Este é um blog saudoso, NÃO SAUDOSISTA, e partiu da ideia de partilhar com todos aqueles que nasceram e viveram em MOÇAMEDES (Angola), hoje NAMIBE, e que se encontram dispersos pelo mundo, um conjunto de imagens e descrições, que os faça recuar no espaço e no tempo e os leve a reviver lugares, acontecimentos e gentes de um outro tempo vividos numa bela e singular cidade, nascida entre o deserto e o mar...
21 julho 2009
Grupo de jovens de Moçâmedes
Mais um grupo de jovens moçamedenses posando para a posteridade junto a um dos tanques do vasto jardim da Avenida da República, a sala de visitas de Moçâmedes. Ao fundo o prédio onde esteve nas décadas de 40/50, os Armazéns do Minho e nos anos 60 um Banco Comercial.
Quem são?
Da esq. para a dt.: Carapanta, Júlio Victor, Wanda Madeira e os irmãos Ferreira da Silva (Cocas e Dudu). Data provável: 1957
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Jovens da nossa terra que o destino separou!
Dedico-lhes esta crónica escrita pela nossa conterrânea, poetisa e jornalista Vera Lúcia :
CRÓNICA
Cada homem já foi menino. Já teve um cavalo de fogo, galopando pelos céus, até paragens sem nome. Um cavalo de sol, sem arreios, sem crinas, galopando, hoje, para o sul, amanhã para o norte, numa ânsia louca de aventuras, numa busca esperançosa de algo. De quê? E com o decorrer dos anos, em cada galopada, qualquer coisa ficava pelo caminho. O corcel das nuvens, viajando sem destino, era os sonhos, o terrífico sabor da procura do desconhecido.
Mas o menino foi crescendo. E o cavalo de fogo, passou a ser um simples cavalo de pau, de olhos desbotados de cartão e crinas desfiadas…Era o fim da sua história. O ‘nunca mais’ de cada infância. Porque cada menino que cresce, chama-se homem. E embora todos os homens tivessem sido meninos, tivessem galopado em cavalinhos de pau, esquecem-se de tudo isso. Perdem todas as recordações. Delas nada fica: nem um cheiro, um ruído, uma cor, um sonho. Separam-se como folhas secas soltas ao vento. Seguem, errantes e indiferentes, sem olhos para ver o sol ou a lua, sem mãos para se estenderem a quem passa, imersos numa névoa que os separa.
Porém para lá da bruma, que ficará? Crinas desfraldadas em galopadas sem direcção? Corridas por valados e banhos em ribeiras escondidas? Que importa, afinal, sabê-lo?
Porque na hora de o sabermos, já os homens têm as mãos feridas pelos espinhos, já seguiram separados, levando na alma cicatrizes que lhes ficaram pelos caminhos andados.
É pena que o menino cresça. E como um vento furioso, a vida sacuda as raízes da sua alma, da alma onde outrora morava um cavalo de fogo. Um cavalo magoado que foi morrendo, como um lírio de paixão, negro como um céu sem estrelas. O cavalo de todos os meninos, o cavalo das ilusões.
(Vera Lúcia de Pimentel Teixeira Carmona, escritora e poetisa moçamedense, )
03 junho 2009
Carnaval no Recreativo de Porto Alexandre (actual Tombwa)

Carnaval 1961 no Recreativo de Porto Alexandre.
Na 1ª foto:
Os quarto amigos inseparáveis, sempre prontos para a paródia : Eduardo Faustino, Manuel da Silva, Abel Lopes e Álvaro Faustino.Ver mais AQUI
Na 2ª foto, reconheço entre outros, Manuela Lopes e Jorge Maló de Almeida (em 5º e 6º, em cima), à dt., Arlete Pereira. Embaixo, à dt. João Cabral Coimbra.
Se alguém reconhecer mais alguém, agradecia que entrasse em contacto através de «comentários». Muito obrigada.
29 maio 2009
Desporto automóvel em Moçâmedes: Henrique Ahrens de Novais, o campeoníssimo


Na 1ª. foto: Henrique Ahrens Novais no pódio, após ter vencido o circuito automóvel das Festas do Mar 1969. A seu lado Corte Real Pereira e Silveira Machado, os dois pilotos que ficaram em 2º e 3º lugar.
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Finalmente o Porsche 904 com o qual começou a espalhar o seu "perfume" por toda a Angola começando aí a ganhar o respeito e admiração não só de quem assistia, mas também dos seus próprios adversários. É para mim inesquecivel, numa prova onde apareceram o Nicha e o Carlos Santos em Luanda, a foto do Novais sentado junto á trazeira do 904 com a cabeça entre os joelhos e a ser confortado pelo seu amigo e mecanico se sempre, Abel. Muito mais havia para se dizer deste pioneiro do automobilismo angolano que chegou a ser apelidado de "dragão da regularidade" não só por fazer volta a volta com tempos muito aproximados, mas também por fazer as passagens de caixa precisamente nos mesmos sitios.»
