Foto de Claudia Guerra
Para quem ainda se lembra do casal Carlos Guerra e Ilda Guerra, ei-los aqui posando para a posteridade, sentados à sombra das arcadas da Praia das Miragens, com os netos (?, e Claudia Guerra), tendo por detrás o filho Faquica Guerra (então Func. Banco Angola) e à dt. Valentina Madeira.
Este é um blog saudoso, NÃO SAUDOSISTA, e partiu da ideia de partilhar com todos aqueles que nasceram e viveram em MOÇAMEDES (Angola), hoje NAMIBE, e que se encontram dispersos pelo mundo, um conjunto de imagens e descrições, que os faça recuar no espaço e no tempo e os leve a reviver lugares, acontecimentos e gentes de um outro tempo vividos numa bela e singular cidade, nascida entre o deserto e o mar...
Texto coberto pelas leis de Copyright. Partilha impõe o respeito por essas leis , identificando o nome e proveniência do autor, sendo considerado PLÁGIO quem não as respeitar. MariaNJardim
29 janeiro 2012
22 janeiro 2012
1975: FUGA DE MOÇÂMEDES (Namibe) pelo Cunene
Para além da grande evacuação que se processou por via da ponte aérea entre Luanda e Lisboa, montada por Portugal com a ajuda de potências internacionais, foram várias as saídas de brancos e não só, para fora de Angola, a partir de Moçâmedes, Porto-Alexandre e Sá-da-Bandeira, nesses meses que mediaram entre Junho de 1975 e Fevereiro de 1976. Uns partiram em traineiras com destino a Luanda e daí para Portugal. Outros, rumo a Walvis Bay (Namíbia), outros atravessaram o oceano e chegaram ao Rio de Janeiro e mais tarde seguiram para o Algarve, e ainda outros partiram em caravanas de automóveis pelo deserto fora, até à foz do Cunene, atravessaram o rio numa jangada construida para o efeito, e prosseguiram para Walvis Bay através da perigosíssima Costa dos Esqueletos, uma das zonas mais inóspitas do globo, tendo-se perdido vários carros e embarcações no decurso dessas viagens.
A população de Moçâmedes, cidade litorânea do sul de Angola, desde sempre geograficamente afastada de zonas de conflito, viveu em completa calmaria até Julho de 1975, mas viu a sua situação mudar e deteriorar-se a partir de momento em que, após a batalha de Luanda e a expulsão da UNITA e da FNLA pelo MPLA, os confrontos entre os movimentos começaram a alastrar a todas as cidades de Angola. Foi a partir de então que as pessoas começaram a tomar consciência da situação, e conforme se avançava para o dia 11 de Novembro, dia da Independência, o pânico começou a alastrar, pois até aí, excepto uns poucos mais temerosos de suas vidas, e mais preocupados em acautelar seus bens, a maioria vivia de de boa fé, e na mais completa ignorância daquilo que realmente se estava a passar, ia-se deixando estar, embora se mantivesse expectante e receosa ante o desenrolar dos acontecimentos. Ninguém sabia, por ex. , que a partir de Julho de 1975 os soldados cubanos apoiados por material de guerra russo pesado e sofisticado (tanques e mísseis), tinham começado a entrar em Angola, o que não admira, pois mesmo na então Metrópole se desconhecia-se em absoluto estes factos, porque a Informação (imprensa, rádio e TV) à época considerada "a mais livre do mundo", simplesmente os ocultava. Aliás, de Julho até à independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, Portugal vivia o período agitado do seu "verão quente", perpassado de tensões crescentes entre grupos de esquerda e de direita, que só viria a acalmar com o 25 de Novembro de 1975. Para a maioria do povo portugues da Metrópolem o que se passava nas colónias era secundário.
Através dos videos acima, Rogério Amorim conta-nos como se processou a fuga a partir de Moçâmedes, Porto Alexandre e Sá da Bandeira, de um grupo de familias em pânico, incluindo a sua, que resolveram partir rumo a Walys Bay (Namibia), através da foz do Rio Cunene e da já referida Costa dos Esqueletos. Fizeram-no, integrando uma caravana constituida por 61 veículos automóveis de todo o tipo, carregados com bagagens que não eram mais que o pouco que puderam juntar, tendo que atravessar a fronteira numa jangada feita propositadamente para tal fim, e prosseguir a marcha durante 16 dias sempre junto ao mar, entre o deserto e o mar, aproveitando-se da maré vazia e da areia molhada.
A travessia

Fuga pela costa dos Esqueletos 1975. Foz do Cunene / Namíbia Namibia
De um lado, mares agitados; do outro, o deserto mais cruel do mundo
O voo para a morte ou a liberdade pela Costa dos Esqueletos
Texto: Val King (revista Scope – África do Sul)
Desde que Moisés conduziu os israelitas do Egipto até à Terra Prometida, nunca houve igual êxodo em massa de um país africano. Na sua louca luta por segurança, 200 refugiados angolanos, sem o saberem, enfrentaram involuntariamente a região mais hostil do mundo.
O Major "Blue" Max Kessler mergulhou a asa do seu Comanche bimotor de forma acentuada para ter uma panorâmica melhor. A visão lá embaixo era suficiente para o fazer desatar a rir se não fosse tão dolorosa. Foi a coisa mais incrível que alguma vez tinha acontecido na história da Costa dos Esqueletos, famosa pelos seus naufrágios.
Abaixo, na margem sul do rio Cunene, estava a mais estranha fila motorizada que se atreveria a imaginar. Sessenta e um veículos de todas as marcas, carregados com os despojos de uma vida e transportando 201 refugiados angolanos, desde um bebé de um mês ainda não baptizado a uma rapariga grávida de 17 anos e incluindo avós viúvas vestidas de preto. Uma estranha fila determinada a enfrentar o deserto mais perigoso do mundo. O suficiente para fazer os esqueletos desta “Costa da Morte” girarem nas suas sepulturas arenosas.
Max Kessler, batedor do Esquadrão 112 do Sudoeste Africano, esperava encontrar um carro ou dois atolados na areia, enquanto percorria a costa do deserto em busca dos refugiados que fugiam do terror de Angola. Mas encontrou metade dos carros e camiões de duas localidades piscatórias...! Como recordou depois: "Parecia uma fila para uma corrida no autódromo de Kyalami (África do Sul), ao estilo português".
Max Kessler e seu companheiro igualmente surpreso, o major Nic Badenhorst, voaram baixo, sob pesadas nuvens costeiras, e pousaram suavemente num banco de areia firme o suficiente para sustentar o peso do avião. Foram então recebidos num cenário que mais parecia um campo de férias que um amontoado de refugiados perplexos, presos entre o banho de sangue de Angola e o deserto hostil da Costa dos Esqueletos.
Havia varais pendurados entre os camiões e as mães lavavam as fraldas e as roupas no Cunene, depois de verificarem que não havia crocodilos nas proximidades. As crianças brincavam com brinquedos e construíam castelos de areia. Os homens haviam assado um porco no espeto, prontos para a longa jornada rumo ao Sul. E quando Max Kessler e Nic Badenhorst saíram do avião, os angolanos quase os beijaram de alegria, prontos para festejar a sua chegada com vinho.
De alguma forma, este cenário não condizia com o clima de uma costa desértica que construíra sua horrível reputação com base em ossos humanos, navios e aviões. O motivo pelo qual não havia grandes massas de veículos espalhados pela areia era simples: normalmente, ninguém era louco o suficiente para desafiar a Costa dos Esqueletos em qualquer coisa menos do que veículos com tração às quatro rodas. Pelos vistos, depressa o deserto iria ser compensado por essa falta de carros abandonados.
