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05 setembro 2010

Peregrinação da Imagem de Nossa Senhora de Fátima a terras de África e sua passagem por Moçâmedes...



 Tito de Gouveia, um dos pioneiros da aviação em Angola, foi quem pilotou a avioneta que trouxe a imagem de Nossa Senhora de Fátima até nós, no decurso da peregrinação por terras de Africa (1) Foto gentilmente cedida por Isabel Bakanovas, neta de Tito de Beires de Gouveia


Na antiga Gare, à chegada...

 

À chegada forma-se a procissão...
 
 
O CONTEXTO HISTÓRICO: Politica e religiáo
 

Em 1948 viviam-se os anos imediatos ao pós II Grande Guerra (1939-45), o mundo estava dividido em esferas de influência entre as duas grandes potências, EUA e URSS, e a nova ordem internacional imposta pela Carta das Nações reconhecia o direito à autodeterminação dos povos, situação que levou potências coloniais como a Inglaterra, a darem inicio a negociações para a independência das suas possessões ultramarinas, facto que constituiu um sério problema para a política colonial portuguesa instituída pelo Acto Colonial de 1933.

No que diz respeito à questão religiosa, as relações com a Santa Sé,  que haviam sofrido um rude golpe com o triunfo da 1ª República, em 5 de Outubro de 1910, e a promulgação da Lei de Separação da Igreja do Estado (20 de Abril de 1911), encontravam-se pacificadas.  Com o golpe militar de 28 de Maio de 1926, e a subida de Oliveira Salazar ao poder, o catolicismo recuperara muito da influência que detinha, no que toca à afirmação das suas crenças  e  enraizamento ao nível dos costumes, e Fátima surgia ao Estado Novo como proporcionado aos católicos portugueses caminhos renovadores. A Lei da Separação fazia depender de autorização prévia o culto religioso fora dos templos, o que obstaculizou as procissões populares habituais nos meios rurais. Com o Estado Novo, nas palavras do cardeal Cerejeira: «Desde que Nossa Senhora de Fátima apareceu em 1917 no céu de Portugal, uma especial bênção de Deus desceu sobre a terra portuguesa. Encerrou-se ssim o ciclo violento da perseguição religiosa e começa uma época nova de pacificação das consciências e de restauração cristã ». O  Santuário de Fátima tornara-se uma espécie de “centro espiritual internacional do anticomunismo”, um pilar importante da política do Estado Novo.  A Concordata, assinada entre Portugal e a Santa Sé, em 1940, veio restituir parte do património que a Igreja perdera em momentos históricos anteriores, bem como uma série de prerrogativas que lhe haviam sido retiradas. O chamado Acordo Missionário, criara condições para a colaboração entre a Igreja Católica e o regime, sobretudo nas colónias.

Estabelecidas as relações com a Santa Sé, começaram as peregrinações da Imagem de Nossa Senhora de Fátima pela Europa e pelo mundo. Em meados de 1948  coube a vez da peregrinação aos Açores e às Colónias de África (Cabo Verde, Guiné, Angola, Moçambique), altura em que a imagem percorreu outras paragens longínquas do mundo: Rodésia, ao Quénia, Zanzibar, Uganda, Tanzania, Abissinia, Eritreia, Sudão, Egipto, India, Paquistão, Ceilão, Tailândia, Bismânia, Singapura, Malásia, Vietnam, Austrália, Timor, Papuásia, Etiópia, Adis abeba e África do Sul. Há notícias que a recepção na África do Sul reuniu mais gente que a do rei da Inglaterra. 
 
 
 
Peregrinação da imagem de Fátima a Angola: passagem por Moçâmedes


Foi em 28 Agosto de 1948 que a imagem de Nossa Senhora de Fátima, tendo partido em peregrinação aos Açores e às terras de África (1),  fez a sua  passagem por MoçâmedesA imagem de Nossa Senhora de Fátima,  chegou a Moçâmedes, numa avioneta da DTA, pilotada por Tito Beires de Gouveia (na 1ª foto, ao centro)e veio acompanhada de elementos da Acção Católica metropolitana, tendo a esperá-la, na antiga Gare do então "campo de aviação", uma multidão de gente que para  alí se deslocou a pé,  e que acenava com lenços brancos, numa manifestação de grande fervor religioso jamais acontecida em terras do Namibe. De entre a multidão encontrava-se uma senhora, moradora  do Bairro Maria da Glória, que se encontrava acamada, e fora levada por familiares, na esperança de um milagre. Enquanto a imagem da Santa era retirada do interior da avioneta, e acolhida na velha gare, pétalas de flores esvoaçando, cobriam o ar à sua volta,  sendo em seguida colocada sobre um andor coberto de sedas brancas e ramalhetes de rosas, onde pombas igualmente brancas, símbolos de paz,  então lançadas ao ar, se foram acolher.