Luis Bacharel in Mazungue
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«Nome inesquecivel no automobilismo angolano. Na fase de puro amadorismo foi realmente o maior e melhor corredor angolano.Refiro-me aos anos de 60/70 ,portanto antes do aparecimento das equipes patrocinadas pela BMW e Alfa... Começou num simples VW que deixava todos os outros carros a KM de distancia..Foi o 1º carro que vi meterem umas pastilhas nos cubos das rodas de traz só para alargar o rodado ,o que lhe dava uma estabilidade incrível para a altura. Assim como também foi o 1º a aparecer com as bocas do escape mais largas.Nada disso hoje é relevante mas para a época era revolucionario.Correu em varios carros:o VW,um LOTUS ELAN,um MGA que era lindissimo,um PORCHE antiquissimo que ja nem me lembro do modelo e depois em varios PORCHES por fim no belo PORCHE 904 GTS.Esta marca era a paixão dele.Aliás foi num belissimo 911 que teve o enorme desastre e que pôs fim a sua carreira. Morreu em Setúbal em Fevereiro de 1996.»
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«Esta figura do automobilismo angolano, ficou para sempre conhecida pelos sucessos que teve ao volante de um carro raro e lindíssimo: o Porsche Carrera GTS 904.
Sobre este carro, muito se tem pesquisado e escrito, mas poucos conhecem a verdade do seu percurso.
Já se disse (por exemplo) que correu em 1965 com Stommelen em Le Mans, mas tudo indica que o carro provinha de um particular do centro da Europa.
Levado para Angola (em 1967 ?), manteve a antiga matrícula até chegar a Gil Morgado, creio, em 1971.
Henrique Ahrens Novais, como se vê, teve uma predilecção pela máquinas saídas do génio dos Ferdinand Porsche. Também correu com um 356.
Asperezas
A consultar:
Memoria recente e antiga
SportsCar
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...«Quando vivi em Moçâmedes não perdia uma corrida. Eu e o meu pai ficávamos na Fortaleza e viamos ao longe a recta da meta (a avenida marginal). Depois os carros viravam à esquerda, subiam uma grande rampa, muito inclinada, novamente à esquerda, passavam em frente à Igreja de Sto Adrião, o "S" do tribunal, sempre a descer ... curva à esquerda, capitânia,.... e novamente recta da meta. Adorava ver aquelas corridas. Velhos tempos dos Coopers, NSU TT, Ford Capri, Lotus, etc, etc. A grande disputa era entre o Novais (um moçâmedense de "gema") e um "forasteiro" chamado Herculano Areias. O Novais tinha um Lotus Elan S3 e o Herculano Areias um Lotus .. , um louts ..., bem era diferente, mais potente, mas o Novais algumas vezes ganhou ao Herculano Areias. O ppl de Moçâmedes torcia pelo "nosso" Novais. Era o nosso fã. E nas corridas que faziamos com carrinhos "Dicky Toys" lá tinha que haver um Novais. O problema era que todos queriam ser o Novais. Escusado será dizer que havia uns amassos, mas chegava-se a acordo, que um seria o Novais e os restantes, os outros. ....»
in
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JORNAL DE ANGOLA,Dez.59.TITULO: 1º RALLYE AUTOMOVEL DE BENGUELA,reuniu o maior numero de "volantes" de quantos se realizaram já em ANGOLA e foi presenciado por milhares de benguelenses,constituindo o maior e mais emocionante acontecimento desportivo que a cidade viveu já!.(Um aparte para dizer que este rallye coincidiu com a inauguração do HOTEL MOMBAKA,onde ficarm hospedados todos os concorrentes de fora de Benguela)Inscreveram-se 61 concorrentes e a classificação final foi.
1º AHRENS de NOVAIS (Moçamedes)-WOLKSWAGEN
2º M.M.FRAGOSO (Sa da Bandeira) -VOLVO Marreco
3º OLIMPIO RESENDE (Sa da Bandeira)-FORD
4º ALTINO FRAGA (Lobito) -WOLKSWAGEN
5º CAMÕES ARAUJO (Sá da Bandeira)-FORD V8
6º SERGIO GARCÊS (Benguela) -MG
7º EURICO L.ALMEIDA ( Benguela)-WOLKSWAGEN
8º SANCHO SANTOS (Benguela)-SAAB
9º JOSE L:ALEXANDRE (Benguela)-OLDSMOBILE
10ºJOSE PEDRO BAULETH (Moçamedes)-FIAT 1200.
