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18 julho 2008

Inauguração do 1º troço do cais do porto de Moçâmedes em 24.05.1957


Foto: No cais, junto do paquete «Uije» aguardava...
 Foto: Panarâmica da baía no decurso das obras da construção do cais acostável e da avenida marginal de Moçâmedes.


 Fotos históricas que marcam o momento da chegada do Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo a Moçâmedes, no paquete Uíge, em 24.05.1957, para proceder às cerimónias da inauguração do 1º troço das obras do cais do porto, iniciadas no dia 24.06.1954, por ocasião da visita do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes. 

 
Do cimo da falésia da Ponta do Pau do Sul, vislumbra-se, devidamente engalanado o paquete «Uije», o primeiro a aportar ao cais de Moçâmedes. Junto do navio, parte da multidão que ali se havia deslocado para assistir à inauguração.
Nesta 1ª fase das obras ainda a maioria das primitivas pescarias  alí se encontravam. Não tardaria muito a ser demolidas.

 
Podemos ver neste aglomerado populacional que aguarda o desembarque do Governador Geral, a fazer a guarda de honra, um grupo alunas do Colégio de Nossa Senhora de Fátima de Moçâmedes e respectiva Irmã Doroteia. Reconhece-se, entre outros, à esq. Mário Guedes da Silva (aqui em prepresentação da direcção do Sport Lisboa e Benfica); ao centro Mário da Ressurreição Maia Rocha (Chefe de Repartição da Câmara Municipal de Moçâmedes, e, um pouco mais à dt., o professor primário Canedo (com a mão co cabelo).



Celísia Vieira Calão, faz as honras da «casa» entregando a «chave da cidade» ao Governador Geral de Angola. A descer a escada do navio, de fato escuro, o então Governador do Distrito de Moçâmedes, Vasco Nunes da Ponte.

 

Apresentação de cumprimentos das «forças vivas da cidade» de Moçâmedes ao Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana . Ao centro, cumprimentando o Governador, Abílio Gomes da Silva (vereador da Câmara Municipal de Moçâmedes). Da esq. para a dt.: o médico Dr. Mário Moreira de Almeida, (Presidente da Câmara Municipal de Moçâmedes), Raúl Radich Junior (Vice-Presidente da Câmara Municipal de Moçâmedes), Rui Duarte de Mendonça Torres (Vereador da Câmara Municipal de Moçâmedes), Virgilio Carvalho (Vereador da Câmara Municipal de Moçâmedes), Dr. Urbulo Antunes da Cunha (Presidente da Associação Comercial de Moçâmedes) e Dr. Manuel João Tenreiro Carneiro (Advogado).



O momento do descerramento da placa comemorativa da inauguração do 1º troço do cais do porto de Moçâmedes, em 24.05.1957, pelo Governador Geral de Angola.
  

Por baixo de um toldo erguido no cais, o Governador de Moçâmedes, Vasco Nunes da Ponte, entre o Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo, e o Dr. Mário Moreira de Almeida (Médico), presidente da Câmara Municipal de Moçâmedes, procede à assinatura do auto da inauguração.



Nesta foto tirada do cimo da falésia da Torre do Tombo, podemos ver o Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo e o Governador do Distrito, Vasco Nunes da Ponte e Governador Geral de Angola, tendo ao fundo o paquete Uíge.Todas as fotos aqui expostas foram-me gentilmente cedidas por Amilcar Almeida e por Celísia Calão.
 Outras cerimónias foram efectuadas no decurso desta visita , como a inauguração do novo edifício-sede do Grémio dos Industriais de Pesca e Derivados do Distrito, e a cerimónia da colocação da primeira pedra que deu início à construção do complexo desportivo do Sport Moçâmedes e Benfica, ambos os actos presididos pelo Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo...enquanto o paquete Uige no cais aguardava...
 O porto de caes após 5 anos do início da sua construção, em 1954


O cais já a funcionar em pleno alguns tempos depois...



Para ver fotos do lançamento da 1ª pedra no decurso da visita a Moçâmedes do General Craveiro Lopes em 1954, clicar AQUI.


Quem construiu o porto de Moçâmedes?

Por contrato, a empreitada por 3 anos foi outorgada pelo Comandante Sarmento Rodrigues
 a firmas adjudicatárias Engº Rafael del Pino e Moreno

Foto tirada em 1961, 5 anos após a inauguração da 1ª fase da construção cais acostável de Moçâmedes, e 7 anos após o lançamento da primeira pedra para  o início da mesma. 
              
                                                                          *    *     *
Motivos aconselháveis quanto ao local para construção do futuro cais acostável


(Parecer do Comandante Correia da Silva).
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Pela ordem das condições de abrigo, segue-se a baía de Moçâmedes que é presentemente um bom fundeadoro em condições normais de tempo, e poderá tornar-se um excelente porto permanentemente abrigado, dada a direcção constante das vagas, se se dragar a enseada da Torre do Tombo, ao sul da baía, e se se fizer aí, não o porto de pescadores que hoje é, mas o porto comercial. A muralha acostável da Torre do Tombo não será nunca um porto grande, mas será um porto bom e mais que espaçoso para o movimento provável de Moçâmedes. Com essa muralha de mais a mais, dado o abrigo da enseada, poderá fazer-se acostável de qualquer lado e em qualquer direcção que seja construída, mais espaçoso será o porto de Moçâmedes.


Muito se tem pensado em fazer o porto acostável de Moçâmedes na enseada do Saco. Embora a terra que vem da ponta do Giraúl dê também a essa enseada um abrigo que lhe dá uma boa praia de águas tranquilas, e extensão abrigada é muito menor que na Torre do Tombo, e mais facilmente se ressentirá a ressaca do sudoeste, que incide directamente a uma pequena distância da praia abrigada. Além disso, o Saco fica a légua e meia, pela praia, de Moçâmedes. A Torre do Tombo é hoje um bairro de Moçâmedes, e, se as obras do porto se fizerem , como certamente haverá a ligação por caminho de ferro e por estrada, pelo mar, da Fortaleza de S. Fernando a distância do último extremo da Torre do Tombo ao centro da cidade actual, percorrer-se-á em poucos minutos.
… … … … … … … … …
A preferência dada por algumas opiniões que conhecemos, do Saco do Giraúl, funda-se principalmente na amplidão de terrenos para edificações, na profundidade actual da enseada e no facto de ficar essa praia num ponto da linha do Caminho de Ferro além da passagem do Bero, que constitui, por enquanto, um dos mais graves obstáculos ao trânsito regular dos comboios, por ocasião da cheia.