Max Kessler e Nic Badenhorst depressa perceberam que havia pessoas que nunca tinham ouvido falar da Costa dos Esqueletos. Duzentas e uma delas, pelo menos. Como contou mais tarde João Jardim, o líder dos refugiados, de 27 anos: “Ainda em Angola, alguns espertinhos disseram-nos: 'Ao sul do Cunene é só conduzir 60 kms e depois chegam a uma boa estrada e a uma aldeia'. Nós nunca tínhamos ouvido falar da Costa dos Esqueletos. Mas mesmo que tivéssemos, não poderia ser pior do que Angola.”
Assim, a primeira coisa que os refugiados quiseram saber dos dois pilotos do Sudoeste Africano foi: "Onde ficam essa estrada e a próxima aldeia?"
Max Kessler balançou a cabeça em descrença e desenhou um mapa. A "aldeia" mais próxima, explicou pacientemente, era a pequena estância de férias de Swakopmund, mais de 800 kms a sul. E não havia nada parecido com uma estrada nos próximos 300 kms. A única pessoa que vivia nessa desolação varrida pela areia também morava a 300 km de distância, em Mowe Bay: era Ernst Karlowa, um guarda-florestal da reserva de caça Kakaoveld que alcançava o mar através do deserto.
Pelo meio existe apenas um acampamento policial temporário para patrulhas ocasionais, em Rocky Point, e um barraco abandonado em Angra Fria - e nada mais que um mar de areia governado por ventos fortes que tentam enterrar qualquer coisa que se cruze no seu caminho. Como enterraram um navio naufragado, que jaz agora a um quilómetro terra adentro.
Esta costa de diamantes, deserto e morte é cercada pelas ondas do mar e pelas correntes do Atlântico, a Oeste, e pelas formidáveis montanhas Baines e Brandberg, a Leste. É um lugar onde os rios são apenas nomes num mapa e onde marinheiros naufragados morreram de sede a olhar para um oceano de água. No entanto, de alguma forma outras criaturas conseguem sobreviver por ali: focas e pássaros marinhos, como o corvo marinho, chacais e hienas que os atacam e, às vezes, caça grossa do Kakaoveld. Até leões já foram vistos em Angra Fria.
É um deserto temido pelos homens que melhor o conhecem. No entanto, aqui estava a maior caravana a chegar à Costa dos Esqueletos - nas mãos de gente que ingenuamente pensava ter deixado o inferno para trás, em Angola, e não tinha a menor ideia de que tinha um deserto infernal pela frente.
A maioria dos 201 refugiados veio dos portos pesqueiros de Moçâmedes e Porto Alexandre, no Sul de Angola. Poucos tinham sido vítimas, pessoalmente, de brutalidade militar. Mas tinham ouvido histórias repugnantes de assassinatos, estupros e pilhagens noutras áreas do país. E decidiram fugir para o Sudoeste Africano antes que chegasse a sua vez. Alguns escaparam poucos dias antes dos soldados chegarem a esses centros pesqueiros.
O plano inicial dos refugiados era lógico. Decidiram enganar os soldados que bloqueavam as estradas e esperavam a sua passagem para os saquear, evitando as vias principais e dirigindo ao longo da costa. No início, eram apenas uma fila de veículos em marcha em direcção ao rio Cunene, pelo que a primeira parte do êxodo não teve grande história. Só que, quando chegassem ao destino, na margem norte, não haveria qualquer ponte sobre o Cunene.
Por isso mesmo, Jorge Coelho, mecânico, tinha sido o primeiro a chegar ao local da travessia - com um camião carregado de soldaduras e peças pré-fabricadas para construir uma jangada. Soldou todas as peças ali mesmo, na margem norte, e ficou lá, durante quase um mês, enquanto grupos de refugiados iam chegando em carros e camiões. Um refugiado até rebocou um atrelado e um barco a motor para a travessia.
A jangada conseguiu transportar 61 veículos em segurança para o outro lado do Cunene. A seguir, afundou sob o peso combinado de um camião de 20 toneladas e um carro. Três outros veículos ficaram presos no lado errado do rio. Os 201 refugiados reuniram-se então na margem sul do rio, no Sudoeste Africano, e enviaram alguns batedores para fazerem o reconhecimento, mas que encontraram apenas o deserto e nada mais do que esperavam. A provisão de combustível também era muito reduzida. Mesmo assim, com uma fé cega nas autoridades do Sudoeste Africano, decidiram esperar e rezar por ajuda.
E quando Max Kessler caiu das nuvens naquela tarde de sábado, receberam-no como se ele tivesse acabado de descer do paraíso.
Max Kessler não ficou para celebrar com vinho. Havia 201 vidas a serem salvas e ele não queria ficar de “castigo” durante a noite e dormir ao relento num clima ameaçador. Disse aos angolanos para deslocarem o acampamento para longe do rio, para o caso de um ataque surpresa na margem norte, e descolou rapidamente, transmitindo pelo rádio o SOS que deu início à maior missão de resgate na Costa dos Esqueletos desde o naufrágio do Dunedim Star, em 1942.
Nem por um momento Max Kessler acreditou que fosse possível salvar todos aqueles veículos. A sua esperança era relativa apenas aos refugiados. Andava há 13 anos a navegar pela Costa dos Esqueletos e conhecia bem a sensação de se perder no seu próprio quintal. Tinha descoberto caminhos pelo deserto através de marcos como leitos de rios secos, barracos abandonados e, ocasionalmente, um navio encalhado. E não acreditava que a caravana alguma vez pudesse percorrer aquela imensidão de areia e mar.
Já o Coronel Koos Myburgh, chefe da polícia de segurança do Sudoeste Africano, homem de falas mansas, pensava o contrário. Ele também conhecia a Costa dos Esqueletos melhor do que a maioria - e conhecia-a a partir do terreno. Costumava fazer patrulhas motorizadas até a zona proibida dos diamantes. E sabia que a única saída para aquele comboio de refugiados era dirigirem pela praia durante a maré baixa – durante 300 quilómetros de areia.
De Windhoek, o coronel Myburgh e seis dos polícias mais duros do Sudoeste Africano fizeram a árdua viagem pela Costa dos Esqueletos até o acampamento no Cunene, ainda a tempo de verem o camião e o carro afundarem a jangada. Um de seus camiões tinha avariado no caminho, mas outros quatro dos seus veículos conseguiram chegar ao local com o combustível e a comida de que os refugiados precisavam. Os Angolanos aguardavam ansiosamente a chegada da polícia desde que um Shakleton tinha sobrevoado o acampamento e deixado cair um bilhete avisando que a ajuda estava a caminho. Por sua vez, os angolanos, tinham rabiscado na areia, em letras grandes, as palavras "pão e combustível", para que a polícia soubesse quais as suas necessidades.
O Coronel Myburgh percebeu logo à chegada que, se havia alguma hipótese de sucesso, teria que colocar alguma ordem no caos que reinava no campo de refugiados. Os Angolanos não tinham líder. Estavam divididos em pequenos grupos, cada qual pensando que sabia melhor como cruzar o deserto. Alguns planeavam conduzir camiões carregados pela areia fofa, sem nem mesmo reduzir a pressão dos pneus.
O coronel Myburgh também percebeu que a maioria dos camiões estavam demasiado carregados para haver qualquer esperança de vencer o deserto. Mas, ao mesmo tempo que sentia pena daquelas pessoas que haviam perdido a sua casa e o seu país, insistiu para que descartassem os seus restantes pertences. E se fosse difícil, decidiu, poderia chamar camiões do exército para ajudar a aliviar o peso.
Em desespero, os refugiados haviam viajado para o exterior levando quase tudo aquilo para que tinham arranjado espaço. Para eles, era como se fosse tudo o que lhes restava no mundo. Estes poucos pertences eram o que os separava da miséria absoluta na terra onde esperavam recomeçar a vida.