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IX Circuito da Fortaleza - Luanda
1º - Ahrens Novais - 904gts
2º - Silveira Machado - Lancia 1.3 HFR
3º - Corte Real Pereira - Lancia 1.3 HFR
4º - Carlos Conde - Cooper S
... etc
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Trata-se de uma prova de velocidade complementar do I Grande Rallye de Angola, ano 57. Na prova de velocidade o VW fica em posicões secundárias mas acaba arrebatando o troféu ao final de 2000 km percorridos. Ao volante, Ahrens de Novais.
Henrique Ahrens Novais
A consultar:
Memoria recente e antiga
SportsCar
LUANDA Maio de 1968: IX Circuito da Fortaleza Muito público assistiu a esta edição do Circuito da Fortaleza que viu 23 carros à partida de uma única manga onde se misturaram carros de Turismo e de Sport. O favorito ao triunfo era o Porsche 904 GTS de Ahrens de Novais, na época o melhor carro que corria na antiga Província Ultramarina de Angola. Durante algum tempo acalentou-se a esperança de que chegasse a tempo o Lotus 47 que Fausto de Figueiredo tinha adquirido no Continente a Mané Nogueira Pinto, mas gorada essa expectativa, o interesse da corrida passou a centrar-se na disputa do segundo lugar da geral, visto o primeiro estar por suposta antecipação entregue ao piloto do 904 GTS. E de facto assim sucedeu, pois Ahrens de Novais arrancou à frente e não mais deixaria o comando até ao final das 100 voltas ao circuito de 1832 metros. A seguir ao Porsche ficaram os dois Lancia Fulvia preparados na fábrica, de Silveira Machado e de Corte Real Pereira que acabaram por se impor aos Lotus Elan (que viriam a desistir por problemas mecânicos) e aos Alfa Romeo GTA.
Partida: Ahrens de Novais impôs a maior potência do Porsche e afastou-se rapidamente do enquadramento da foto. Na imagem podemos ver o Lotus Elan S2 de Francisco Barbosa, tendo atrás de si o Ford Cortina Lotus de António Lacerda. Mais à esquerda, na primeira linha da grelha (cada linha tinha 4 carros) vemos o BMW 1600 de Victor Rodrigues, o Alfa Romeo GTA de Fernando Pinhão (vindo da segunda linha da grelha), o Lancia Fulvia 1.3 HSR de Silveira Machado (um carro preparado na fábrica) e, mais atrás, o BMC Cooper S de Carlos Conde e o Abarth 1000 Corsa de José Teixeira.
O Porsche 904 GTS de Ahrens de Novais, vencedor do Circuito da Fortaleza de 1968
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Esta a minha homenagem a esse grande senhor do nosso automobilismo. HENRIQUE AHRENS NOVAIS acabaria por ser vitimado por um desastre automóvel quando se encontrava em passeio na região da Huíla, tendo a partir daí se afastado defitivamente das lides automobilísticas, nas vésperas da descolonização de Angola. Morreu em Setúbal em Fevereiro de 1996.
27 maio 2009
Gente de Moçâmedes: a Família Madeira


1ª foto:
Nesta foto, reconheço, entre outros, da esq. para a dt., à frente: Fernanda Lourenço, Mitsi Aboim, Sónia Madeira, e um pouco atrás, o industrial José Prazeres Madeira junto da irmã e mãe, o casal Mª de Lourdes P. Infante da Câmara e Carlos Teixeira. Retirada de Sanzalangola.
2ª foto: Reconheço, entre outros, da esq. para a dt., à frente: Fernanda Lourenço, Mitsi Aboim, Sónia Madeira... Ao centro e atrás: Prazeres Madeira junto da irmã e mãe, o casal Mª de Lourdes P. Infante da Câmara e Carlos Teixeira. Retirada de Sanzalangola.para ser lançada ao mar, reconheço a familia de Prazeres Madeira: esposa Aida e os filhos, Paulo Madeira, Sérgio Madeira, ?, Ruth Madeira, Sónia Madeira. e à esq. Gaspar Gonçalo Madeira.
Foto: Sansalangola (LaySilva)
Fica aqui mais esta recordação de gente que viveu num outro tempo naquela que foi a minha terra natal!