Ora essas razões que justificam a existência actual, nessa praia, de uma atracação, não são, a nosso ver, suficientes para que se faça nessa enseada o futuro porto de Moçâmedes. Seria um porto novo a construir, não o porto de Moçâmedes, e , sem de forma alguma querermos dar a impressão de que existe, nesta origem de caminho de ferro, o mesmo duelo que há entre Benguela e Lobito, defendendo a orientação de fazer as obras definitivas na Torer do Tombo, seguimos apenas a velha predilecção, que sempre tivemos, como oficial de marinha, pelo maior abrigo das suas águas, que, neste caso, se combina com os interesses da cidade capital do distrito.
… … … … … … … … … …
(Cópia dactilografada do Relatório do comandante Correia da Silva, consultado em Moçâmedes, na Repartição Distrital de Administração Política e Civil).




Razões da opção quanto a um local a escolher para a construção do futuro cais acostável; parecer do Comandante Frederico da Cruz.

…Moçâmedes é, incontestavelmente, o terceiro porto da colónia, e tem condições para se trnasformar num dois mais importantes de toda a África Ocidental.
Escavado na latitude 15º e 10´Sul, a sua vasta área cobre 3.300 hectares. A área útil, ao Sul, próximo da cidade, não anda longe dos 600 hectares; ao Norte anda próximo dos 500 hectares.
A baía de Moçâmedes, profundo recorte em forma de concha, é limitada, ao Norte, pela ponta do Giraúl, e ao Sul, pela ponta Negra, se bem que o baixo Amélia, mais ao mar, tenha pretensões a esporão submerso.
O fundeadouro fica afastado da terra 750 metros.
Moçâmedes é testa do Caminho de Ferro de Sá da Bandeira, vias de comunicações que, fatalmente, se há-de alongar a caminho da Rodésia do Norte, em necessário paralelismo com a linha Lobito-Dilolo.
A sua importância futura, é pois, considerável.
Hoje, o porto de Moçâmedes serve principalmente a exportação do peixe seco, farinhas, óleos de peixe, e produtos agrícolas da Huila.
O seu movimento em toneladas de arqueação é já notável.
Em 1947 lançaram âncora nas suas águas navios nacionais de longo curso, totalizando 300.738 toneladas. Do livro «Moçâmedes» de Manuel Júlio de Mendonça Torres

Outras opiniões sobre o equipamento
:

(Manuel Pires de Matos, engºhidrográfico)


«Moçâmedes pode ser considerado um porto misto, predominando contudo nele as características de porto geral e de pesca.
O seu equipamento deve fazer-se no sentido de aproveitar o cais no quebra mar para embarque de pasageiros, carga e descarga de navios transportando deste ou para este porto, quantidade de mercadorias, carga e cereais a granel e carga e descrga de combustível líquido.
No cais longitudina, far-se-ão de preferência as operações de carga e descarga de navios com grandes quantidades de mercadorias a movimentar a carga de carne, peixe e frutas frigorificadas , pois os frigoríficos, armazéns , depósitos de carvão , etc., serão construidos junto deste cais, a servir por linhas férres em abundância para fácil manobra de grande quntidade de vagões, sem o receio de congestionamento.
De começo, o porto poderá dispôr de um frigorífico, armazéns, «gare» marítima, depósitos de carvão e silos, a construir nos terraplenos, que pelo presente ante-projecto se conquistam ao mar.
A construção de depósitos combustível líquido, entre a Ponta do Mexilhão e a Ponta do Noronha, é conveniente que se faça em subterrâneos a escavar na escarpa, para ficarem convenientemente abrigados dos ataques aéreos.
Além do equipamento já atrás indicado, serão precisos guindastes, a captação e a beneficiação, rede de distribuição de água aos navios e serviços do porto, a construção de uma central termo-electrica para as necessidades de Mossãmedes e do porto e um rebocado para as manobras de atracar e desatracar.
Mais tarde, quando as circunstâncias o aconselharem, deverá também considerar-se o equipamento do porto de pesca, a construção de carreiras para navios de vela e embarcações, armazens de redes e outros aprestos de pesca, doca seca para a reparação de navios, etc.
 

 Boletim Geral das Colónias . XVIII - 203
Nº 203 - Vol. XVIII, 1942, 1o1 pg.


Pesquisa de MariaNJardim
Para mais informação: AQUI


Fotos gentilmente cedidas por Amilcar de Sousa Almeida e Celísia Calão.

Para ver fotos sobre a visita do General Craveiro Lopes a Moçâmedes e a cerimónia da colocação da 1ª pedra, que em 24.06.1954 deu o arranque à construção do cais de Moçâmedes, clicar AQUI.



Nota: Agradece-se se forem daqui tiradas fotos e textos que não esqueçam os respectivos créditos de texto e de imagem.

A 1ª traineira de Moçâmedes era pertença da família Grade

 


A 1ª traineira que sulcou os mares de Moçâmedes... A foto, inédita, foi-me cedida por José Vicente Arvela. A traineira encontra-se acostada em Portimão, podendo ver-se a meio o prédio a conceituada "Casa Inglêsa".



Esta enorme «traineira» que aqui vemos em Portimão encostada à muralha do porto, num local muito próximo da «Casa Inglêsa» (o café que tem à venda o melhor que se fabrica na doçaria regional algarvia), foi a primeira traineira que sulcou os mares de Moçâmedes. Chegada a Portugal, em tempos mais atrás, encomendada pela Cooperativa «Galinho», que se dedicava à pesca da sardinha, era movida a vapôr através de caldeiras. Mais tarde, por volta dos anos 1940, foi adquirida pela família Grade, oriunda de Portimão e residente em Moçâmedes, mas teve que passar pelos estaleiros de Portimão onde foi submetida a várias modificações, que incluiram a retirada do cano, uma vez que passou a funcionar a motor a gasoil.
 

ela fora ali comprada, levada num navio até Luanda, e de Luanda navegou pelos seus próprios meios até Moçâmedes, de onde rumou para a Baía dos Tigres, o local onde ficava a Pescaria do proprietário, por volta de 1940.

Foi levada até Luanda fazendo porte da carga de um navio, porém de de Luanda para a Baía dos Tigres, onde ficava a pescaria do proprietário, viajou pelos seus próprios meios. O primitivo nome que lhe foi então dado foi o de «Nossa Senhora da Luz». Ao chegar a Moçâmedes foi baptizada com o nome da filha do proprietário: «Maria José». 