E foi desta forma que um pequeno camião partiu para o inferno que o esperava, rumando a Sul carregado com uísque angolano barato. Era a única riqueza que o proprietário tinha e, ingenuamente, esperava vendê-la na primeira cidade ao Sul da Costa dos Esqueletos. Se soubesse o que o povo do Sudoeste Africano pensa do uísque angolano, tê-lo-ia deixado para trás. Mas, pelo menos, poderia alegar ser o primeiro contrabandista de bebida da mortífera Costa… se a sede não o apanhasse a ele, primeiro.
Outro camião levava um reboque carregado com peças de carro baratas. E outro carregava milhares de rands em equipamentos elétricos e ópticos. Um velho levava farinha suficiente para fazer pão para um exército. Todos eles esperavam abrir uma loja quando chegassem aonde quer que fossem. Sempre com a esperança de que o destino não fosse num trecho de areia esquecido por Deus na Costa dos Esqueletos.
As mulheres trouxeram os seus cães, as meninas as suas bonecas e uma família vinha completa com os seus papagaios de estimação, que praguejavam como um soldado português.
João Jardim, gerente de uma empresa marítima de Moçâmedes e que falava bem inglês, foi eleito o líder dos refugiados e começou a organizá-los. A maioria falava apenas português. Mas houve uma surpresa. O Sr. Gerhardus Miljo cumprimentou o Coronel Myburgh num Afrikaans fluente. Era descendente dos Afrikanners que tinham viajado para Angola na Dorsland Trek (uma série de explorações rumo a Norte realizadas por colonos bôeres da África do Sul no final do século XIX e nos primeiros anos do século XX, em busca de independência política e melhores condições de vida). Desta forma, completava o círculo da sua própria história. Caçador e operador de safaris, o Sr. Miljo conseguiu escapar de Angola com a sua esposa e dois filhos ao pular para o camião de um amigo enquanto fugia de soldados bêbados. Saíram apenas com as roupas que vestiam.
“A situação com os guerrilheiros armados dos três movimentos políticos tornou-se impossível”, contou o Sr. Miljo. “Não importa se estamos marcados como amigos ou como inimigos. Qualquer um pode ser morto apenas por um capricho. O padrão usual para estes grupos armados é invadir um bar ou loja e beber tudo o que estiver disponível. Então, embriagados e assassinos, eles simplesmente vasculham as casas e propriedades mais próximas. Se interferirmos, somos mortos."
O Coronel Myburgh planeava colocar o comboio improvisado em marcha durante a maré baixa da manhã seguinte, uma quinta-feira, e os veículos foram alinhados e colocados em prontidão na praia. A primeira etapa previa-se que seria de 140 kms, até ao local escolhido para montar um acampamento nocturno, em Angra Fria. Agora, restavam os preparativos finais, como encher todos os recipientes disponíveis com água e tomar um último banho na única água doce até Swakopmund.
Uma família refugiada descobriu que não tinha recipientes suficientes para armazenar água. Assim, em desespero, esvaziaram três latas de gasolina e encheram-nas com água do rio Cunene. Nunca se acostumaram a beber aquela água com cheiro a gasolina.
A tão esperada manhã nasceu com uma névoa lúgubre e os refugiados empacotaram as tendas e roupas de cama nos veículos e esperaram tão impacientemente como se esperassem a descida de uma bandeira a sinalizar o início da corrida infernal pela Costa dos Esqueletos. Que, para alguns, nunca começou.
O senhor António Mendez foi um dos poucos refugiados que não conseguiu atravessar o rio com o seu camião depois da jangada afundar. Tomou então a difícil decisão de regressar à margem angolana do Cunene para tentar resgatar o seu camião por outro caminho. Ele sabia que corria o risco de ser baleado por soldados e que a decisão significaria sempre a separação temporária de sua esposa e dos dois filhos. Mas o camião era seu único bem valioso. Enquanto se juntavam à caravana, a esposa e os filhos, que choravam, sabiam que talvez nunca mais o vissem.
Agora, a coluna estava em marcha e para dois carros desportivos a estreita faixa de praia entre a maré baixa e a areia do deserto tornou-se uma pista de corridas.
Às vezes, a areia da praia era firme e plana e o Fiat verde e o Alfa Romeo vermelho depressa atingiam os 120 km/h. Armando Gouveia, no Fiat, e Pedro Nápoles, no Alfa, faziam a corrida das suas vidas. Uma corrida contra a maré e entre eles - e com duas lindas miúdas para impressionar.
Para Pedro Nápoles, em particular, foi também uma forma de se livrar do pesadelo angolano, tão nítido na sua cabeça. Pedro, um rapaz de 23 anos, estudante do quarto ano de medicina em Luanda, tentou durante muito tempo cuidar dos seus próprios problemas naquela capital dilacerada pelos conflitos. Mas a ameaça estava por toda a parte.
Primeiro, vieram os pequenos incidentes: “Ao conduzir o meu carro, ouvia um negro dizer: 'Ei, miúdo branco, vai para o seu país. Esse carro bonito vai ser meu'. De repente, parecia um pecado nascer branco. Depois, veio a questão política. Um negro aparece, aponta-me uma faca e pergunta: ‘Qual é o teu partido político?’ E se eu disser o partido errado, é o meu fim. Então, fugi. Mais tarde, dois negros quiseram o meu relógio e, quando os afastei, descobri que tinham uma faca. Mas tive sorte. O exército passou e disparou sobre eles, que fugiram."
Depressa havia muito poucos médicos para tratar os muitos feridos de guerra que chegavam ao hospital e Pedro, como outros estudantes de medicina, foi chamado. Nessa altura, nada mais fazia sentido e o próprio camião que os levava para o hospital foi alvejado. Mais tarde, explodiram bazucas no hospital e um médico, duas enfermeiras e três pacientes foram mortos. Foi um assassinato brutal e sem justificação. Às vezes, dava por si a tratar pessoas que conhecia, até amigos, com ferimentos de bala ou faca.
A gota d'água aconteceu quando um seu amigo próximo foi atingido a tiro num ombro enquanto conduzia. Em resultado disso, o homem, Álvaro Baptista, bateu com o seu carro e uma multidão frenética cortou seu corpo em pedaços, à catanada. Algumas mulheres tentaram queimar o cadáver nos destroços do carro e foi então que Pedro viu o que restava do amigo.
Decidiu juntar-se à namorada, Juza Nascimento, no então mais tranquilo porto de Moçâmedes. Mas a paz também não durou muito por ali. E agora, ali estava ele, com o pé no chão a apalpar a areia fofa - e sentindo que a Costa dos Esqueletos era o caminho para a liberdade. Os sentimentos de Juza Nascimento, sentada ao lado de Pedro, eram mais confusos. O seu pai ainda estava algures em Angola e ela não tinha ideia das condições de segurança em que ele se encontraria.
Descendo veloz pela praia interminável, às vezes com a parte de baixo do radiador a bater na espuma do mar, às vezes, inevitavelmente, atingindo um corvo marinho que secava na areia, Pedro venceu a primeira etapa até Angra Fria em pouco mais de três horas.