Formou-se em seguida uma extensa procissão que, cumprindo o programa pré-estabelecido pela "comissão organizadora" da qual faziam parte entidades camarárias,  governo civil,  padres da Igreja, e elementos masculinos e femininos da Acção Católica , percorreu  serpenteando as ruas da cidade, rumo ao antigo "campo de futebol" de terra batida, situado ao  fundo da Avenida da República, onde foi rezada uma missa campal ministrada pelo muito estimado e popular Padre Guilhermino Galhano.

Esta peregrinação, como foi atrás referido, aconteceu no quadro institucional do Estado Novo, após o reatamento das relações de Portugal com a Santa Sé, e a assinatura da Concordata (1940),  já com as relações Estado-Igreja normalizadas (2), e o culto de Nossa Senhora de Fátima  reanimado.

Em todo o trajecto, viam-se colchas  vermelhas colocadas às janelas, arcos erguidos em cada quarteirão pelos moradores das respectivas zonas, enfeitados com grinaldas de flores de papel das mais diversas cores, bandeiras e dísticos em cuja elaboração toda a população colaborou. 



 
Enquanto a Imagem de Nossa Senhora de Fátima sobre o andôr , em procissão,  avançava rumo ao à cidade, na Avenida Felner (a avenida sobranceira ao mar que começa no Palácio e liga a baixa da cidade à Torre do Tombo), alguns dos moradores  aguardavam, ansiosos, a  sua chegada: Joaquim Gregório, Violete Velhinho, o casal Rosarinha e António Paulo (António da Rita), o casal Francisco Velhinho e Mariete, o casal Gregório e Maria do Rosário e ti Silva. Foto do livro  Recordar Angola, 2º volume, de Paulo Salvador.
 
 
As senhoras de Moçâmedes fizeram questão de participar no transporte da imagem...
 
 
 As irmãs da caridade carregando o andor...
 
Incorporaram a procissão representantes das forças vivas da cidade, entidades oficiais, o corpo de bombeiros voluntário, trajado de farda branca a rigôr, as irmãs da caridade, professores e professoras,  alunos e alunas de todas escolas do distrito, advogados, juizes, médicos, engenheiros, industriais, comerciantes, funcionários públicos, bancários, caixeiros, agricultores, pescadores, serralheiros, pedreiros, homens de capacete,  senhoras e senhorinhas  (de cabeça coberta por véus negros  e brancos rendilhados, ou de cabeça descoberta), serventes, criados, cozinheiros, lavadeiras, etc, etc,  gente de todos os estratos sociais, sem distinção de côr, de idades e de sexo, que o solene momento uniu. Os alunos das Escolas do distrito  vestiam a farda da Mocidade Portuguesa: calções e meias altas castanhas, camisa verde com emblema, bivaque na cabeça e cinto castanho com uma fivela branca com o enorme S metálico incrustado a simbolizar a fidelidade a Salazar, e carregavam ao ombro velhas «mannlikas», espingardas alemães da 1ª Guerra Mundial (1914-18), numa mistura de sagrado e profano que só a compreensão do regime em que se vivia permite agora compreender... As alunas vestiam bata branca, ou saia azul escura e blusa branca, consoante a instituição de ensino que frequentavam, escolas públicas ou colégio das irmãs Doroteias.


A imagem  percorreu as ruas da cidade, rumo ao velho campo de futebol, onde foi realizada uma Missa Campal

                                                             
Foi no cimo desta tribuna forrada de sedas, que a imagem foi colocada e foi ministrada uma Missa pelo padre Guilhermino Galhano, pessoa muito estimada na urbe. Ladeando a imagem, encontrava-se a guarda de honra composta por alunos da Escola Prática de Pesca e Comércio de Moçâmedes, envergando fardas, à época obrigatórias, da Mocidade Portuguesa. Era então Chefe de Castelo, Carlitos Alves de Oliveira, que se encontra na dianteira. Reconhecemos ainda os então alunos Ferreira e Beto de Sousa, à direita da imagem, e à esquerda, Rui Bauleth de Almeida e Albertino Gomes (clicar sobre a foto para aumentar).


Já no interior do campo de futebol  foram de novo lançadas  ao ar pombas brancas que, percorrendo vários e sinuosos vôos, acabaram pousando aos pés da Imagem, acontecimento insólito que deixou toda a gente surpreendida.