Viajaram com ela, António Gonçalves de Matos (Sopapo) e outros algarvios dedicados à arte da pesca, que acabaram por se radicar em Moçâmedes, onde ficaram até à independência de Angola, em 1975. Quando se deu a independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, esta enorme traineira já tinha sido vendida a uma sociedade de que faziam parte Virgilio Gonçalves de Matos, Francisco Velhinho e Miguel de Freitas. Perante o agravar dos conflitos entre os movimentos em luta, e a degradação das condições de vida na cidade de Moçâmedes, os sócios resolveram partir de avião para o Brasil, enquanto a traineira atravessou o mar, rumo às terras de Santa Cruz (Brasil), conduzida pelo seu mestre, de origem madeirense, cujo nome não recordo, que com ele levara a família constituída pela mulher seis ou sete filhos. No Brasil, mais propriamente em Santos, esta traineira acabaria por ser vendida dada a dificuldade na aquisição de licenças de pesca para barcos estrangeiros. Nesse mesmo dia em que a enorme traineira partiu de Moçâmedes, com uma diferença de horas, partiu também na sua traineira rumo ao Brasil, José Vicente Arvela. Nunca se encontraram pelo caminho. A primeira foi dar a Porto Seguro, esta, a S. Salvador da Baía.

Imagine-se o que foi a chegada à baía da traineira de José Arvela, sem prévio aviso às autoridades portuárias daquela cidade, com a bandeira portuguesa desfraldada ao vento. A traineira entrou descontraidamente e ficou ali fundeada à espera. Do modo como foram recebidos o seu proprietário jamais esquecerá. A bordo subiu o chefe do Comando do 2º Distrito Naval do Brasil - Salvador da Baía, que logo lhes ofereceu alojamento e alimentação por um ano.


Na foto, a traineira encontra-se acostada em Portimão, podendo ver-se a meio o prédio a conceituada «Casa Inglêsa», o café que tem à venda a melhor que se fabrica na doçaria regional algarvia . À dt, é visivel a torre de uma das Igrejas da cidade.

Ao ter sido adquirida pela família Grade, esta traineira, como referi, ainda passou pelos estaleiros de Portimão, onde lhe foi, por ex., retirado o cano que aqui vemos, por força da substituição do motor, e atribuido o novo nome, o de «Maria José», nome da filha do proprietário. Viajaram com ela, António Gonçalves de Matos (Sopapo) e outros algarvios dedicados à arte da pesca, que acabariam por se radicar em Moçâmedes, onde ficaram até à independência de Angola, em 1975.

Gente de Moçâmedes: no Clube Nautico (Casino)


Espectacular foto em dia de calema, de uma época em que não existiam ainda as arcadas que separavam a Praia do Clube Nautico (Casino)

As Festas do Mar inauguradas no inicio de 1960, começavam assim... 

As escadarias de acesso...
No terraço do Casino


Grupo de moçamedenses posa para a posteridade junto à entrada e no terraço do Clube Nautico (Casino). Na 1ª foto, o Clube Nautico estaria em obras e na 2ª, podemos ver, atrás, uma panorâmica da Praia das Miragens e do mar com alguns barcos e batelões. Reconheço Olimpia Aquino, em cima è dt., Raquel Martins Nunes com a bola na mão, ? Edith Lisboa Frota à sua dt. e os pequenos Abilinho Aquino Braz e Maria da Graça Nunes de Sousa. Na 2ª foto reconheço Raquel Martins Nunes (à esq.), Edith Lisboa Frota, ?, e Olimpia Aquino (à dt.). Embaixo, Maria da Graça Martins Nunes e Abilinho Aquino Braz.



 Recortes de Jornal, por volta da década de 1930:




A leitura destes recortes de jornal, onde Moçâmedes ainda se escrevia com 2 ss, remete-nos para o primitivo Clube Náutico (Casino Miramar) que surgiu no interior de um grande pavilhão levado das instalações da Praia Amélia para a Praia das Miragens, outrora pertencente a uma empresa que ali existiu e que se extinguira. Era feito de madeira, assente sobre pilares de pedra, tipo palafita, e foi mais tarde objecto de reconstrução, com materiais de construção modernos e uma traça igualmente moderna, estilo arquitectónico "Arte Deco", graças à sua direcção, e às gentes de boa vontade da cidade, de entre as quais se salienta o advogado Dr J. Carvalho dos Santos, dinamizador da ideia do novo e definitivo projecto, que teve no capitão J. Maria Mendonça que esteve no comando da Fortaleza na época, o executor, a quem a cidade muito ficou a dever em termos de embelezamento. Foi este capitão que deu ordens ao soldados que comandava, na década de 1930, para que procedessem ao desaterro e terraplanagem da zona que permitiu estender a Avenida da República até ao topo sul, galgando a subida, trabalhos efectuados a pá e picareta, sendo a terra dali retirada, levada através de vagonetas deslizando sobre carris de ferro, para enchimento de uma depressão no terreno que existia ao fundo da Avenida, em local próximo da Estação do Caminho de Ferro. 

Foi este trabalho, dirigido por quem não queria os seus soldados desocupados para que não adquirissem hábitos de preguiça corporal, e que incluiu também prisioneiros e até degredados vindos da Metrópole a cumprir s mais diversas penas na Fortaleza, que possibilitou mais tarde, já no início da década de 1950, com o Governador Silva Carvalho, o alindamento da mesma Avenida, completando-a com um espelho de água ladeado por duas gazelas, e tendo a encimá-la o Palácio da Justiça. 

Importa referir que naquele tempo pouco se podia contar com a participação do Governo em matéria de edifícios destinados ao lazer das populações,   como os clubes desportivos dependentes de pequenas quotizações,  e que foram os proprietários das pescarias de Moçâmedes, com especial realce para os das pescarias da Torre do Tombo, que nesse tempo ainda circundavam a baía, antes da construção do cais e da avenida marginal, que ajudaram a erguer quer o primitivo Clube Náutico, quer o que veio a seguir de arquitectura Déco, descontando uma certa importância por cada mala de peixe que exportavam através do Sindicato da Pesca, mais tarde Grémio.  O mesmo aconteceu com o Campo de Jogos do Sporting, e com o Complexo desportivo do Benfica, mais recentemente. Essas gentes ligada às pescas, cuja maioria vivia no Bairro da Torre do Tombo, nunca tiveram  o reconhecimento devido, incluso, a determinada altura  o Clube Náutico foi tomado por uma elite que pretendia dele fazer una espécie de Clube privativo, porém esse ideal não vingou, mas nunca deixou completamente a vertente elitista .  Aliás, sabe-se que foi aquele primitivo Clube Náutico  palco  de entusiasmados bailes, desde as 5 horas da tarde, noite fora até às tantas da manhã, nesses dias de euforia, durante a visita do Presidente Carmona, em 1938, conforme se pode ler nos escritos dos repórteres da época.

Esta a história por detrás da construção das novas instalações deste Clube Nautico ou Casino de Moçâmedes, fruto de pesquisa e de informações colhidas junto de moçamedenses antigos, que aqui deixo registada para memória futura. 