Ele não conhecia a história do abrigo de madeira abandonado pelo qual passou a alta velocidade quando corria em direcção a Angra Fria. Nem sequer avistou a caldeira de um navio meio enterrada ou a roda de um bombardeiro entre os destroços espalhados pela praia. Mas foi exactamente aqui que 43 sobreviventes do infeliz transatlântico Dunedin Star se abrigaram do sol e da areia, enquanto as tentativas para resgatá-los resultavam em desastres sucessivos. Primeiro, o rebocador Sir Charles Elliot naufragou em Rocky Point, mais ao Sul, enquanto tentava alcançar o navio encalhado. Depois, dois tripulantes morreram enquanto procuravam nadar para terra. A seguir, um bombardeiro Ventura atolou na areia e, mais tarde, caiu no mar durante a tentativa de resgatar sobreviventes. Estes foram finalmente salvos por uma caravana que chegava a Angra Fria vinda do Kakaoveld - mas não sem antes terem enterrado lembranças sombrias dos perigos da Costa dos Esqueletos, como uma dúzia de esqueletos sem cabeça que por ali encontraram, resultado de algum naufrágio anterior.
Com tristeza, a longa coluna de motoristas que seguia Pedro começava a perceber que o deserto não era uma via expressa para a liberdade. Armando Gouveia, de 22 anos, contabilista, também sentia a alegria da liberdade ao fugir de Angola no seu Fiat. Um de seus primos passou oito terríveis horas debaixo de uma cama enquanto tiros de espingarda varriam sua casa. Armando saíra de Angola com tudo o que tinha valor para o seu coração: a namorada, Idalina Alves, ao seu lado, e o seu Fiat. Como os Nascimentos, a família de Idalina também sentia falta do pai. Ele andava à pesca, no mar, na altura da fuga, e só podiam esperar que ele tivesse fugido para Walvis Bay de barco.
A condução de Armando Gouveia tinha sido implacável enquanto perseguia o Alfa de Pedro Nápoles… até atingir a areia fofa e atolar. Foi então que a maré enchente alcançou o carro, que deixou de pegar e terminou a primeira etapa ignominiosamente rebocado por um Land-Rover, pelos últimos 30 kms. Mais tarde, uma pedra partiu o pára-brisas e ele teve de pedir uma camisola extra emprestada para se proteger do vento extremamente frio do deserto.
Apenas oito dos 61 veículos que partiram para a primeira etapa de 140 km chegaram a Angra Fria ao anoitecer. Um acabou por ser rebocado por mais de 100 km ao longo da praia depois de avariar. Os outros pararam durante a noite, em pequenos grupos espalhados ao longo da costa.
O líder dos refugiados, João Jardim, ia bem até que chegou à areia fofa e atolou. A seguir, uma enorme onda rebentou sobre o carro, deixando-o, com a sua esposa, Liliana, e o bebê de 20 meses, Paulo, indefesos lá dentro. João contaria depois: "Quando senti a força daquela onda sacudir o carro pensei que era o fim. Mas um Land-Rover puxou-nos para fora antes que o mar nos voltasse a apanhar."
Carlos Gancho também avaliou mal o terreno. O seu carro foi atingido por uma imensa vaga e capotou, mas apenas o pára-brisas se partiu. Mas foi o suficiente para o nervoso Carlos saltar do carro aos gritos: "Estou morto!"
Notícia que a sua esposa recebeu com calma, fechada dentro do carro virado ao contrário.
Já o camião que transportava o afrikaner angolano Herhardus Miljio e a sua família nem sequer teve uma oportunidade contra o deserto. Parou depois de deixar o Cunene e lá ficou. A esposa e os dois filhos encontraram boleia noutros carros, mas durante algum tempo Miljio só conseguiu ficar de pé ao lado de um camião pesadamente carregado. A maioria dos camiões não foi muito longe, ficando 12 deles irremediavelmente atolados 20 km após a partida. Foi então que alguns refugiados começaram a perceber que as cargas que tinham resgatado de Angola estavam a conduzir os seus camiões para uma morte certa neste deserto.
Também ficou claro para os refugiados que não teriam tido qualquer esperança para aquela primeira etapa na Costa dos Esqueletos se não fossem os sete polícias do Sudoeste Africano que os socorreram. O líder dos refugiados, João Jardim, comentou quando a caminhada terminou: "Sem a ajuda do Coronel Myburgh e dos seus homens não poderíamos ter feito isto. Foi uma jornada terrível e sem eles estaríamos agora a morrer naquele deserto."
Cada um dos 201 refugiados tinha algo para agradecer à polícia. Os carros e camiões ameaçavam atolar para sempre na areia da praia que ficava macia sem aviso prévio. Na maior parte das vezes, os motoristas da caravana estavam muito ocupados a tentar vencer a maré e fazer com que os seus próprios veículos passassem em segurança para serem de grande ajuda para os outros. O coronel Myburgh e seus homens patrulhavam constantemente aquela praia deserta, para cima e para baixo, em veículos com tracção às quatro rodas. Às vezes, os carros apenas precisavam de um reboque. Outras, iam até ao fundo na areia e os polícias saíam e cavavam, empurrando até que as suas costas doessem. Era, quase sempre, uma corrida entre a polícia e a maré enchente.
Às vezes, um camião atolava repetidamente porque sua carga era muito pesada. Pacientemente, a polícia ajudava a descarregar e reembalar, porque algum refugiado teimosamente se recusava a desfazer-se das suas posses que, provavelmente, ser-lhe-iam inúteis no seu novo destino, de qualquer maneira. Era um trabalho exaustivo. Havia sempre um veículo atolado em algum lugar ao longo da costa infinita. Depressa os sete polícias suavam sob o clima que fazia alguns refugiados tremerem de frio. Mas foi a esse clima que todos ficaram gratos. Às vezes, ele velava o deserto com uma forte névoa marinha e arrefecia-o com ventos frios do mar. Caso contrário, estava apenas nublado.
Para os homens que conheciam a Costa dos Esqueletos, isso significava que não havia a ameaça imediata de serem fustigados por areia, que poderia facilmente acabar com a caravana. Nesse caso, nem mesmo a polícia poderia ter desenterrado aqueles veículos. Mas veteranos do deserto, como o sub-oficial Piet Coetzee, sabiam que se os retardatários da caravana não se movimentassem a mais de 40 km por dia, as temidas tempestades de areia acabariam por apanhá-los.
Felizmente, essas tempestades não se materializaram durante a corrida infernal pela Costa dos Esqueletos, mas a exaustão acabou por atingir Piet Coetzee, que nunca havia recuperado totalmente de uma explosão de mina na fronteira com a Zambézia.
Depois de lutar contra carros, camiões e areia durante dois dias sem reclamar, desmaiou repentinamente. Foi levado de avião para o Hospital Oshakati, do acampamento policial de Rocky Point, num helicóptero Super Frelon, da Força Aérea. O diagnóstico apontou para exaustão e pressão arterial baixa. No segundo dia do percurso, o Coronel Myburgh decidiu mudar de táctica para acelerar a jornada. Com poucas excepções, a caravana tinha-se movido muito devagar naquele sombrio primeiro dia. O Coronel decidiu pedir dois helicópteros Super Frelon para transportar as mulheres, as crianças e grande parte da bagagem para um local seguro.
Mais de 120 mulheres e crianças foram recolhidas na praia entre o Cunene e Angra Fria pelos gigantescos helicópteros que desceram pela névoa. Foram assim transportados até Angra Fria onde esperaram que um Dakota da Força Aérea pudesse levá-los mais para Sul, para a Baía de Mowe. Ali, foram recebidos por camiões do exército que esperavam no final da estrada deserta para os levar até ao campo de refugiados de Rooikop, em Walvis Bay, a cerca de um dia de distância de carro. Uma das mulheres grávidas, de oito meses, a Sra. Anna Belbutha, de 17 anos, foi transportada de Angra Fria para o Hospital Oshakati para dar à luz o seu bebê.
Cinco dias depois de deixarem o Cunene, a corrida infernal acabou para as mulheres e crianças. E enquanto se acomodavam em tendas e esperavam pelos seus homens, houve reuniões inesperadas com outros refugiados que haviam sido dados como perdidos. A família de Idalina Alves estava entre as sortudas. O pai, por quem ela temia, apareceu no acampamento vivo e bem. Foi um dos muitos pescadores que fugiram de Moçâmedes de barco, depois de descobrir que a sua família já se dirigia para Sul.
