 1920


Foto: Os irmãos Álvaro e João Thomás da Fonseca (filho), filhos do patriarca do Mucuio, com Mucuio à vista...



Viviam-se os tempos críticos  que antecederam a implantação da lª República, em finais do século XIX, quando João Thomás da Fonseca (pai), algarvio, natural de Tavira, resolveu emigrar para Angola, onde esteve ao leme de um veleiro que operava por toda a costa, até que um dia resolveu, com as facilidades governamentais obtidas,  e  o dinheiro amealhado, estabelecer-se no Mucuio. E foi ali, naquela praia deserta pequena e inacessível, situada a sul de Benguela, no distrito de Moçâmedes,  perdida nas escarpas do deserto do Namibe, onde vales secos foram no rolar dos tempos substituindo  rios que ali iam desaguar,  que João Thomás da Fonseca (pai) ergueu a sua pescaria, requisitou pessoal indígena, comprou os primeiros barcos à vela e a remos,  montou duas armações que necessitavam no mínimo de 4 barcos para efectuarem a pesca à valenciana (1), pagou mestres de terra algarvios que mandou vir da Metrópole,  e depressa prosperou e fez-se ganhar respeito e influência no meio industrial limitado da Moçâmedes de então.

 A pescaria Mucuio era sem dúvida uma importante pescaria, que nos seus tempos áureos possuía salinas,  fábrica de farinha de peixe e de conservas, um pequeno estaleiro, para além  debuma traineira de 80 toneladas, 2 sacadas (só para a pesca do cachucho e da garoupa),  e 2 armações, que, para funcionarem precisavam no mínino de 4 barcos para efectuar a pesca à valenciana, e possuía também mais de 20 embarcações pequenas. Da fábrica de conservas de peixe chegaram a ser exportadas  para o nordeste americano, em latas de 2,5kg, conservas de merma e atum, com respectivos rótulos. A pescaria dedicava-se  também à salga e seca de peixe, e a uma pequena congelação.

 O Mocuio não possuía água potável, era a partir de Moçâmedes que a água era de início transportada  em enormes pipas, de início transportada por barcos de pesca e por carros puxados por manadas de bois, e mais tarde em camiões. Apesar dos condicionalismos de toda a ordem, e do isolamento a que obrigava, o Mocuio foi evoluindo ao longo do tempo, e já no início do século XX, João Thomás da Fonseca (pai) mandou construir,  com todo o conforto, o seu bonito chalet cor-de-rosa, em pleno areal da praia, onde nada faltava, inclusive um sistema de aquecimento e de canalização de água ligado à  parte exterior, onde ficavam a casa de banho e a cozinha,  duas guaridas (uma para o guarda, outra para aquecimento central), e  um mirante  a partir do qual podia, sentado de frente a olhar o oceano, a praia e as instalações da sua pescaria, observar  os galeões que entravam e saiam da baía,  fazendo o transporte de mercadorias para o norte de Angola,(Cabinda), Ponta Negra, Gabão e Golfo da Guiné, levando dali ovas, peixe seco, barbatanas de tubarão, e recebendo em troca,  bordão, madeiras preciosas, e outros produtos mais, enquanto ao mesmo tempo ia observando, lá de longe, a azáfama da laboração pesqueira.

Conta-se que morreu gente no Mucuio, devido à tubagem de cobre das canalizações.

A pescaria do Mucuio deu origem à fixação de inúmeros  europeus e africanos na zona, estes entre contratados e livres, uma comunidade que se desfez após a independência de Angola, em 1975.



Foto: A pescaria do Mucuio nos  tempos áureos. Nada aqui foi construído por acaso. Dá para apreciar a estética da organização espacial e não só, do complexo pesqueiro que nesta altura parecia intocável...



Foto: João Thomás da Fonseca (filho) e o gerente, Faria que ali trabalhou durante 50 anos. Data provável: 1942.  Em 1º pano giraus ou tarimbas de peixe seco. Atrás as instalações fabris.



Foto: João Thomás da Fonseca (pai)  rodeado de amigos e de algumas personalidades, incluindo  representantes da Marinha portuguesa, quando faziam uma paragem para descanso, no decurso de uma viagem ao Mucuio, onde possuía a sua pescaria.  Data provável, talvez anos 1920, a ter em conta a indumentária das senhoras. Lembro que foi em Moçâmedes, que nos anos 1914 e 1915 desembarcou grande parte do efectivo militar português, destinado a operações terrestres, face ao receio de uma ofensiva vinda do Sudoeste Africano (hoje Namibia) sobre a região planáltica, e sobre Moçâmedes e de Porto Alexandre,  por destacamentos alemães, bem como para submeter populações nativas sublevadas, factos que agitaram sensibilidades e puseram a região em polvorosa. Em consequência,  o porto de Moçâmedes como porto de desembarque e de evacuação, e estação depósito, desempenhou um importante papel. 

Uma curiosidade: olhando para esta última foto, podemos facilmente reparar que à falta de cadeiras, as senhoras estão sentadas sobre pequenos caixotes de madeira, devidamente rotulados. Acontece que naquele tempo, e até 1950, a gasolina era importada dos Estados Unidos da América, em latas de 20 litros acondicionadas em caixotes, mas o precioso combustível também chegava a Angola em tambores de 200 litros. E porque nesse tempo fora das cidades não existiam de bombas de gasolina para abastecimento, os proprietários dos escassos transportes automóveis que existiam, tinham que levar consigo, nas suas deslocações, alguns desses caixotes com as respectivas latas para se abastecerem pelo caminho, quando o depósito do veículo esgotava. Aliás, os mais antigos recordam ainda as bombas manuais  que existiam nesse tempo, nas principais cidades de Angola, e em certas povoações do mato, que, com um pouco de sorte, eram oferecidas pelos produtores de petróleo do Texas aos potenciais importadores. Estas bombas eram constituídas por um carrinho, de duas rodas que fazia lembrar as quadrigas romanas, só que em vez do Ben Hur (condutor) estava um tambor de 200 litros. A quadriga tinha uma "torre" de 2,5 m de altura, que terminava em dois reservatórios de 5 litros, para onde era elevada a gasolina através de uma bomba manual de êmbolo, num sistema de vai-vem. Enquanto se esvaziava um reservatório para o carro, por gravidade, bombeava-se a gasolina para o outro reservatório, e assim sucessivamente, em golfadas de 5 litros. As latas e os tambores vazios eram depois aproveitados para transporte de água. Uma água que, por vezes, durante algum tempo, apresentava um certo sabor a gasolina ...

Em África, naquele tempo era assim!  Ver em  OS ESQUELETOS NOS ARMÁRIOS







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Fotos recentes do Mucuio, através das quais podemos ainda ver, 35 anos depois, aquela que foi a pescaria de João Thomás da Fonseca (Herds), e o elegante chalet, sua imagem de marca, sobressaindo das areias douradas do deserto e das tonalidades várias de azul do mar e do céu, já em estado de degradação.
 
 Na continuidade do Mocuio, navegando para norte de Moçâmedes (Namibe) ficam a Mariquita, o Chapéu Armado, S. Nicolau, Bába, Lucira, Vissonga, e a sul, a Baía das Pipas. Chegados  Moçâmedes e navegando para sul, encontram-se Porto Alexandre e  Baía dos Tigres. Em todas estas baías e enseadas isoladas de uma uniformidade que fadiga e desola, os portugueses foram se estabelecendo desde a segunda metade do século XIX. Para ali levaram as primeiras armações, alí  montaram as primeiras pescarias e lançaram ao mar as primeiras redes. Para saber mais, clicar AQUI.
 
Mucuio, outrora uma progressiva pescaria, hoje um destino para turistas? 
Ficam estas recordações da gesta dos portugueses em Angola.

Pesquisa e texto de MariaNJardim

 
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(1) Os barcos mantinham as redes no fundo do mar, geralmente com vista a capturar espécies migratórias nas suas rotas, e estas eram levantadas, por duas vezes , durante o dia, para retirar o pescado, e apenas eram retiradas para manutenção.


Algumas destas informações foram recolhidas do livro "Baia dos Tigres".
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Origem do Nome. Escreve-se MOcuio ou MUcuio? 




Conforme informação de João Carlos Robalo (neto do fundador) a quem muito agradecemos:

Considera-se que a denominação Mocuio tenha provindo do facto de, no local, existir árvores do Género Ficus sp. Conforme Raul D’ Oliveira Feijão - autor do Elucidário Fitopatológico - ed. do Instituto Botânico de Lisboa, o nome vulgar daquele género botânico é Mocuio. O Dicionário Cândido de Figueiredo, ed. 1913 refere Mucuio, como “árvore angolense”. É exacto que, em vários dialectos de Angola, a dita árvore denomina-se “Mucuio”. Como os termos escritos em dialecto ou com natureza de dialecto, não passam de uma mera locução estabelecida na loquela local e, por definição e determinação filológica, não desfrui de regra transponível para as normas e formas da Língua portuguesa, um Idioma distinto, independente e soberano. Aliás, em português, os nomes próprios, apenas são traduzíveis ou modificados, quando provêm de idioma para idioma - exemplo: [Lisbon (em idioma inglês) para Lisboa (idioma português) ou vice-versa], e jamais de dialecto para idioma [Mucuio (dialecto do sul de Angola) para Mocuio (idioma português)]. Se ocorrer tradução advém uma grosseira corruptela, por modificação e adulteração inapropriada dos vocábulos, tanto mais que linguisticamente, qualquer dialecto não tem, nem preceitos, nem ordem, apenas semântica e a Língua portuguesa tem-nos bastante consistentes, estáveis e inflexíveis.
Relembro que a 1ª menção, que se conhece a “ Mocuio” (região) consta de 7 de Outubro de 1785 e, já na época, era assim documentadamente redigido. Averiguemos até, confiramos ainda e confirmemos também que escrituras, diplomas, declarações e demais documentos oficiais, bem como textos literais em português figurar Mocuio. Perante o exposto inferir-se-á que em português não se deverá escrever Mucuio, mas sim Mocuio.

Na foto, o prato de loiça de um dos serviços do Chalet onde se pode ver  gravado MOCUIO com “O” e não “U”. Todas as peças de loiça detinham esta estampagem de personalização com a nomenclatura Mocuio ou então, com um entrelaçado com as iniciais do seu nome JTF. Conf informação de João Carlos Robalo (neto do fundador do Mocuio) a quem muito agradecemos.


Vejamos em seguida a posição sobre o mesmo assunto de um outro neto do mesmo fundador, João Thomás da Fonseca:


"...Não quero ser polémico nem contestar ninguém mas pela experiência que tive da minha vivência de Àfrica, embora não sendo filólogo ou especialista em línguas, faz-me mais sentido que se escreva com “Mu”, pela simples razão que é um prefixo usado para definir o nome de uma raça humana no sul de Angola ou o nome de árvores.

Dou alguns exemplos.
Àrvores:- Mucuio (figueira brava), Mulemba, Mucua, Muthiati e por aí além.
Raças humanas:-
Mucubal,
MuMhuíla, Mudimba,
Mucuanhama,
Mukancala, etc.
Possivelmente o meu avô João Thomaz tenha usado a forma aportuguesada, pois realmente toda a louça do nosso chalet está com o nome MOCUIO.
Obrigado pela oportunidade de poder dar a minha opinião.
Um abraço. "
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MariaNJardim


 
Texto coberto pelas leis de Copyright. Partilha impõe o respeito por essas leis , identificando o nome do autor e sitio de onde foi retirado do texto, sendo considerado PLAGIO quem não as respeitar.
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VER VIDEO MUCUIO HOJE


Ver também o blog Tropicália: http://afmata-tropicalia.blogspot.pt/2010/01/1-viagem-de-exploracao-maritima-da.html