Terminada a missa campal e as  centenas de comunhões que se seguiram,  a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, sempre levada em ombros e acompanhada das pombas brancas que nunca a abandonaram, prosseguiu  em procissão rumo  à Igreja de Santo Adrião, onde à entrada passadeiras vermelhas estendidas pelo chão aguardavam a sua chegada.  Todos queriam carregar a imagem, incluindo senhoras de diferentes idades, irmãs Doroteias, que fizeram questão de participar.
 
 
Já no interior da Igreja iluminada e de portas abertas, com gente que entrava e saia pela noite fora até ao alvorecer do dia, em devoção à Senhora de Fátima, decorreram terços, cânticos, ossanas e orações,  numa "velada", sob a  orientação de senhoras da Acção Católica, que constantemente se revezavam.
 
 
 
Na manhã do dia seguinte, de novo a população de Moçâmedes aderiu em massa à cerimónia, da "Benção do Mar", conduzindo a imagem da Santa, em procissão, desde a Igreja até à velha ponte de embarque/desembarque, fazendo-a embarcar para o interior de uma traineira que percorreu a baía de ponta a ponta, tendo a acompanhá-la um cortejo de centenas de barcos de pesca, de todas as artes, e de todo o distrito, barcos de carga e de transporte, gasolinas, etc, devidamente engalanados e apinhados de gente.
 
 
 

No dia seguinte foi a vez  da "Benção do Mar"
 

A  "Benção do Mar"
 A imagem é conduzida para o interior de uma traineira engalanada...

 

A imagem de Nossa Senhora de Fátima  no decurso da cerimónia da "Benção do Mar"

 

A "Benção do Mar"


Outro pormenor do cortejo marítimo por ocasião da "benção do mar", com a cidade ao fundo. À dt. reconhecemos, entre outros, Álvaro da Silva Jardim (Álvaro Moura)
 



Enquanto na baía decorria o cerimonial da  "Benção do Mar", em terra, junto a um velho barracão, entre a praia e a Avenida, o corpo da Associação Beneficente dos  Bombeiros Voluntários de Moçâmedes,  comandado por Sacadura Bretes, e povo muito povo, aguardavam o regresso da imagem para de novo se incorporarem na procissão que a conduziria de regresso ao campo de aviação, onde se assistiu  à 
 cerimónia do ADEUS.
 

Algo impressionante, com milhares de lenços brancos a acenar,  pétalas de flores esvoaçando, olhos lacrimejantes, enquanto a imagem, retirada do andor, e transportada em ombros, desaparecia no interior do avião. 
 
Os mais antigos habitantes da cidade recordavam a grandeza de outras visitas, como a visita de Sua Alteza o Principe Luiz Filipe  em 1907, quando Moçâmedes de vila havia subido a Real Cidade, encantada que ficara com delicadeza e encanto do seu  jovem Principe. Recordavam  a  pompa e circunstância que tinha presidido à visita do Presidente Carmona, em 1938,  que fora aguardado à entrada do navio na baía,  por uma escotilha de centenas de barcos à vela, e festejada durante 3 dias, com desfiles váriados em plena Avenida da República que se apinhou de gente, e que incluiam desfiles de povos indígenas de várias etnias, cuanhamas a cavalo, cuamatos, evales, cafimas, cuvales,  muhilas, etc, desfile de alunos das escolas vestidos com as suas batas brancas, marchando de braço esticado para a frente, em «saudação olímpica»**...  Portugal pretendia assim mostrar ao mundo a unidade do povo de Angola e a sua vontade de continuar Portugal.. E para culminar um grande banquete com distribuição de brinquedos,  oferecidos a todas as crianças, incluindo as africanas, que à época eram muito poucas, uma vez que o grosso da populaçáo africanaeram contratados por 2 anos, fundos os quais  regressavam às suas terras, homens sós que prestavam serviços nas pescarias e nas propriedades agricolas, etc, etc.  em plena Avenida da República que se apinhou de gente. ue pretendia mostrar ao mundo a unidade do povo de Angola e a sua vontade de continuar Portugal..
 
Em 1948, a Imagem de  Nossa Senhora de Fátima, vinda da Cova da Iria, em peregrinação por terras do Ultramar português, era igualmente aproveitada pelo poder político vigente. Os discursos oficiais proclamavam: Nossa Senhora estava ali, para "...em nome da Paz e da reconciliação entre os povos, a todos unir em nome de Portugal!".

Ficam mais estas recordações.  