Concursos de Carnaval

Concursos de Carnaval
Baile no Clube Nautico, Casino, nos anos 1960

Um baie no Clube Nautico de Moçâmedes na década de 1960

Pós independência




MariaNJardim 

Veja tb aqui, o "Centro Náutico da Mocidade Portuguesa de Moçâmedes":

























 











17 julho 2008

Grupo de jovens moçamedenses na Praia das Miragens : 1955

















Grupo de jovens moçamedenses na Praia das Miragens.
Da esq. para a dt, reconheço:
Em cima
Dena Lopes, Lando Lopes, Joaquim Gregório, Mário Ferreira, Mário Chouriço, Armando Esteves Isidoro, José Carlos Esteves Isidoro (Zequinha) e Sena
Embaixo
Licas, José Fernando Soares, Carlos Manuel Guedes Lisboa (Lolita) Amilcar de Sousa Almeida e Gabriel.

Gente de Moçâmedes na Avenida Felner: início da década de 50


Mariazinha Pinto, Maria Emilia Ramos, Olimpia Aquino e Raquel Martins Nunes passeiam-se pela Avenida Felner, o nome, na altura dado à avenida sobranceira ao mar que passa pela Igreja Paroquial e faz a ligação entre a baixa da cidade e a Torre do Tombo.

Repare-se que a estrada nesta altura ainda não era asfaltada, e que ao fundo se pode mver algumas casas da Torre do Tombo (casas de João Duarte), bem como à dt., parte das instalações do antigo Grémio da Pesca e à dt., e mais à dt. ainda, o cano da fábrica de conservas SOS ou seja, da Sociedade Oceânica do Sul, já na descida para a praia.

16 julho 2008

Moçamedenses na Leba














































No miradouro da espectacular Leba, reconheço, entre outros da esq. para a dt., Vina e os pais Julio de Almeida e Lita Pestana. Uma das grandes maravilhas do Planalto da Huíla no Lubango. Famosa pela sua altura e sua arquitectura natural a Serra da Leba, que faz parte da cordilheira da Chela, destaca-se também pela rodovia que nela se encontra formando uma serpente. Um verdadeiro troço de via quase fatal, sem qualquer protecção. Na 2ª foto, pormenor da descidada Leba que tem uma inclinação de pelo menos 10º ao longo do trajecto. As curvas são, como se vê, todas elas muito pronunciadas. Nenhuma fotografia faz justiça à beleza e imponência do local. À grandiosidade da natureza junta-se o arrojo do homem, porque só ele para fazer uma estrada "daquelas" num sítio "daqueles".


A Serra da Leba é um gigantesco paredão que divide a região planáltica, de altitudes elevadas, para a região desértica, que fica no litoral sul de Angola, onde ficam as cidades de Moçâmedes e de Porto Alexandre.
..................
Leba nossa

Na altiva e altaneira Leba,
no seu total esplendor,
em que da Natureza o fulgor
permitiu um certo talento,
lado a lado, serra subindo,
marcasse a terra, eternizado.

zé kahango


BIMBE

No platô, para lá do paredão,
margem direita do precipício,
tiveram avós e pais vida difícil.
Muitas sementeiras de cereais,
muitas canseiras, muitos ais,
para ver crescer seu pão.

Dia após dia, cedo escurecia;
pela névoa cerrada anoitecia:
o tesouro da água de rega,
vinha lá de baixo da serra
(prodígio anti-gravitacional),
- seu pão, sua luz, o seu sal!


zé kahango

Clique AQUI para vêr, através de um slideshow que elaborei e coloquei no UTUBE, o trajecto Moçâmedes/Leba e a Serra da Leba no seu esplendor, acompanhado com música do BONGA.

As grandes calemas de 1955 em Moçâmedes









 



A zona entre o Canjeque e a Praia Amélia, "Canjeque Sul," era e ainda é a zona menos resguardada e a mais batida pelo mar em época das "calemas", que de longe em longe fustigavam a costa de Moçâmedes, por tal seria a menos indicada para a construção destas pescarias. Mas não havia muito a escolher para os proprietários deslocalizados das primitivas pescarias da Torre do Tombo, por força da construção da marginal e cais comercial.

O lançamento da 1ª pedra que deu início à construção do porto de cais aconteceu no dia 24.06.1954, por ocasião da visita do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes a Moçâmedes, e a inauguração do 1º troço foi efectuada em 24.05.1957, com a visita a Moçâmedes do Governador Geral de Angola, Tenente Coronel Horácio José de Sá Viana Rebelo a Moçâmedes, no paquete Uíge. Naturalmente foi dado um prazo para que antes do início da construção os pescadores e pequenos industraida Torre da Torre do Tombo abandonassem as suas pescarias e se deslocalizarem-se para outros locais.


Mas não foi-lhes concedida qualquer indemnização a pretexto de que as suas pescarias se encontravam estabelecidas na faixa marítima. Em nome do progresso, os pobres industriais expoliados das suas pescarias, na Torre do Tombo, tiveram que se afastar, e construir novas pescarias em locais mais afastados das suas habitações, sem qualquer ajuda, para em seguida veram inatalar-se no local onde existial algumas pescarias, a sul, a ARAN, (Associação dos Armadores de Pesca de Angola, SARL), de capitais metropolitanos. E viram a seguir chegar os arrastões a devastar os mares de Moçâmedes com uma outra forma de captura de peixe em grande escala como testemunha o site Mar de Viena . Moçâmedes tornou-se o porto base onde se passou a fazer os abastecimentos e descargas do pescado para os frigoríficos da AR, cujo homem forte, ou seja, o maior proprietário, constava-se, era o Almirante Henrique Tenreiro, que fazia parte do triunvirato Salazar/Cardeal Cerejeira/Almirante Tenreiro.