24 maio 2009
Piquenique nas Hortas de Moçâmedes


1ª foto:
Piqueniques como este eram muito comuns aos fins de semana, na década de 50 em Moçâmedes. É um entretenimento que consiste na realização de uma refeição ao ar livre, como um lanche ou almoço. Geralmente os lugares escolhidos eram as várias Hortas existentes nas margens do rio Bero, mas também se faziam piqueniques na Praia Amélia ou em outras praias de Moçâmedes e do distrito. Fossem nos campos ou nas praias, era sempre uma oportunidade para vários elementos de uma mesma familia, ou de várias familias e amigos, se juntarem, confraternizarem e fruirem do prazer do contato com a natureza, fosse ela marinha ou campestre. Consulte também: GENTE DO MEU TEMPO.: Passeio domingueiro às Hortas do Torres, em Moçâmedes
2ª foto:
Reconheço nesta foto, da esq. para a dt, de pé: Lalai Jardim, Nide e Claudete Figueiredo?
Sentada reconheço Júlia Castro (a 3ª à dt). Tudo gente do Atlético Clube de Moçâmedes, basquetebolistas ou adeptas do clube.
Outros piqueniques nas Hortas de Moçâmedes: clicar AQUI
QUEM QUER COMPRAR ?
Quem quer comprar pitanga
Tamarindo. goiaba,
Quem compra manga, doce manga
- Tem também meu corpo - quem paga ?
Maboque, múkua, papaia,
Mirangolo - que faz doce de gostar.
Compra, compra a fruta de mucaia
Que também se vende. - Quem me quer comprar ?
Sabor a fruta - nocha, abacachi,
Tabaibo, abacati - o meu corpo tem
Me compra meu senhor, leva p'ra ti
Toda esta dor de me vender também.
Compra a frescura, o viço, a mocidade
De quem se vende, como eu me ofereço;
Compra senhor a atroz necessidade
Da vendedeira que também tem preço.
Poema tirado do livro CIDADE E SANZALA de Eduardo Brazão, Filho - Mossungo
(Natural de Moçâmedes e ali falecido em 16-02-02)
13 maio 2009
Desporto automóvel em Moçâmedes: o grupo «Os Keko's»





Este é o grupo «Os Keko's». Foi aqui que tudo começou. Reuniões com amigos na garagem da casa de Jorge Maló de Almeida, aos fins-de-semana. O pai, o tio Ângelo de Almeida, estava proibido de usar a garagem.
2ª foto: Jorge Lopes, Jorge Maló de Almeida e Mário João de Sousa.
3ª foto: Jorge Maló de Almeida
4ª foto: idem, em Novembro de 1967
(2º lugar da Classe A)
5ª foto: Rally do Radio Clube de Moçamedes
Novembro de 1967
Fotos gentilmente cedidas por Manuela Lopes
Manuela estou à espera de acrescentar aqui um pequeno texto sobre o Jorge e o desporto automóvel. Preciso da tua ajuda!
Consultar também MOÇÂMEDES MEMÒRIAS DESPORTIVAS
10 maio 2009
Moçamedenses da Torre do Tombo no tempo das antigas pescarias, em Moçâmedes...
Ao fundo, o famoso «morro das inscrições» ou morro da Torre do Tombo onde se encontram as famosas «grutas» que serviram de abrigo aos primeiros mareantes que em tempos remotos por ali passaram. Por detrás podemos ver a ponte de uma das pescarias e à esq., a meio do morro, a casa de João Martins Pereira (morgado). Chamavam «morgado» porque o terreno que a mesma ocupa fora concedido ao seu proprietário por concessão régia. Ainda hoje esta construção ali se encontra resistente à voragem do tempo, e bem merecia ser preservada como património histórico-cultural que representa. Na praia podemos ver um jovem que ali se banhava como era costume na época.
Este, o lado das pescarias que encurva na direcção da Ponta do Pau do Sul ou Noronha...
De entre as famílias estabelecidas com pescarias em Moçâmedes, a residir na Torre do Tombo, destacava-se, até finais dos anos 1940, a família de João Duarte, não apenas porque se tratava de uma família que conseguiu vencer no ramo com a sua pescaria na Praia Amélia, dedicada ao fabrico de farinha de peixe e guanos, como no comércio, e também pela sua extensão. Quase todos os familiares trabalhavam para a empresa. Seguem algumas fotos que recordam gentes desta família e de outras que viveram na Torre do Tombo, nos anos 1940 e 1950, mesmo até aos anos 1960, quando começaram a mudar.se para as bonitas vivendas que começaram a ser erguidas na cidade, obra da Sociedade Cooperativa "O Lar do Namibe", através de pequenas quotizações, uma vez que não havia crédito bancário à habitação própria, e a maioria eram trabalhadores por conta de outrém, que trabalhavam na industria de pesca e no comércio e serviços.


Vae também: Moçâmedes ... Mossãmedes do antigamente...: A indústria de Pesca em Moçâmedes