MariaNJardim 


(*) Estava-se na vigência do Estado Novo, no rescaldo da II Grande Guerra Mundial (1939-1945).  Nesta altura ainda não se nota a presença de Mocidade Poruguesa. Neste pormenor, o da saudação olímpica, diz-se que Salazar copiou as instituições fascistas alemães e italianas dirigidas para a juventude, que visavam "estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina, no culto dos deveres morais, cívicos e militares". Os jovens  estudantes eram obrigados a aceitar, mas faziam-no até com um certo orgulho, gostavam de fardas, desconhecedores das conotações políticas da instituição, e mais interessados naquilo que tinha de desportivo,  cultural e social (vela, voleibol, futebol, ténis, natação,  excursões, camaradagem...)

 
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22 agosto 2010

Moçâmedes cidade desporto: a contribuição do Sport Moçâmedes e Benfica



















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Em Moçâmedes, podemos afirmar sem receio de errar, a adesão às lides desportivas foi um fenómeno de massas que envolveu várias gerações de atletas, adeptos e espectadores.

De início foi o futebol, com a formação ao nível da cidade e distrito, do Independente Clube de Porto Alexandre, seguido de imediato pelo Ginásio Clube da Torre do Tombo, em 1919. Depois, vieram outras associações desportivas, como o Atlético, o Sporting e o Benfica, este último já em 1936.

A seguir ao futebol, vieram, a partir da década de 1940, outras modalidades desportivas: basquetebol masculino, basquetebol feminino, voleibol e  hóquei em patins. Não podemos ignorar também outras modalidades desportivas mais ou menos personalizadas,  que muito cedo começaram a surgir na cidade, como o ténis (low ténis) e o ténis de mesa, o remo e  a avela, a natação, o ciclismo, a ginástica, o ballet, o box, a esgrima, a pilotagem aérea, e o automobilismo. (vidé: Memórias Desportivas)

Mas o que nos traz aqui hoje,  é o basquetebol feminino, modalidade surgida em Moçâmedes na segunda metade da década de 1940 pelas «mãos» do dinâmico e irrequieto Sport Moçâmedes e Benfica,  modalidade que teve a sua década de ouro nos anos 1950.

Debrucemo-nos então sobre o Sport Moçâmedes e Benfica e sobre as suas gentis basquetebolistas que, a par outras adversárias, fizerem vibrar, durante mais de uma década,  plateias a abarrotar de espectadores, sem distinção de sexo,  idade, e côr desportiva.








As pioneiras

Estava-se nos finais da década de quarenta (1947-1948). No mundo do pós II Grande Guerra tudo estava aceleradamente a mudar: usos, costumes, mentalidades...
Quem diria uns anos antes que estas raparigas estariam aqui? O desporto, dizia-se ainda nos anos 40, era prejudicial à maternidade, e a mulher nasceu para ser mãe! E para os mais puritanos, desporto feminino era puro exibicionismo e um perigo para a «pureza» e o «pudor» femininos, as qualidades mais apreciadas numa mulher.
Mas o mundo não pára e as gerações das raparigas do pós-guerra 1939/1945,  jamais voltariam a ser como as suas mães e como as suas avós... E essas mudanças estavam também a acontecer em Moçâmedes...

O Sport Moçâmedes e Benfica que  foi o último clube da cidade de Moçâmedes a formar-se,  foi na modalidade de basquetebol, mais uma vez, o  primeiro a arrancar com a criação de duas equipas de basquetebol feminino que se disputavam entre sí, na ausência de equipas competidoras, uma envergando camisolas vermelhas com números brancos, outra envergando camisolas brancas com números vermelhos.


A foto acima guarda para a posteridade a imagem e a memória de algumas das nossas basquetebolistas pioneiras:

Foram elas, de cima para baixo e da esq. para a dt: Ofélia Nascimento, Hélia Paulo (a minha tia), Maria Amélia Gouveia, (Tito), Esmeralda Figueiredo e Maria Guerra? Embaixo: Maria Augusta Gouveia (Tito), Olga Coquenão e Ana Liberato. 

Mas outras, por não se encontarem aqui não deverão por isso ser esquecidas, tais como Semi Amaro, Luzia Cabral, Néné Cabral, Ivete Campos...

Mas essas equipas depressa se esboroaram por falta de competitividade e porque nesta altura eram ainda muito poucas as jovens cujos pais consentiam em as deixar enfileirar em actividades desportivas. Tiveram que passar mais alguns anos, para que as mentalidades mudassem um pouco mais e a modalidade começasse a ser praticada por outros clubes da terra, então com redobrado vigôr e grande entusiamo.

Esses tempos de transição, ficariam também marcados pelo modo como as raparigas se apresentavam equipadas, não com calções como posteriormente  viria a acontecer, mas com short´s até ao joelho, como mandavam as regras de «decência» e os «bons costumes» na época.