Quanto aos espoliados, estes para poderem continuar a trabalhar, sustentar suas familias, pagar os salários dos seus empregados, pagar as contribuições, tiveram, os poucos que o conseguiram, que erguer novas instalações pesqueiras, e o único local que se lhes oferecia, não muito longe das suas casas na Torre do Tombo, era a zona do Canjeque, a uns 3/4 km de distância. A zona mais a norte era excelente, mas a zona mais a sul era mais batida pelo mar e sempre perigosa em época de grandes calemas. Tiveram pois que à custa de inúmeros sacrificios e sem qualquer ajudas estatais, nem indemnizações, partir para esse solução, e foram muito poucos os que o fizeram. Aconteceu porém que um ano após a deslocalização forçada, em Março de 1955, as "calemas" foram avassaladoras, e durante dois longos dias destruiram pontes, arrancaram telheiros, partiram tanques de salga de pescarias recentemente inauguradas. Fácil será avaliar o montante dos prejuízos causados, que não podiam contar com quaisquer ajudas estatais em época de calamidades. Aliás, também a deslocalização forçada não havia dado lugar a quaisquer indemnizações.
Caberia ao Estado que deu a ordem de demolição das primitivas pescarias, zelar mais pela situação daquela gente, acautelado situações como esta, incluso deveria ter procedido antecipadamente a estudos da costa, e apontado os locais mais indicados para a construção de novas pescarias, interditando zonas não aconselháveis como esta. Mas o Estado não se preocupou tanto quanto seria de esperar com a sorte daqueles pequenos e médios proprietários que se dedicavam à faina já de si instável da pesca, mas que inda assim iam contribuindo para o engrandecimento do Distrito. Na escolha do local para a construção do cais-acostável, o Estado acautelou, dando a preferência à zona das primitivas pescarias, por ser a mais protegida das «calemas», não obstante menos espaçosa e arejada que a do Saco do Giraúl.

Outros houve que se juntaram em sociedade, compraram as instalações da antiga «Sociedade da Ponta Negra» que havia entrado em regime de falência, com dívidas de impostos ao Estado. Estes foram os únicos que tiveram algum sucesso, porque se tratava de uma zona do Canjeque mais abrigada, a norte, porém já estava lotada.
 


Perspectiva feliz da baía de Moçâmedes com as suas pescarias e profusão de barcos de pesca, tal como se apresentava antes do desmantelamento das antigas pescarias e início da construção do cais comercial e avenida marginal.


Encontravam-se aqui as pescarias de João da Carma/pai de João Martins Pereira conhecida por «Morgados», era a maior da zona; a pescaria propriedade do legado Pereira da Cruz (assim conhecido porque deixou os seus bens, incluindo as moradias que ficavam ao fundo , na continuidade da Rua 4 de Agosto, à Câmara Municipal da cidade); a pescaria de Manuel Paulo; a pescaria de Maurício Brazão; a pescaria de Óscar de Almeida; a pescaria de António Paulo ou António da Rita; a pescaria Ondina Lda (Sociedade de Matos (CTT) e Rosa (do RCM, ou Rosa da Rádio); pescaria de João Lisboa (sacada). A partir da pescaria de João da Carma até à zona próxima da Ponta do Pau do Sul, então conhecida por «Pedras», ficavam pescaria de José Pedro dos Santos (Capagalos); a pescaria de Domingos Viegas Seixal; a pescaria de Virgilio Nunes de Almeida; pescaria de Aníbal Nunes de Almeida; a pescaria de Mário dos Anjos Almeida e a pescaria de Raul Pacheco.A seguir às instalações do Sindicato da Pesca e da Fábrica de Conservas SOS, e até aos estaleiros quase a chegar à base da Fortaleza, ficavam as pescarias  do Ilha, do Manuel Teixeira (Cambuta), Manuel de Faro, 
Por esta altura, finais da década de 1940, havia também na Praia Amélia, as instalações de Venâncio Guimarães e de João Duarte; no Cangeque a Sociedade da Ponta Negra Lda. dos sócios Virgilio Almeida, António Bernardino e A. Matos; no Saco a de Torres & Irmão Lda, e outras mais pequenas que não recordo de momento..
De facto a deslocalização forçada não chegou a dar lugar a indemnização como se esperava, porém convém dizer que, para os proprietários de todas estas pescarias (cerca de dúzia e meia) , o Estado português representado nas pessoas do Ministro do Ultramar, Governador Geral de Angola, Governador do Distrito (Vasco Nunes da Ponte) e ajudado pelo Grémio dos Industrais de Pesca do Distrito de Moçâmedes e Banco de Angola mandou edificar no Saco do Giraúl uma Fábrica de Farinhas e óleos de peixe a eles destinada, com o objectivo de formar entre todos uma socieddade, a União dos Industrais de Pesca da Torre do Tombo. Ou seja, uma Fábrica mecanizada, vocacionada principalmente para a indústria de farinhas e óleos de peixe, que acabou por se revelar uma iniciativa irrealista que os pescadores de menores recursos não puderam aproveitar, ou seja, os detentores daquelas pequenas pescarias familiares, habituados a trabalhar com peixe fresco e peixe seco, sem transporte próprio, uma vez que a mudança obrigava a grandes deslocações, não tinham qualquer hipótese de aderir ao projecto. E os poucos que aderiram ao novo empreendimento no Saco do Giraúl, deslocalizados para fora da sua área, acabaram por não ter o sucesso esperado. Outros pegaram nas suas pequenas economias, não esperaram pelas indemnizações que nunca mais chegavam, e retiraram-se para o Canjeque, zona junto da Praia Amélia, mais próxima das suas habitações na Torre do Tombo, tendo alí construido as suas pescarias. Mas muitissimo poucos o fizeram por falta de condições. A maioria resistiu à deslocalização, preferiu manter as suas pequenas embarcações na baía, dedicar-se à pesca à linha e ao estremalho (*) , passando a vender o peixe em fresco para as peixarias da cidade, e bastante mais tarde, após a construção da Serra da Leba, também para a cidade de Sá da Bandeira (Lubango)´. E lá conseguiram ir sobrevivendo... Mas houve também aqueles que, não conseguindo meios para avançar, acabaram na miséria.

 Os melhor sucedidos foram os muito poucos que se deslocalizaram para o Canjeque norte, com o empreendimento «Projeque», associando-se para o efeito. A sociedade conseguiu evoluir de indústria de peixe seco para a industrialização de farinha e óleos de peixe. 

Resta referir que o Estado não indemnizou, mas prometeu criar para os deslocalizados das suas pescarias na Torre do Tombo a «União dos Industriais de Pesca da Torre do Tombo», porém este projecto logo de início não agradou à maioria, na medida em que vinha colocar problemas de vária que foram colocados pelos «novos associados» e se resumiam mais ou menos no seguinte: 

1. Entendia essa dúzia e meia de pequenos industriais  que a instalação no Saco do Giraúl de uma fábrica de farinhas e óleos de peixe para onde deveriam remeter o pescado, ficava fora de mão, e que o produto da pesca não daria para  suprir as despesas com deslocações , sendo grande a perda de tempo nas mesmas.
 
2. Entendiam que a dita fábrica, apenas com uma traineira, não seria rentável e que chegados ali os barcos para descarregarem o pescado teriam que ficar à espera uns dos outros enquanto o peixe se deteriorava.

3.Queixavam-se os pequenos industrias que era ilusória a situação que se apregoava de virem a ser sócios participantes de uma excelente unidade de indústria munida de fábrica de farinhas e óleos de peixe nestas condições.