Para a família Nascimento não houve um encontro feliz. Continuavam sem saber do paradeiro do pai e a Sra. Nascimento usava óculos escuros para esconder as lágrimas.
De volta à praia, os homens puderam conduzir com mais leveza, agora que as suas cargas tinham sido reduzidas a metade e as suas mulheres e crianças levadas para um local seguro. No terceiro dia, todos, exceto os 12 camiões encalhados, tinham completado a primeira etapa, do Cunene a Angra Fria. Dois dias depois, chegaram ao acampamento policial de Rocky Point sem acidentes graves.
À noite, os homens amontoavam-se ao redor das fogueiras do acampamento para evitar o frio intenso do deserto. Nesse momento, agradeciam o abastecimento interminável de madeira flutuante trazida para a costa pelas fortes ondas do Atlântico. Foi também o momento de ligarem os rádios transistores para tentarem ter notícias da Angola que lhes havia virado as costas. Mas tudo o que conseguiram captar foram as monótonas transmissões de propaganda da Rádio Luanda, controlada pelo MPLA, que falava de uma brilhante vitória, paz, lei e ordem.
"Disparate!", foi como João Jardim descreveu as emissões. "Acabamos de fugir para salvar as nossas vidas e eles tentam dizer-nos que não há matança e roubo."
Era muito mais agradável desligarem os transmissores e reunirem-se ao redor do violão que chefe da segurança do Sudoeste Africano tocava, tentando entreter os refugiados com músicas country e western e canções folclóricas tradicionais.
Ao sétimo dia, a maratona sem estradas para descer a praia da Costa dos Esqueletos durante a maré baixa terminou. Restava apenas mais um dia de viagem por uma estrada de cascalho. Passaram pelas escavações de diamantes abandonadas em Torra Bay e Toscanini, pela colónia de focas em Cape Cross e, finalmente, pela pequena cidade turística de Swakopmund a caminho de Walvis Bay. Tinha sido uma longa e dura viagem até à primeira "aldeia". Alguns carros foram rebocados e alguns levantados até à carroceria de camiões do exército.
A jornada pela estrada desolada terminou quando os homens beijaram esposas e namoradas no campo de refugiados de Rooikop, oito dias depois de deixarem o Cunene. Mas para João Jardim e alguns outros refugiados, o pior choque ainda estava para vir.
Os homens chegaram ao acampamento imundos e desgrenhados. Não se lavavam desde o Cunene e alguns exibiam uma barba de um mês.
No entanto, foram rapidamente examinados por funcionários da Imigração, que decidiram que muitos deles não se qualificavam para permanecer no Sudoeste Africano ou na África do Sul. Infelizmente, isso era verdade no caso de muitos dos refugiados, que mal sabiam ler e escrever, quanto mais falar inglês. E havia urgência, pois o transatlântico de luxo Oceanic Independence estava à sua espera para despachá-los para Portugal.
A terrível decepção que tudo isso representou fez com que João Jardim gritasse em desespero: "Acabo de fazer a viagem mais terrível da minha vida para chegar a este país e agora não posso ficar. Em vez disso, disseram-me que posso ir para Portugal, uma terra que me é totalmente estranha. Significa que iria apenas de um país conturbado para outro. Vivi toda a minha vida em Angola e sou africano, não português ”, dizia João Jardim, acrescentando amargamente: "Se não posso ficar neste país, prefiro regressar a Angola, mesmo que isso signifique a morte."
Foi um final triste para a odisseia da Costa dos Esqueletos.
Grande parte destas fotos foram retiradas do livro de Rogério Amorim "Costa dos Esqueletos"
Ver também:
18 janeiro 2012
Poetas moçamedenses: Fernando Moraes
LAMENTO DE MENINO GRANDE
Sim, eu choro…
… choro por estar longe da minha Angola querida,
distante do meu saudoso chão.
… choro porque já não vejo o voar do “rabo-de-jun-
co”, nem a garotada jogar à bola no terreno do
subúrbio.
… choro porque já não vejo o azulinho do “papo-ce-
leste”, o vermelhão de uma queimada surgida ao
longe, nem o sol a esconder-se por de trás do Pon-
ta-do-Pau-do-Sul.

… choro porque já não vejo a imensidão das praias
do Chiloango e do Arimo, nem a grandeza do meu de-
serto de Moçâmedes.
… choro porque não descubro o fim de uma picada,
nem saboreio o pirão, o musonguê, a manga e a bu-
lunga.
… choro porque já não vejo o sorriso aberto do ne-
grinho humilde, nem sinto a amizade do mulato pim-
pão.
… choro porque já não vejo a elegância da gazela, a
curiosidade da “suricata”, nem a secura da lendária
Welwitschia mirabilis.
… choro porque já não vejo a beleza das garotas
praieiras, nem leio os poemas que elas inspiraram.
… choro porque já não vejo uma rebita bem puxada,
nem oiço o barulho de um batuque, nem gozo o calor
de uma fogueira numa anhara.
… choro porque já não passeio na marginal da minha
baía, nem percorro o caminho das palmeiras até às
furnas.
… choro porque já não vejo o Castelinho de S. Fernando,
nem sinto o silêncio de uma madrugada quente, nem
oiço as histórias do velho boiadeiro da lagoa.
… choro porque já não vejo o túmulo dos meus antepas-
sados e tudo que eles criaram.
… choro porque só vejo o luto em Angola, a traição
e o lamento.
Sim, eu choro…
… choro de saudade!
Fernando Moraes
(ex-bancário do ex-Banco de Angola)
Sim, eu choro…
… choro por estar longe da minha Angola querida,
distante do meu saudoso chão.
… choro porque já não vejo o voar do “rabo-de-jun-
co”, nem a garotada jogar à bola no terreno do
subúrbio.
… choro porque já não vejo o azulinho do “papo-ce-
leste”, o vermelhão de uma queimada surgida ao
longe, nem o sol a esconder-se por de trás do Pon-
ta-do-Pau-do-Sul.

… choro porque já não vejo a imensidão das praias
do Chiloango e do Arimo, nem a grandeza do meu de-
serto de Moçâmedes.
… choro porque não descubro o fim de uma picada,
nem saboreio o pirão, o musonguê, a manga e a bu-
lunga.
… choro porque já não vejo o sorriso aberto do ne-
grinho humilde, nem sinto a amizade do mulato pim-
pão.
curiosidade da “suricata”, nem a secura da lendária
Welwitschia mirabilis.
… choro porque já não vejo a beleza das garotas
praieiras, nem leio os poemas que elas inspiraram.
… choro porque já não vejo uma rebita bem puxada,
nem oiço o barulho de um batuque, nem gozo o calor
de uma fogueira numa anhara.
… choro porque já não passeio na marginal da minha
baía, nem percorro o caminho das palmeiras até às
furnas.
… choro porque já não vejo o Castelinho de S. Fernando,
nem sinto o silêncio de uma madrugada quente, nem
oiço as histórias do velho boiadeiro da lagoa.
… choro porque já não vejo o túmulo dos meus antepas-
sados e tudo que eles criaram.
… choro porque só vejo o luto em Angola, a traição
e o lamento.
Sim, eu choro…
… choro de saudade!
Fernando Moraes
(ex-bancário do ex-Banco de Angola)
09 janeiro 2012
RECORDAÇÕES DO LICEU DIOGO CÃO, DO REINO DE MACONGE E DAS TROPELIAS DA NOSSA JUVENTUDE !