2. O regresso em força do Sport Moçâmedes e Benfica na década de 1950, a
década de ouro do basquetebol feminino moçamedense

Após a primeira experiência em finais da década de 1940, o desporto em Moçâmedes ficou bastante tempo sem esta modalidade feminina, até que, em 1952, com a chegada à cidade de Madame Sybleras vinda do Congo Belga, a senhora francesa passou a ministrar aulas de Ginástica no salão da velha sede do Benfica, na Rua Governador Calheiros, ao lado do edifício da Câmara Municipal de Moçâmedes. Das aulas de ginástica ao basquetebol feminino, foi um salto, e Madame Sybleras , talvez por se tratar de uma mulher, trouxe um novo incremento à modalidade que começou de facto a ganhar cada vez mais aderentes. 

O Sport Moçâmedes e Benfica, clube aguerrido e feito de muita «carolice», seria de novo o primeiro a formar uma equipa de basquetebol feminino, tendo a orientá-la , nesta altura, e por bastante tempo mais, o treinador Arménio Lemos. Foram muitas as jovens que na altura se inscreveram. Aliás, o Benfica sempre foi o clube da terra com um maior número de jovens no seu elenco de atletas.

Eis uma das composições dessa época de transição ainda bem assinalada pela presença dos shorts na indumentária, tal como era moda em  finais dos anos 1940.  































Exibindo taças e galhardetes. Em cima, da esq. para a dt:  Fernandina Peyroteu, Maria de
Gouveia (Tito), Virginia Uria, Marlene Oliveira e Maria Augusta de Gouveia (Tito). Embaixo: Gina Trindade, Clarabela Trindade (Bela), Celeste Ornelas e Fátima Abrantes. 






 















Aqui estamos perante uma composição idêntica à anterior nos seus elementos principais, porém já sem a presença de 3 atletas, Fernandina Peyroteu, Maria Gouveia (Tito) e Virginia Uria. Verifica-se uma nova presença, a de Bernardete Diogo.

[PDVD_243.JPG]
Este foi o 1º encontro entre o Sport Moçâmedes e Benfica e uma equipa de fora. Trata-se da equipa de basquebol feminino do Futebol Clube do Lubango (nome estranho na medida em que se trata de basquetebol, mas era mesmo assim). Nessa altura quem treinava a equipa do Lubango era António Inácio dos Santos que pouco tempo depois veio criar a primeira equipa de basquetebol feminino do Ginásio, radicando-se em Moçâmedes para onde foi transferido pelos CFM.

Em cima, da esq. para a dt.:
Ramiro Reimão de Castro (Dirigente do FCL) e Manuel Inácios dos Santos (treinador do FCL). Das atletas do Benfica: Gina Trindade, Maria Augusta de Gouveia, Celeste Ornelas, Bernardete Diogo. à esq. o dirigente do Benfica, Djialme Bernardinelli. Embaixo. Das atletas do Benfica: Clarabela Trindade (Bela), Fátima Abrantes, Marlene Oliveira e Oliveira (Maboque), dirigente do Benfica. 


 

















Aqui, a equipa do Benfica surge composta pelas seguintes desportistas: Em cima, da esq. para a dt: Fátima Abrantes, Minelvina Cruz, Fernandina Peyroteu, Marlene Oliveira e Lurdes Teixeira. Embaixo: Gina Figueiredo, Clarabela Trindade, Gina Trindade e  Irene Amado.
















 



Nesta foto referente ao mesmo ano da anterior, reconhecemos, em cima, e da esq. para a dt: Fernandina Peyroteu, Minelvina Cruz, Julia Vilhena, Lurdes Teixeira, Lena Peyroteu, e Irene Amado. Embaixo: Marlene Oliveira, Clarabela Trindade, Fátima Abrantes Gina Trindade. Em 1951, como se pode ver, ainda usavam shorts, mas em breve as coisas iam mudar....





 















Esta composição bem mais numerosa, conta com as seguintes atletas:
Em cima: Lurdes Teixeira, Fátima Abrantes, Madame Sybleras (prof Ginástica), Gina Trindade, Marlene Oliveira e Minelvina Cruz e Arménio Lemos (Treinador). Embaixo: Julia Vilhena, Gina Figueira Fernandes, Clarabela Trindade (Bela), e Stela Trocado.










 









Foto de 1954, onde podemos ver, da esq. para a dt. , em cima: Luisa (gémea), ?, Lurdes Teixeira, Júlia Minas? e Gina Fernandes. Embaixo:  Edith Pinheiro, Graciete (Gémea), Lurdes e Clarabela Trindade.






















Outra foto de 1954. Aqui o Benfica alinha com:
Em cima e da esq. para a dt: Minelvina CrUz, Marlene Oliveira, Bernardete Tavares, Lurdes Teixeira e Esmeralda
Embaixo: Fátima Abrantes, Lurdes Tavares, Clarabela Trindade e Luisa (gémea).
 