 O Ministério do Ultramar, o Governo Geral , o Banco de Angola, o Grémio da Pesca e cerca de meia dúzia de industriais de Pesca, quase todos modestos, conjugaram as suas vontades e as suas possibilidades para resolver os problemas desses industriais cujas instalações na Torre do Tombo tiveram que ser demolidas em consequência das obras do Porto. E dai vai nascer uma importante empresa. Alguns pequenos industriais tornar-se-ão, assim, participantes, sócios de uma excelente unidade da sua indústria. Creio que, noutras condições, isso constituiria, para a maior parte deles não só uma impossibilidade absoluta como uma oportunidade com que nem se ousaria sonhar. Espera-se que esta empresa tenha um bom futuro traduzida em lucros apreciáveis. Se assim for, a própria sociedade poderá e deverá adquirir embarcações modernas, essas embarcações serão de todos e os rendimentos da sua actividade serão repartidos igualmente por todos. Esta fábrica assume ainda relevo por apontar o caminho do futuro , o caminho que a industria de pesca de Moçâmedes terá de seguir o mais rapidamente que for possível: a mecanização completa da produção dos derivados de pesca.  

São conhecidas as dificuldades que são levantadas à exportação de farinhas de Angola, pelo facto de parte do produto não ser fabricado segundo os processos mais eficientes. Ora, a industria da pesca para a qual Moçâmedes contribui com metade , ou pouco menos do valor total, é actualmente como actividade económica que interessa a grande numero de pessoas e firmas a segunda de Angola. Os valores da sua exportação revelam um progresso constante, e entram na casa ds centenas de milhares de contos. Apresenta portanto a pesca um profundo interesse geral. O Grémio da Pesca em representação dos industriais do Distrito está conduzindo negociações para assegurar a esterilização das farinha de peixe. A esterilização será um solução imediata, que razões de urgencia exigem, mas não deve fazer esquecer a ínica solução plenamente satisfatória, que consiste, repito, na integral mecanização do fabrico.Só assim a industria de pesca angolana poderá competir com outros paises nos mercados comsumidores, onde a concorrência é cad vez maior. Sei que a direcção do Grémio da Pesca e, creio , a maior parte dos industriais, estão conscientes desta verdade e dispostos a conjugar as suas energias e as suas possibilidades com o esforço, que o Estado projecta realizar para o reapetrechamento da industria. Não me pareceu porem, receosa referência ao assunto , porque mesmo a verdade, para ter a aceitação geral, tem que ser repetida muitas vezes. Mas voltemos à presente cerimónia. A ela preside a esperança e a confiança no futuro.

Dentro de alguns meses, quem passar aqui verá, no lugar deste areal, uma fábrica excelente. E dentro de poucos anos, quem aqui passar, na povoação do Saco, visitará certamente fábricas novas, depósitos de carburantes, instalações portuárias e hortas verdejantes. Na verdade, meus senhores, o desenvolvimento do Saco está ligado ao desenvolvimento de Moçâmedes. E creio que o futuro não será ávaro com Moçâmedes.» (De o «Comércio de Angola»)

A fábrica acabaria por beneficiar outros que não aqueles para quem se destinava.
A vida era muito difícil naquele tempo. Existia uma flagrante falta de capitais em Angola, e não havia onde os obter. Os créditos bancários a longo prazo não eram uma prática corrente, não havia poupança, não havia investimentos, não havia macro desenvolvimento económico. Só havia um único banco, o Banco de Angola, o emissor da colónia, com sede em Lisboa, e este não fazia empréstimos aos pequenos industriais de pesca. Era o recurso ao "agiotismo" praticado por alguns moçamedenses que lá ia suprindo as necessidades de alguns e engordando um pouquinho a carteira de outros, num negócio de trazer por casa. Angola apresentava na época uma deflação (vazio monetário) crónica. As pessoas para contornarem o flagrante vazio de moeda. e conseguiam solver os seus compromissos, recorriam a letras e sucessivas reformas. Ter-se uma letra protestada (que não foi paga dentro do prazo) era uma enorme vergonha! Mesmo na indústria de Pesca que era a base da economia citadina era comum o uso do vale onde o devedor punha a assinatura e a data para que o fornecedor/credor permitisse levantar a mercadoria e pagá-la mais tarde.
Angola não dispunha de um mercado moderno, a industria sobrevivia, mas na base de salários baixíssimos, quase um mercantilismo do século XIX, e no caso das pessoas não disporem de poupanças não só tinham uma vida complicada como podiam esperar uma velhice de miséria, ou a dependência em relação aos filhos. e este não proporcionava crédito a longo prazo, o único que fomenta riqueza firme, e não pagava juros nem às pequenas poupanças.

Não me lembro de ter conhecido em Angola um milionário que vivesse permanentemente na colónia.
A concentração de todas as decisões em Lisboa foi total durante o tempo colonial e tornou-se uma obsessão. Angola nunca teve uma simples autonomia e ai do governador que ousasse ir um pouco mais longe auscultando os asseios das populações e agindo em conformidade. Em Lisboa sempre imperou uma mentalidade de poder absoluto em relação às colónias. Os povos coloniais eram encarados como crianças que precisavam de ser tuteladas e não eram ouvidos nem achados para nada. Por outro lado, o conhecimento científico da colónia deixava muito a desejar. Todos os estudos eram efectuados em Lisboa, daí os falhanços em algumas iniciativas mesmo que efectuadas com a melhor das intenções.


Fica aqui mais esta recordação de um tempo em que a vida não era fácil em Moçâmedes e que nada tinha a ver com o que por aí se apregoava e ainda se apregoa sobre a vida dos brancos naquela «África das mil oportunidades», obviamente, pela boca de quem alí não viveu, não assistiu, nem sabe aquilo que diz... Isto não é lavar as injustiças e discriminações que recairam sobre a outra parte da população, a de origem africana, bloqueada durante séculos na sua evolução civilizacional por culpa dessa mesma política emanada da Metrópole. 
MariaNJardim
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Calema: Fenómeno natural da costa ocidental africana, caracterizado por grandes vagas de mar. A ondulação forma-se no alto-mar e a ressaca origina correntes muito fortes que, dirigindo-se para a costa, rebentam estrondosamente, provocando graves estragos.

Estremalho: técnica de pesca que funciona com uma rede com dimensões de cerca de 200/300 mts x 2,5 a 3 mts (podendo aumentar ou diminuir, dependendo das posses de cada um), com «chumbicas» na parte que fica a tocar o fundo do mar e bóias no lado oposto com força para elevar a rede de modo a mantê-la de pé formando uma espécie de parede,sem nunca ser trazida à superficie, de forma a que o peixe ao passar fique preso e impossibilitado de se libertar das suas malhas.