Por incluir mocamedenses, GENTE DO MEU TEMPO tomou a liberdade de colocar aqui esta foto e tópicos de texto retirado do site "Reino de Maconge". Para os consultar na íntegra bastará CLICAR AQUI | |||
Histórias inesquecíveis do Internato dos Maristas
by Joaquim Seabra Marques Pires
".O Hugo das Mulas – Da fuga do Tchivinguiro montado numa
mula, às fugas do Internato dos Maristas, passando pela viagem de
borla no comboio para Moçâmedes…
Dele existem recordações e episódios suficientes para serem contados durante 248 horas sem
se parar e sem repetição.
Nesse célebre acampamento da MP em Moçamedes , momentos antes da partida do comboio
apareceu o Hugo . Não se tinha inscrito mas estava estranhamente muito bem fardado e a
rigor, com as meias da ordem e tudo. O propósito e objectivo da sua missão - ir a Moçamedes
e não pagar bilhete.
O revisor por norma passava inspecção antes de Vila Arriaga e do Giraul. O seu dever
profissional era contar contra o bilhete colectivo todos os piolhos verdes que viajavam no
comboio....
CONTINUA...
.."....O meu sonho utópico era apanhar todos um a um, mas eles eram muitos, unidos e fortes eu
era miúdo magro e solitário.
Entre todos alguns eram os Nono Bauleth (Namibe), Trindade (Namibe), Traguedo mais velho
(Quipungo), Ascenso (Namibe) , Castro Alves mais velho (Namibe) Torrinha mais, velho
(Chibia) , Alvito do Rosário (Goa), Sacramento (Benguela) e o Picadas (Silva Porto) um
privilegiado que não ficava na camarata
Paradoxalmente no refeitório fiquei com os médios, na minha mesa o Matos (Americano) , o
Domingos (Namibe), O Júlio (Caluquembe), o António (Missão do Balombo) e excepcionalmente
o referido Picadas(Silva Porto), bem mais velho que nós, que chegara tardiamente ao internato
sem lugar em nenhuma outra mesa foi colocado na nossa .
CONTINUA...
"...Meu velho e bom amigo Castro Alves
Não sei se sabes ou te lembras que quando eu tinha 15 (Internato dos maristas, ao lado do
nosso liceu) escrevi uma declaração de amor que na minha timidez de criança guardei na
gaveta da minha mesa do estudo... talvez com receio de entregar...
Ou foste tu, ou foi o teu irmão mais velho ou o Ascenso quem descobriu a carta , leu e resolveu
entregar sem meu conhecimento.
O resultado foi inesperado...a mocinha à saída do liceu totalmente de surpresa disse-me com
um sorriso: aceito!!!...
Nem imaginava que a carta havia sido entregue...
A moça casou mais tarde com o meu primo Rui Seabra...
Foi uma atracção inocente e platónica, mas no fim nada se perdeu e tudo ficou na família....
CONTINUA...
"....Diz a lenda Macongina ter sido esse outro quarto guarda da PSP a quem o famigerado Cabéças
roubou o cassetete e a quem numa noite de colégio das madres depois duma tentativa lograda
de interpelar a malta agarrou e fez beber uns bons 5 litros de Palhete, dos quais parte ficaram
7
bem visíveis a encarnado escuro escorridamente pelo seu dólmen de caqui amarelo abaixo.
CONTINUA...
"...Depois da farra cansados mas felizes dirigimo-nos para a Pensão Angola. Eis que nos aparece o
famigerado Zé dos Calos a pedir guarida. De acordo com a nossa tradição e espírito de então,
guarida não se negaria nunca a um colega, nem mesmo a dez , mesmo se por acaso
aparecessem todos ao mesmo tempo .
O Zé dos Calos era do Namibe, famoso e carismático, um ex-Marista também, tinha talvez 2
metros ou mais, era magro, usava óculos grossos de aros negros e grandes, quando andava
parecia cambalear do alto das suas pernas longas, arqueadas e finas. Tudo quanto dizia era de
voz pausada e grave, com aspecto senhoril, intelectual e cariz político.
Juntamos as camas de metal, a minha e a do Hugo, para o Zé dos Calos dormir no meio. O Zé
dos Calos agora deitado tinha as longas pernas, com os seus longos grandes pés, sem os seus
famosos sapatos mas ainda com as suas famosas meias tudo caricatamente no ar, cerca de 60
cm fora dos pés de ferro da cama.
CONTINUA...
"...O Zé dos Calos foi para o estrangeiro, ouvi referências às suas actividades e discursos na rádio
estrangeira e soube que mais tarde voltara para Angola.
CONTINUA...
"...A Turma A – 3º Ano – 1958/59
CONTINUA...
"....Lista dos Cábulas de 1958/60 , 4. ano turma A - a turma das colegas mais
famosas de todos os tempos - esta lista é especialmente para ti.
CONTINUA...
"...Turma B – 3º ano – 1958/59
Esta era o 3 B a minha (nossa) turma em 1958/59 -
Reler estes nomes traz-me grandes recordações e tremendas saudades e, muitas lembranças
de momentos e de pessoas fantásticas e inesquecíveis, de verdadeiras amizades que
perduraram ate hoje e vão perdurar para sempre.
CONTINUA...
"...Relação completa de todo o corpo docente e de funcionários do
Liceu “Diogo Cão” no ano lectivo 1958/1959
CONTINUA...
"...Mais turmas do ano de 1958/59 - 4º B
CONTINUA...
"...O pobre do Caneco… aturar personagens como Sanona,
Castilho, Timóteo, manos Pimentel Teixeira, Sabrosa...
O padre Orlando, tão bem recordado pelo mano Seabra, traz-me à memória o seu
equivalente fraseológico e comportamental, o inesquecível Caneco, cujo nome verdadeiro não
me ocorre. O Seabra já aqui contou o episódio do tubarão, ocorrido em Moçâmedes, no célebre
acampamento da Mocidade e eu nunca mais esquecerei as tribulações do Caneco com o 5º B,
turma a que tive a honra de pertencer. Basta referir alguns dos personagens que integraram tal
turma, para se avaliar a dimensão dos trabalhos do pobre professor. Sanona, Castilho, Timóteo,
manos Pimentel Teixeira, Sabrosa...
CONTINUA...
" Breve relatarei uma dele (Não, não do Macaco... do professor) sobre pontos de exame (Com perguntas dirigidas à inteligência) e sobre o Hotel Metrópole onde tu viveste.
Historia essa passada numa turma em que fui colega dentre outros muitos do Traguedo,
Bacalhau, Luís Manuel, Avelino, Peixoto, Parente Ramos, Saraiva e Castro Alves mais novo, etc.
CONTINUA...
" O medo vocês sabem que não preciso justificar, mas a curiosidade e afabilidade devia-se a ter
eu ouvido muito do Mendonça dos meus Pais e tios todos Maconginos no Diogo Cão.
No lado direito da aula junto à parede (Longe dos "DKW" mas no lado do "SAAB"...), na carteira
da frente junto ao quadro preto sentava-se o Faria, depois o Seca e de seguida eu.
O Couceiro da Costa (João Cláudio) meu grande amigo já de berço e de gerações posteriores,
sentava-se ao meu lado esquerdo. (Ele vai sorrir ao lembrar-se disto)..
CONTINUA...
"...O 5. Ano Turma A 1958/59
CONTINUA...
"... E para continuar a matar saudades e a lembrar velhos amigos o
6.Ano Turma B 1958/59
"...Histórias inesquecíveis do Internato dos Maristas. O arremesso
do pão no escuro, a expulsão e a vida solidária nas caves do Liceu…
O meu sonho utópico era apanhar todos um a um, mas eles eram muitos, unidos e fortes eu
era miúdo magro e solitário.
Entre todos alguns eram os Nono Bauleth (Namibe), Trindade (Namibe), Traguedo mais velho
(Quipungo), Ascenso (Namibe) , Castro Alves mais velho (Namibe) Torrinha mais, velho
(Chibia) , Alvito do Rosário (Goa), Sacramento (Benguela) e o Picadas (Silva Porto) um
privilegiado que não ficava na camarata Paradoxalmente no refeitório fiquei com os médios, na minha mesa o Matos (Americano) , o
Domingos (Namibe), O Júlio (Caluquembe), o António (Missão do Balombo) e excepcionalmente
o referido Picadas(Silva Porto), bem mais velho que nós, que chegara tardiamente ao internato
sem lugar em nenhuma outra mesa foi colocado na nossa .
O Picadas fazia muito "Charles Atlas",por isso, usava T Shirts de manga curta para mostrar os
bíceps. Cabelo à Cliff Richard, pente no bolso de trás, calças à Elvis, óculos escuros à Marino
Marini, em suma o mais pipi lá do sitio. Ele simbolizava o meu ressentimento inicial aos mais
velhos, adicionado por "Roncos e Bafos" recebidos do tipo "Estás aqui estás a levar no focinho".Etc.
O Júlio (DKW) alegre, brincalhão, era a maior vítima do Picadas que o ameaçava muito de
"Porrada".
Eu antagonizava-o em tudo quase em silêncio.
No ano escolar seguinte fiquei noutra mesa com o Fernando Sabrosa (Luanda), o Tita Pimentel
Teixeira, (Namibe), o Rato (Lobito) e o Godinho (Lobito), éramos um time bastante fixe e forte
CONTINUA...
"...PARA MATAR OU PARA FAZER AINDA MAIS SAUDADES
ABAIXO OS ALUNOS DO LNDC PRIMEIRO ANO 1958/59
PARA ACESSAR AO TEXTO INTEGRAL CLICAR AQUI
Ver também MENINOS DO NAMIBE
08 janeiro 2012
Ensino e religião em Moçâmedes: a Casa Santa Filomena, onde D. Aline ensinava o catecismo. 1949/1953.
Clicar sobre a foto que é enorme. Grupo de alunas, mães, senhoras da JIC e da Liga Católica Feminina, catequistas, e irmãs do Colégio de Nossa Senhora de Fátima, junto da "Casa Santa Filomena" com D. Aline . Data: 1953. Cedida por Néné Trindade. Mon. D. Daniel Gomes Junqueira tinha sido nomeado bispo da Diocese de
Nova Lisboa, criada nos termos do Acordo Missionário de 1940, em
simultâneo com a Arquidiocese de Luanda e a Diocese de Silva Porto, para
as quais foram nomeados D. Moisés Alves de Pinho para Arcebispo de
Luanda, e D. Ildefonso dos Santos, para Bispo de Silva Porto.
A caridosa professora D. Aline de Campos, e a "Casa Santa Filomena"
Era assim a "Casa Santa Filomena" na cidade de Moçâmedes, em Angola, por volta dos anos 1950. Uma grande casa em madeira, estilo colonial, com varanda a toda a volta, por onde pendiam trepadeiras que imprimiam um ar refrescante ao conjunto, situada por detrás do antigo campo de futebol, ao fundo da Avenida da República, de costas voltadas para o edifício do Matadouro Municipal, construção pioneira da fundação (1). Segundo informações a "Casa Santa Filomena" teve como proprietários os ingleses do Cabo Submarino, e mais tarde, nos anos 40, passou a ser a morada de D. Aline Marques de Campos, a veneranda professora primária da Escola Nr.55, de Fernando Leal ou "Escola Portugal" que alí passou a habitar, juntamente com a sua mãe e irmã, D. Olimpia e D. Amélia.
Profundamente religiosa, D. Aline dava aulas de manhã e da parte da tarde ministrava às crianças o catecismo. Era também ali na "Casa Santa Filomena" que D. Aline, gratuitamente, dava aulas de todo o tipo, sobretudo aos alunos mais necessitados da terra que frequentavam o primário, formando-os para a vida, e chegando inclusive a alimentar alguns, tendo conseguido para o efeito um subsídio da Câmara Municipal, e a ajuda de muitos amigos, como testemunham os que viveram aquela época. Também era comum aos domingos, na Casa de Santa Filomena servir-se um lanche à garotada, e de vez em quando organizar-se até passeios em camioneta de caixa aberta, mas em caso algum descurando o catecismo. A cidade como prova de gratidão deu o seu nome ao Parque Infantil, num gesto de reconhecimento pelos serviços prestados, e concedeu-lhe a medalha de honra da Cidade.
A denominação "Santa Filomena" ficou a dever-se ao facto de ser D.
Aline devota desta Santa, que, para grande desgosto seu seria
desclassificada pelo Concílio do Vaticano. D. Aline era natural de Cabanas,Viseu, onde nasceu em 13 de Novembro de 1891, e foi em Coimbra que prosseguiu os estudos, tendo concluido o Curso do Magistério Primário na Escola Normal com a alta classificação final de dezassete valores. No ano de 1918, ainda na Metrópole, foi nomeada para o professorado do Ensino Primário em Moçâmedes, tendo começado a leccionar a 1 de Maio a 2 de Abril desse mesmo ano. D. Aline enviuvou enquanto
esteve a exercer funções do magistério em Moçâmedes, e se já era
católica ainda mais se agarrou à Igreja e à religião.


Na foto: D. Aline cumprimentando e D. Berta Craveiro Lopes em 24.06.1954,
quando da visita do Presidente da República Portuguesa, Craveiro Lopes,
a Moçâmedes. Cedida por um amigo
Ainda sobre D. Aline, conta-se que a gentil e caridosa senhora não escapou à maldade e à intolerância de homens, que não raro existiam no nosso burgo, e abundavam por toda a parte, a par, felizmente, de muita gente boa. Aconteceu que por volta de 1922, lhe foi instaurado um processo disciplinar, com base em declarações suas publicadas num jornal de Moçâmedes. Mas em 23 de Janeiro de 1923, o chefe da Repartição Superior da Instrução, José Falcão Ribeiro informava que o processo tinha demonstrado da parte de quem o ordenou e elaborou, autoritarismo e defeitos de organização, que implicavam a sua nulidade. E, ao mesmo tempo afirmava que esta professora era cumpridora do seu dever e desamparada de todo o auxílio. Talvez essa circunstância explique que, pouco depois, em Dezembro de 1926, D. Alina pensasse seriamente na sua aposentação. (letras5ac).
D. Aline desligou-se do serviço em 23 de Fevereiro de 1957 e teria deixado Moçâmedes em 1958. Acabou os seus dias em Luanda, em 5 de Julho de 1971, onde residia com o seu filho, o Engº Augusto Carlos Rodrigues dos Santos, então director da Junta Provincial de Electrificação de Angola. Tinha quase oitenta anos de idade, Moçâmedes deve ter sido o único local em que leccionou.
Ainda sobre D. Aline, conta-se que a gentil e caridosa senhora não escapou à maldade e à intolerância de homens, que não raro existiam no nosso burgo, e abundavam por toda a parte, a par, felizmente, de muita gente boa. Aconteceu que por volta de 1922, lhe foi instaurado um processo disciplinar, com base em declarações suas publicadas num jornal de Moçâmedes. Mas em 23 de Janeiro de 1923, o chefe da Repartição Superior da Instrução, José Falcão Ribeiro informava que o processo tinha demonstrado da parte de quem o ordenou e elaborou, autoritarismo e defeitos de organização, que implicavam a sua nulidade. E, ao mesmo tempo afirmava que esta professora era cumpridora do seu dever e desamparada de todo o auxílio. Talvez essa circunstância explique que, pouco depois, em Dezembro de 1926, D. Alina pensasse seriamente na sua aposentação. (letras5ac).
D. Aline desligou-se do serviço em 23 de Fevereiro de 1957 e teria deixado Moçâmedes em 1958. Acabou os seus dias em Luanda, em 5 de Julho de 1971, onde residia com o seu filho, o Engº Augusto Carlos Rodrigues dos Santos, então director da Junta Provincial de Electrificação de Angola. Tinha quase oitenta anos de idade, Moçâmedes deve ter sido o único local em que leccionou.
D. Aline no dia da inauguração do Parque Infantil de Moçâmedes,
entre os vereadores da CMM, Rodolfo Ascenso e Rui Torres. Cedida por um amigo.
A acção de D. Aline de Campos, formativa e caritativa, viria a merecer no inicio dos anos sessenta honrosos elogios por parte da Edilidade, tendo-lhe sido oferecida uma medalha de honra da Cidade, e nessa celebração foi baptizado o novel Parque Infantil com o seu nome: «PARQUE INFANTIL ALINE MARQUES DE CAMPOS R. SANTOS».
De baixo para cima: 1ª fila. ? M Pacheco I, Mª Inácio Tavares, Elga Weishmaster, Amélia Brás de Sousa, Manuela e Mimi Carvalho, M.PachecoII, Mitsi Aboim e ? 2 ª fila. ?,?,?, Zézinha Grade, ?,?, Fernanda Braz de Sousa, Fernandina Peyroteu, ?, Antonieta Bagarrão (Dédé), ? e Zélia Calão. 3ª fila. Gabriela Figueira Fernandes, Calila, ?, Constantina, Carolina Mangericão, Maria Augusta Esteves, ?,?,?,?, e Susete Freitas. 4ª fila. ?;?;?; Lena Freitas, Fernanda Pólvora Dias,?, Fátima Cunha, Lizete Ferreira, Celeste Matos, ?,?,Gabriela Miranda,?, ?, Madalena Trindade; Melanie Sacramento, ?, e
Odete Maló. 5ª fila. ????, Osvalda Sacramento, Júlia Jardim, ????
6 ªfila.?,?,Hélia Paulo, Lucia Gavino, ?, Lucia Reis,?,?,?. Data: 1949
Idêntico grupo de alunas e de catequistas do Colégio de Nossa Senhora de Fátima, junto da "Casa Santa Filomena". 1949. Fotos de Antonieta Bagarrão
1ª fila: :Geninha Amado, Henriqueta Barbosa (Miqueta), Fátima Santos, Celeste Matos, Mimi Carvalho, Luisa Trigo,??,Maria Amália Duarte de Almeida, Mitsi Aboim, ??, Ribeiro (filha), irmã da caridade, Maria Inácio Tavares, ?, Dilia Martins Nunes, ???, Maximina e irmã , ?. 2ª fila: Lizete Ferreira, Lúcia Reis, irmã da caridade, Maria Idália Patrício, Noemia Van der Keller, Sra. Aboim, irmã da caridade, prof. D Aline, Felicidade Tendinha Trindade, Beatriz Caléres Radich, Alice Castro, Teresa Ressurreição, ?, Luzete Sousa, ???. 3ª fila: Bia Mangericão, Julia Jardim, ?, Fernanda Braz de Sousa, Carolina Mangericão, Raquel Martins Nunes, ??, Sra. Pires Correia Ribeiro, ???, prof. Lucilia Campos Rocha, Sra.Trindade, Ana Júlia Maló de Abreu, Cordália Gavino Dias, ?, Salomé Inácio, Suzete Freitas, Melanie Sacramento, ?. 4ª fila: ?, Aninhas Sousa (mãe), Berta prof?, Raquel Piedade, Beatriz Radich, ????, Julia Almeida, Odete Maló Almeida, Rita Seixal, Odete Sousa, ???. 5ª fila: ?????, Sra Erverdosa?, Sra. Nunes, ???, Sra.Duarte,??. 6ª fila: ??????
![[Escola+49.jpg]](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2xTmNaemkitMjk63Gw56PbJW7jehRcjaLx83yC-0KwNz7tfTYzX0pNygctA9arzlEd5mgpiaRKaJgbhCpQoRVQZFRZ5URJKiL6xwCD_6AmGXsLMVssmrzXAz5dJEkZlE3G3OCgXm91h0/s640/Escola+49.jpg)
Aqui podemos ver D. Aline, à dt. ( a
mais baixa das três). Encontram-se também a professoras D. Berta (a mais
alta) e D.?. Neste dia, o Bispo D. Daniel Gomes
Junqueira (*) tinha visitado a Escola Nr. 49. À
esq. de entre outros professores e padres, reconheço o prof. Freire, e
o prof. Canedo. Estava-se em 1945. (Clicar sobre a foto para
aumentar). De baixo para cima e da esq. para a dt.: 1º fila: Teixeira,
Túlio Parreira, Monteiro, Jorge, Beto de Sousa, ?, Orlando Figueira, ?, Dominguinhos (mais tarde trabalhou na CMM). 2ª fila: Serafim, Renato Veli, ?, ?, Manuel Cruz, ?, Celestino,?,?,?. 3ª
fila: Alexandrino (Dino), ?, Neco Mangericão, ?,?, Guilherme Jardim, Bispo D. Daniel,
(*), José Manuel Frota ?, ??? e mais à
dt. Sarmento 4ª fila: professor Canedo, Padre ?, professor Vieira,
Padre?, Costa, Julia Jardim, ?.Esmeralda Freitas, ?, D. Alina (a 3ª das Sras de preto, a contar da dt.), as professoras Berta e ? 5ª fila: ????? Gomes. Data provável: 1941.
Passaram mais de 60 anos sobre estas fotos, e ainda hoje muitos
daqueles e daquelas que foram alunos e alunas de D. Aline, falam com
carinho e com admiração da velha professora, referindo-se tanto à sua
competência como à sua bondade e à sua acção como formadora que fora de
sucessivas gerações de moçamedenses a quem ensinou a lêr, escrever,
contar, os sãos principios da moral cristã e, como não podia deixar de
ser... a orar.
MariaNJardim
(*) D. Daniel tinha sido nomeado bispo da Diocese de Nova Lisboa, criada nos termos do Acordo Missionário de 1940, em simultâneo com a Arquidiocese de Luanda e a Diocese de Silva Porto, para as quais foram nomeados D. Moisés Alves de Pinho para Arcebispo de Luanda, e D. Ildefonso dos Santos, para Bispo de Silva Porto.
(1) Sobre o Matadouro Municipal importa referir que se trata do edifício mais antigo de Moçâmedes que tem resistido até aos nossos dias graças á robustez da sua constituição. Com um desenho original, munido de uma parte ao ar livre, onde se metiam os bois destinados ao abate, este Maradouro vem referido em livros bastante antigos, e existem relatos de um tempo em que iam ali hienas durante a noite em busca de vísceras de bois. Antes da sua construção as reses eram abatidas numa casa da vila afastada do centro, o primitivo Matadouro, sem as minimas condições de higiene conforme é revelado no seu livro de Mendonça Torres, "O Distrito de Moçâmedes", de 1849-1860, pg 276. e num outro intitulado "45 Dias em Angola" publicado por autor anónimo em 1862. No relatório de 19 de Junho de 1877, Costa Cabral refere que nessa data já se achava em avançado estado de construção um novo Matadouro "começado a expensas do Municipio, tinha as paredes levantadas de excelente alvenaria, estava porém a obra parada por falta de meios. http://princesa-do-namibe.blogspot.pt/2010/11/o-parque-infantil-de-mocamedes-parque.html