[benfica.jpg]
Foto tirada em 1955. Nesta composição estão representadas as seguintes atletas, de cima para baixo e da esq. para a dt: Minelvina Cruz, Gina Trindade, Lurdes Teixeira, ? e Marlene Oliveira. Embaixo: Gina Fernandes, Clarabela Trindade, Piedade e Esmeralda.


















Em Benguela: Troca de galhardetes em Benguela, entre Clarabela, a capitã da equipa do Benfica e Alexandra Sampaio Nunes, a capitã da equipa do Feminino de Benguela





Chegou-se ao final da década de 1950, e o imparável Benfica continuava activo, apresentando um elevado número de atletas que o clube aglutinava, contudo já não possuindo nesta altura equipas competidoras à altura. Em cima, da esq. para a dt: Guida Tavares, Manuela Sena Costa,  Lurdes Teixeira, Lurdes Tavares e Carla Almeida Frota. Embaixo: Céu Martins, Marilia Cavaco, ?Teixeira, Lina Almeida Frota e Elsa Bernardino.























Nesta foto o Benfica alinha com:
Da esq. para a dt.
Em cima: ?Aguilar,?Teixeira, Manuela Costa e Carla Almeida Frota.
Embaixo: Elsa Bernardino, Carolina Frota (Lina) e Manuela Leitão.
















Eis como se encontrava formada  a equipa do Sport Moçâmedes e Benfica em 1960:
Da esq. para a dt. Em cima: Minelvina Cruz (veterana), ?, Margarida Tavares e Ivone Bernardino?
Embaixo: Xana, ?,?,?, Teixeira?

















 Seguem as duas irmãs Trindade, Gina e Clarabela.

Outro agrupamento, este em 1961. São (em cima): Manuela Faustino, Marísia Pestana, ??? . Embaixo: ?? Costa Santos?,... Quem será capaz de dar uma ajuda na identificação total destas atletas?  
















Novas atletas foram chegando com a entrada na década de 1960. Para algumas os papás que não haviam deixado as manas mais velhas praticarem a modalidade, foram agora mais permissivos, deixando as caçulas mais à vontade. 

Os anos 60 foram de facto de revolucionários ao nível dos costumes por toda a Europa e Estados Unidos, e os moçamedenses, bem lá quase nos confins da África, embora a passos ligeiramente mais lentos em relação às duas meninas, não deixaram de se enquadrar nos novos tempos. E as jovens eram tantas a aderir ao desporto, que, como nos primórdios da modalidade o Benfica apresentava agora duas equipas, uma equipada  com brando e vermelho e outra com vermelho e branco, no que diz respeito a camisolas e calções.




[PDVD_263.JPG]



A equipa do Benfica de 1962. Em cima, da esq. para a dt: Minelvina Cruz (veterana), Xana, Amélia Castro e ? Embaixo: Elsa Bernardino,?, Mª Elizabete Ilha Bagarrão (Betinha) e ?. Também aqui seria necessário uma ajuda na identificação das atletas...



 














O Benfica em Nova Lisboa. Da esq. para a dt.: Em cima: Elsa Bernardino, Xana, ? e Elizabete Bagarrão (Bétinha). Embaixo: Minelvina (veterana), Marísia Pestana, Amélia Castro e ?
 



 
 

Estas foram as fotos relativas a esta modalidade e a este Clube Desportivo que consegui aglutinar. Muitas mais haveriam não fora o modo como toda esta gente teve que abandonar Angola, em 1975, deixando ao abandono os seus álbuns de recordações.

Para terminar, não  quero deixar de recordar os nomes dos treinadores que, mais se evidenciaram ao longo de pelo menos duas décadas ao cuidarem da formação destas equipas de basquetebol feminino:do Benfica: Arménio Joaquim Lemos,Madame Sybeleras, Artur Pinho Gomes e  Orlando Ferreira Gomes. Que me perdoem se por a memória me atraiçoar, deixei aqui de citar outros nomes, tanto das basquetebolistas como dos seus treinadores.

Fica mais esta recordação!
MariaNJardim

Quanto 1ª foto, dos espectadores, reconheço, entre outros:

1º plano : Mestre Alfredo Pereira, Dr. Álvaro Barreto de Lara,  ????????
2º plano: ???, 
3º plano: ??, Januário Tendinha, ???, Manuela Costa, ?, Isabel Costa, ???
4º plano: ? Jesus (enfermeiro), ??, Rodolfo Ascenso, Orlando Salvador, ??, Branca Gouveia, Ludovina Leitão, ???
5º plano:  ???
???


Mais sobre DESPORTO em Moçâmedes



11 agosto 2010

Gente de Moçâmedes: Dr. Júlio Mac-Mahon de Vitória Pereira




 
Julio Mac-Mahon de Victória Pereira




Escola Comercial e Industrial Infante D. Henrique, de Schiappa de Campos. Foto de ICCT



Professores e alunos finalistas nas escadarias da Escola Comercial e Industrial Infante D. Henrique. à frete, em 1972.
O Dr. Júlio Mac-Mahon de Vitória Pereira ,  professor de Físico-Quimicas e Mercadorias, é o 4º da dt para a esq., à frente (com bata branca).



Professores e alunos finalistas nas escadarias da Escola Comercial e Industrial Infante D. Henrique. O imprevisível Dr. Júlio Mac-Mahon de Vitória Pereira, professor de Físico-Quimicas e Mercadorias, à frente, com uma peruca na cabeça.


 Professores e alunos finalistas nas escadarias da Escola Comercial e Industrial Infante D. Henrique. O Dr. Júlio Mac-Mahon de Vitória Pereira à dt.

Professores e alunos finalistas nas escadarias da Escola Comercial e Industrial Infante D. Henrique. à frete, em 1972. Entre  outros, reconheço: Bonvalot, o 6º da dt. para a esq. (em cima), e à  frente, Lito Abreu. Na 1ª fila, à esq.: a Dra Isabel Serrano, o Dr.  Balsa, o Dr. Júlio Mac-Mahon de Vitória Pereira (de bata branca),  professor de Físico-Quimicas e Mercadorias.



      Júlio Mac Mahon Vitória Pereira no seu Mini-moke
Júlio Mac Mahon Vitória Pereira no seu Mini-moke




O Dr. Júlio de Mac-Mahon Vitória Pereira, analista, proprietário de um Laboratório de Análises Clínicas na Avenida da Praia do Bonfim, frente aos CTT, e  professor de Fisico-Quimicas e Mercadorias, primeiro, na antiga Escola Comercial e Industrial  de Moçâmedes e em seguida na Escola Comercial e Industrial Infante D. Henrique, foi uma das figuras mais carismáticas que Moçâmedes conheceu ao longo das duas últimas décadas da colonização portuguesa, quer como pessoa, quer como professor, tendo, neste aspecto, para o bem e para o mal,  marcado a vida de muitos estudantes.

Júlio Victoria Pereira ou   Mac-Mahon, como era conhecido,  tanto era capaz de dar uma classicação de 19 valores a um aluno, como de lhe dar um «zero». E tanto era capaz de «dar a camisa» a qualquer aluno que necessitasse de ajuda, como não se ensaiava em mandar umas «galhetas» àquele outro que passasse das «marcas», que ele próprio estabelecia.

Dele, é com um misto de reprovação e de carinho, que ainda hoje recordam alguns dos que foram seus ex-alunos, como poderemos lêr a seguir, através destes dados colhidos  da Net:




«... Só havia um professor por quem esperávamos depois do 2º toque - o Mac Mahon - se fossemos embora ele virava bicho e não se ensaiava nada em distribuir umas galhetas pelos alunos. Também não marcava falta a quem chegasse tarde. Entrávamos na sala só não podíamos dizer nem Bom Dia nem Boa Tarde - estávamos proibidos para não interromper a aula. O Mac era um homem tão bruto como bom. Tinha um coração de pomba. Se via um aluno com os sapatos rotos tirava dinheiro do bolso e mandava-o comprar uns sapatos apresentáveis. Gozava com os contínuos quando eles iam lá ler os comunicados da MP porque exprimiam-se mal. Dizia , lá vem um Kaitô ler uma folha de papel. Quando faltávamos às aulas dele ia-nos buscar de Mini Moke à praia - e ai de quem ousasse em recusar a boleia forçada!!! ...
O "Mac" era um professor fantástico- um touro com coração de pardal - pagava-nos bilhetes para o cinema e vinha buscar-nos de Mini Moke à praia quando faltávamos às aulas...» By Kady Press in Mazungue


«O Dr. Vitória Pereira, de seu nome Júlio Mac Mahon Vitória Pereira foi o professor mais "sui generis" que eu tive. Quando qualquer aluno chegava tarde às aulas só tinha uma coisa a fazer:entrava na sala, não podia dizer nada e sentava-se no seu lugar. Nada de justificações, pois o Mac sabia ler as nossas mentiras. Não se podia era interromper a aula com palavras. De resto, o aluno atrasado não tinha qualquer problema. O Dr. Vitória Pereira tinha um laboratório de análises clínicas perto do antigo campo de futebol.»                    
From:   Carlos Pereira in Sanzalangola