Nota: A sul da Ponta do Noronha, corre a Praia Amélia e o respectivo e perigoso baixio onde naufragou a escuna de guerra que lhe deu o nome. Sobre o baixo Amélia onde com bom tempo se vêem numerosas barcos em plena faina pesca, na época de calemas erguem-se alterosas vagas de rebentação com capelo assustador.

Fotos inéditas do meu album de recordações.
 
Clicar para ver as primitivas pescarias, na Torre do Tombo
 

Riquita, a jovem moçamedense que foi Miss Angola e Miss Portugal em 1971



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Para ver e saber mais sobre a eleição de Riquita, Miss Portugal 1971, clicar AQUI
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15 julho 2008

Jovens moçamedenses



Deste grupo de jovens, cinco dos quais de uma geração já nascida em Moçâmedes, e filhos de pais também ali nascidos no início do século XX, reconheço, da esq. para a dt.: Julio Eduardo de Almeida (Juju), José Carqueja (Zeca), Manuel Dias Monteiro (Necas), Carlos Manuel Guedes Lisboa (Lolita), Amilcar de Sousa Almeida e Norberto Edgar Almeida (Ganguelas). 

Júlio Eduardo Almeida (1ª), Manuel Dias Monteiro (3) e Amilcar de Almeida (5), partiam nesse dia, em 1956 a bordo do navio «Pátria»,  para a Metrópole, onde iam prosseguir os seus estudos, e onde se licenciaram em Engenharia, Medicina e Direito, respectivamente. Os dois primeiros regressaram a Angola, já com  a formatura em Engenharia e em Medicina. Amilcar formou-se em Direito, casou na Metrópole e por lá ficou, como  Conservador e posteriormente como Notário.  Júlio regressou a Angola após o 25 de Abril, e fixou-se em Luanda após a independência, onde foi governante e deputado. Manuel foi professor e médico no Hospital Universitário de Luanda.  José Carequeja nunca saiu de Angola,  Carlos Manuel Guedes Lisboa em meio a futuro brilhante como empresário, foi arrancado precocemente à vida. Norberto Edgar Almeida acabou por se fixar em Portugal,  onde foi bancário. 
 
Nesta altura, os jovens que viviam em Angola, se quisessem ingressar numa Universidade, tinham que o fazer na Metrópole (Lisboa, Coimbra ou Porto), uma vez que Salazar por nada deste mundo queria os habitantes de Angola muito cultivados, como não queria Angola economicamente muito desenvolvida. O trauma da independência do Brasil levou-o a recear que os filhos brancos de Angola se afeiçoassem à terra e juntamente com os negros levassem o território à independência. Havia a ideia assumida de que Portugal deixaria de ser um país europeu independente, sem as colónias, pelo que havia de defendê-las a todo o custo. O grande desenvolvimento da colónia só veio a ter lugar após 1961,  46 anos após a demarcação definitiva das fronteiras do território, e já numa conjuntura de conflito com os movimentos independentistas, que não augurava nada de bom para o futuro do Portugal colonial.

Ano ano em que tudo começou a mudar em Angola, 1961, aconteceu também a grande explosão do ensino que parecia atirar para longe aqueles tempos em que a História do Ensino nas colónias era feita de impedimentos calculados,  e aos mais variados níveis. Alguns desses impedimentos muito prejudicaram os nossos estudantes que pretendiam ingressar numa Universidade, ou pelo menos prosseguir os estudos até ao 7º ano liceal.

Para citar o caso de Moçâmedes, persistia a ideia retrógada herdada do século XIX, de que a escola pública deveria realizar uma reprodução social e cultural, ideia que levou as autoridades portuguesas a entenderem que Moçâmedes, considerada que sempre fora uma cidade essencialmente voltada para as coisas do mar, não deveria possuir uma instituição liceal, bastando proporcionar à sua juventude estudos práticos secundários, considerados mais adequados ao meio, apenas ao nível do curso geral. 

Isto quer dizer que quando um aluno completava os estudos ao nível do 5º ano da Escola Prática de Pesca e Comércio de Moçâmedes, ou mais tarde nas Escolas que lhe sucederam, Escola Comercial e Industrial de Moçâmedes e Escola Industrial e Comercial Infante D. Henruique, até 1961 não tinham qualquer chance de  entrar numa Universidade, porque em Moçâmedes não havia um Liceu. E mesmo se houvesse um Liceu, em Angola não havia uma Universidade. Os estudos liceais surgiram em Moçâmedes apenas em 1961, eram considerados propedêuticos ao ensino superior, e destinar-se-iam aos futuros candidatos a uma Universidade na Metrópole, pelo que até então um estudante moçamedense, aos 10 anos de idade, completado o primário, teria que frequentar o Liceu existente na cidade mais próxima, o "Diogo Cão", em Sá da Bandeira, a expensas familiares e quase sempre com grandes sacrifícios,  ficando internado nos Maristas, ou alojado numa qualquer pensão daquela cidade. 

Reduzidos a estudos práticos secundários, considerados mais adequados ao meio, e apenas ao nível do curso geral, sem um Liceu até 1961, houve ainda assim alguns estudantes que se transferiram para a vizinha Sá da Bandeira onde completaram o 7º ano,  e em seguida ingressaram numa Universidade Metropolitana, mas eram excepções. A 1ª Universidade  de Angola, em Luanda, só veio a ser criada em 1969. Esta situação caia em prejuízo dos estudantes das colónias e sobremaneira prejudicava os filhos aqueles que viviam na cidade de Moçâmedes, cerceava-lhes o impulso para a progressão nos estudos, e a realização de carreiras futuras.

Como poderia um jovem habilitado com o 5º ano da Escola Prática de Pesca e Comércio de Moçâmedes, vencer todas essas barreiras e ingressar numa Universidade metropolitana? 
Amilcar fala-nos da luta que travara, impulsionado pela vontade indómita em prosseguir os estudos, a partir do 5º ano da Escola Prática de Pesca e Comércio de Moçâmedes, para conseguir entrar na Faculdade de Direito em Lisboa, uma vez que desde que completara o secundário naquela escola  só havia encontrado barreiras e mais barreiras.  Não se permitia que se transitasse de um curso - o comercial- para o outro - o liceal-. Na época, havia uma grande discriminação entre alunos da Escola Comercial e dos Liceus. Eram compartimentos estanques. Os alunos do Curso Comercial eram os patinhos "feios" e os do Liceu do Lubango os meninos "bonitos".  "Tornou-se imperioso lançar um forte movimento para a criação da Secção Preparatória para os Institutos Comerciais na nossa escola, requerendo ao poder colonial de Lisboa a sua instalação para que essa habilitação fosse possibilitada aos moçamedenses..."   "...Foi quando já estava a trabalhar, tinha 16 anos de idade, liderei uma petição  nesse sentido  ao" poder colonial de Lisboa  para que a "Secção Preparatória para os Institutos Comerciais" fosse possibilitada aos moçamedenses. A iniciativa, com grande apoio dos diplomados da Escola, teve sucesso e veio a começar a funcionar pela primeira vez no ano lectivo de 1955, em regime de horário post-laboral.  Esta habilitação permitiu-nos o ingresso  no Instituto Comercial de Lisboa, mas apenas era possível prosseguir os estudos na área de Economia e Finanças também em Lisboa.  Tivemos a honra de ser o primeiro aluno da Escola a frequentar aquele  Instituto que funcionava no palacete da Rua das Chagas. "