«Anjo e demónio»,  Mac Mahon tanto era  capaz de dar uma classicação de 19 valores como um «zero».  Ficou  célebre um exame da cadeira de «Mercadorias» do Curso Geral de Comércio, na Escola Comercial e Industrial de Moçâmedes, decorrido no início dos anos 1960,  em que um aluno de nome Faroleiro foi «espremido até ao tutano» no decurso do mesmo  e no final mandado sentar. A seguir o Mac-Mahon chamou a aluna Manuela e na  primeira  pergunta mandou-lhe descrever o «encadeamento das  indústrias». Tomada pelo nervosismo e pela emoção Manuela começou a gaguejar, então o  Mac virou-se de novo para o  Faroleiro, que já tinha obviamente  terminado o seu exame, e mandou-lhe descrever também o mesmo  «encadeamento das indústrias».  Assustado, o  Faroleiro disse: - ó sôtor, eu já fiz   o meu exame! Responde o Mac-Mahon: - olha que está a contar... está a contar...     Foi a debandada geral de todos os alunos que já tinham terminado os   seus exames e que se encontravam na sala apenas a assistir aos  restantes  exames. No entanto, Mac-Mahon era um professor capaz de «dar a  camisa» a  qualquer aluno que necessitasse de ajuda... 
Uma questão de ser  e estar !

Mas ainda há mais...

«...lembro-me do Dr. Vitória Pereira ir connosco apanhar umas  pedras ao deserto para fazermos os centros de mesa.Belos tempos!  que  saudades eu tenho de Moçamedes de Angola... (Bálita, Sanzalangola)




 «...São ai nas dez da noite. Que estamos sentados no Café Avenida, não na esplanada porque está frio. Devem estar só uns 20 graus e um gajo num pode se constipar. Estamos disse eu porque como evidente não estou sozinho, senão dizia estou. Alem de eu mesmo está o Beto Amorim, filho do Sr. Alberto do Liceu, o Manel Vitoria Pereira e o Ferrão mais velho. 'Que fazem estes putos aqui no Avenida a esta hora?' Perguntou alguém que num sei quem foi. Estamos a aviar garrafas de Dão. O Radio Clube pagou o ordenado, eu invento que faço anos e vamos fazer festa. Duas garrafas chegou para ver que estavam oito na mesa. Mas tem giro é que tinha mesmo dois Betos, dois Ferrão e dois Manel. Como já éramos muitos fomos mesmo até no parque infantil. Eu agarrei uma palmeira e pedi namoro e ainda hoje num sei que foi que me respondeu ela. Melhor mesmo é irmos para casa. Vamos todos levar o Beto. Assim se houver maka somos muitos e vamos estudar. Se entra sem fazer barulho. Entrou todos os oito. Beto directo para o quarto. Entra mãe dele e pergunta:'que estás a fazer?' 'quero beber água fresca' responde ele enquanto tenta chegar ao puxador do guarda-fatos. Foi corrida em nós seis da casa para fora. E agora quem vai levar quem. Manel que é mais novo tem de ser levado a seguir. Passamos na Minhota e como estávamos com sede bebemos uma Nocal preta cada um. Transbordou. Quem aparece quando estamos sentados na avenida, debaixo do carramachão éramos seis ou se éramos mais? O Dr. Júlio Vitoria Pereira no MiniMoke. 'Entrem já todos para aí!' Nenhum dos seis hesitou. Maneles entraram na frente, eu e Ferrões no banco de trás. Direcção: Torre do Tombo. 'Vão apanhar ar nessas trombas'. Que sim. Ninguém mesmo podia dizer outra coisa, pois as palavras ficavam enroladas na boca e num queriam sair. 'Onde ficas?' 'Dr. fico aqui? O miniCaté amanhã e obrigado' mas depois é que vimos que estávamos atrás do campo de futebol, na rotunda. Nós os quatro, eu e Ferrões temos que ir a pé até em casa. Quem vai levar quem? Tá combinado. Vamos pelo Atlético, viramos na esquina do Dentista Francês, e seguimos até à casa do Ferrão. Ficou combinado. Ferrões agora têm de me levar a mim. 'E depois quem me trás a mim?' arrastou a s palavras um dos Ferrões. a ver se ainda parou eu sai por um lado e Ferrão por outro. '
Ainda hoje não sei como acordei em minha casa e na minha cama.
 O que valeu mesmo foi que não estava a chover. »
Sanzalando, por JotaCê Carranca in RECORDAR (30)

Ficam mais estas recordações!

MariaNJardim
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