Este este foi apenas o início de uma luta visando vencer toda a série de condicionalismos, que lhe dificultava a caminhada, uma vez que mais que pretendia licenciar-se em Direito e não  em Económicas e Financeiras. Toda a sua luta não lhe conferira ainda a equivalência ao exigido  7º ano Liceal, apenas ao 5º ano. Foi então que surgiu essa oportunidade e,  entre frequências nocturnas de aulas e explicações, habilitou-se e conseguiu a muito desejada equivalência ao 7º ano liceal que lhe permitiu, finalmente, ingressar na Faculdade de Direito de Lisboa.    

Como referiu Álvaro Ribeiro: "Não esqueçamos (...) que a palavra «Liceu» pertence à tradição aristotélica, porque está associada ao culto de Apolo, príncipe das nove musas e à vitória da humanidade sobre a animalidade. Não é a técnica nem a ciência o que humaniza o homem, e se (...) o liceu não deve ser mais do que um colégio das artes, temos de concluir (...) pela afirmação de que o liceu nada será se não cultivar a mais alta e difícil das artes, que é a de filosofar". 

Moçâmedes só teve o seu Liceu em 1961, e Angola só teve uma Universidade, e apenas para alguns cursos, em 1969.  Alguns estudantes moçamedenses, depois de terem adquirido o 7º ano Liceal em Sá da Bandeira, conseguiram ingressar numa Universidade na Metrópole, mas eram poucos. Outros foram estudar para a África do Sul.  Outra saída era a Escola de Regentes Agrícolas do Tchivinguiro.

Na verdade foram grandes as barreiras e inúmeras as dificuldades, é certo, mas os «cabeças de pungo» tinham já por toda a Angola fama de gente vivaz, inteligente e capaz, que por via dos seus cursos, fossem gerais,  médios, ou para uns poucos, os cursos superiores, atingiam cargos de prestígio, não só os que partiam da sua terra em busca do ideal, e acabavam por ficar lá fora, também os que regressavam e aqueles que nunca partiram e ali permaneceram, trabalharam e se projectaram como proprietários nas áreas da agro-pecuária, comércio e indústria, e se evidenciaram no campo profissional em  postos na função pública, e na Banca, onde inúmeros filhos da terra ascenderam à categoria de Gerentes e Inspectores.  Mas a Meteróple sempre olhou os filhos brancos de Angola com suspeição, e sempre impediu que ascendessem a lugares cimeiros na administração das colónial.  O desbloqueio dsta situação veio tarde e a más horas!

Sobre o Liceu de Moçâmedes, o Liceu Almirante Américo Thomás, lembro-me perfeitamente do dia em que o Professor Adriano Moreira, então Ministro do Ultramar, de visita ao Distrito, no decurso de uma manifestação nocturna junto ao Palácio do Governador com gritos de ordem: queremos um Liceu!...queremos um Liceu!.. veio à varanda do Palácio dizer simplesmente à multidão: o Liceu de Moçâmedes chama-se «Liceu Almirante Américo Thomás». Estávamos em 1961, foi uma manifestação preparada, a decisão já estava tomada, mas ainda bem, finalmente tínhamos alcançado o direito ao nosso Liceu, ainda que numa 1ª fase apenas ao nível dos estudos gerais liceais.
Quanto à Universidade em Angola, como referiu Helder Ponte, no seu site (1):

 «Em Angola, embora os Estudos Gerais Universitários fossem fundados em 1962, a Universidade de Luanda em 1969, ministrava somente em Ciências, Engenharia, Medicina, e História, e era notória a falta em Angola de uma Faculdade de Direito e uma de Economia. O governo português era naturalmente adverso a esses desejos, e assim resistiu durante anos em autorizar que esses cursos fossem leccionados nas colónias. Contudo, em 1969, um grupo de alunos (que nós chamávamos Comissão Instaladora do Curso de Economia da Universidade de Luanda) finalistas do Liceu Salvador Correia (do qual eu fazia parte), de finalistas do Instituto Comercial de Luanda, e um número de alunos militares, resolveu concentrar energias no sentido de convencer o Governador Geral Coronel Rebocho Vaz e o Reitor da Universidade de Luanda Professor Ivo Soares da necessidade de se criar imediatamente uma faculdade de economia na Universidade de Luanda. Para nosso espanto, o nosso pedido foi ouvido, e em Agosto de 1970, o Curso Superior de Economia foi estabelecido em Luanda (e em Lourenço Marques (Maputo), Moçambique), e moldado segundo o modelo do Curso Superior de Economia da Universidade do Porto. Em Portugal. os estudantes moçamedenses estiveram ligados à Casa dos Estudantes do Império, na Avenida Duque d’ Ávila em Lisboa, Casa financiada pelo governo português que tinha a função de apoiar os estudantes vindos das colónias e ao mesmo tempo a de controlar as suas actividades. Fundada em 1944, a Casa dos Estudantes do Império para além de um refeitório, fornecia assistência médica e promovia actividades culturais e desportivas. Frequentada também por brasileiros, era, no entanto, o local onde se juntavam os estudantes das diversas colónias – (Cabo Verde e Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Estado da Índia, Macau e Timor), com especial realce para os das colonias de África. A Casa dos Estudantes do Império cedo se converteu num autêntico alfobre de nacionalismo(s) africano(s) e foi definitivamente encerrada pela PIDE em Setembro de 1965, durante o período de férias.» /




Voz Minha


Oh! Voz minha não te cales,
pelo ardor do meu coração!
Que sejas Lança, sempre fales
- que me ilumines a escuridão!
De volta ao tempo clandestino,
voltou a "apagada e vil tristeza";
resta-me só a Lança da Pureza:
este puro coração de menino...
Já que a chama se apagou,
nesta jornada discreto vou,
e sigo à sombra dos anões...
Ficando nas trevas os dias,
fúteis vaidades e honrarias,
chegue a Lança aos corações!


Editado por José Jorge Frade


MariaNJardim 




(1) in http://hffponte.blogspot.com/
: